Ethos também esteve em Havana, Cuba, para ministrar oficinas a respeito de desenvolvimento sustentável e de indicadores de negócios sustentáveis.

Por Jorge Abrahão*

Diversas organizações sem fins lucrativos da América Latina com atuação no meio empresarial vêm trabalhando com o conceito de responsabilidade social. Independentemente da estrutura, da estratégia ou do contexto em que estão inseridas, tais organizações têm exercido um papel fundamental e colaboraram para importantes avanços em questões políticas, sociais, ambientais e econômicas em seus respectivos países. Na trajetória da maior parte delas, o compromisso está em estimular as mudanças necessárias nos cenários atuais, de maneira a beneficiar as gerações futuras, e em exercer na prática o caminho em direção ao desenvolvimento sustentável.

Em 2008, a contribuição de algumas dessas organizações ganhou um novo e importante patamar. Unidas pelo objetivo comum de fortalecer o movimento de responsabilidade social empresarial (RSE) na América Latina e de trocar experiências e informações, elas deram vida a uma iniciativa que tinha como pressuposto um trabalho articulado, interdependente e repleto de desafios e oportunidades: o Programa Latino-Americano de Responsabilidade Social Empresarial (Plarse), que permitiu trocar experiências e conhecimentos sobre sustentabilidade e responsabilidade social empresarial por toda a América Latina.

Durante a permanência do programa, que deixou de existir formalmente em 2011, foi lançada a versão em espanhol dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social. E foi também possível, nesse período, estabelecer parcerias com entidades que atuam na gestão das empresas no sentido da transformação social, como o Ethos. Uma das mais atuantes é o Instituto Argentino de Responsabilidad Social Empresaria (Iarse).

Fundado em 2002, com sede na cidade de Córdoba, o Iarse tem a missão de promover e difundir o conceito e a prática da RSE para impulsionar o desenvolvimento sustentável na Argentina. Tem realizado conferências de sustentabilidade no país que contribuem para aprofundar os debates sobre os temas e a agregar mais empresas ao movimento em prol do desenvolvimento sustentável.

O Iarse também traz muitos representantes de empresas argentinas para participar da Conferência Ethos, em São Paulo e promove em Buenos Aires sua própria conferência anual.

E está realizando hoje, 21 de maio, em Buenos Aires, em parceria com a AmCham Argentina, a 1ª. Jornada Internacional de RSE e Sustentabilidade, com a presença de líderes de empresas argentinas, brasileiras e multinacionais, bem como de membros do governo argentino e de representantes da sociedade civil.

O Instituto Ethos teve uma participação ativa agora pela manhã, porque lançamos os Indicadores Ethos-Plarse-Iarse, versão em espanhol dos Indicadores Ethos de Negócios Sustentáveis e Responsáveis. Esses indicadores serão a ferramenta que as empresas locais e de outros países latino-americanos vão usar para fazer o diagnóstico de sua gestão e plano de ações. Essa versão dos Indicadores também traz uma novidade – o relato –, que converte as respostas dadas ao questionário em textos, tabelas e gráficos, nos quais é possível escrever comentários sobre o desempenho, estabelecer pontos de melhoria e definir compromissos com as partes interessadas.

RSE em Cuba

Outro evento relevante de que o Ethos participou ocorreu em Cuba. A ilha passa por transformações interessantes. Precisa renovar a economia, criando mais oportunidades – e riqueza – para todos. Por isso, aposta no empreendedorismo privado, algo que já fizera em 1995. Naquele ano, com o fim da União Soviética, o governo cortou empregos estatais ou concedeu licenças sem remuneração para que funcionários se dedicassem a atividades privadas. Com a crise internacional, o turismo, que trazia muitos dólares ao país, sofreu forte queda e Cuba precisou aprofundar esse modelo “capitalista”.

O que está mudando na ilha

Entre outras coisas, o Partido Comunista Cubano deixa a direção da economia, que será responsabilidade do Estado. Além disso, o Estado vai descentralizar as decisões em todos os níveis possíveis e, com isso, corrigir desperdícios e cortar custos. Haverá um planejamento central que dará as linhas-mestras para investimentos estatais e iniciativas individuais. Ou seja, o cidadão será o “motor” do desenvolvimento e, para isso, haverá forte estímulo ao empreendedorismo e à constituição de “negócios próprios”.

Assim, como grande novidade dessa transformação, Cuba já está convivendo com o trabalhador autônomo, que poderá abrir pequenos negócios (não empresas) e associar-se com outros trabalhadores autônomos em cooperativas ou arranjos produtivos para compra e venda de serviços comuns, como mecânicos, encanadores, eletricistas, manicures, costureiras, seguranças, faxineiros, garçons etc.

Está prevista a demissão de 1,3 milhão de funcionários públicos. Desse total, 500 mil já foram demitidos e receberam concessão comercial do Estado para exercer essas novas funções por acordo direto com o comprador dos serviços.

O que o Ethos foi fazer em Cuba

A convite da Associação Nacional de Economistas e Contadores de Cuba (Anec), o Instituto Ethos esteve em Havana para ministrar palestras sobre desenvolvimento sustentável e também oficinas a respeito dos Indicadores Ethos de Negócios Sustentáveis e Responsáveis para funcionários de empresas estatais, cooperativas e trabalhadores por conta própria. O objetivo é contribuir com o processo de construção do plano de desenvolvimento de indicadores de desenvolvimento sustentável para a economia cubana e identificar as organizações que estarão envolvidas na promoção e divulgação desse plano na sociedade.

Por esses dois exemplos é possível constatar que a aplicação dos Indicadores Ethos de Negócios Sustentáveis e Responsáveis vai ganhando o continente latino-americano.

* Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.