Por: Marcela Greggo, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos 

Hoje, a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013) completa 12 anos. A data representa um marco fundamental na responsabilização de empresas por atos lesivos à administração pública e convida à reflexão sobre o amadurecimento da agenda de integridade no país. Para o Instituto Ethos, esse debate precisa ir além da conformidade legal, incorporando os grandes desafios contemporâneos — como a crise climática, as desigualdades sociais, as violações de direitos humanos e os impactos socioambientais das cadeias produtivas. Em um cenário cada vez mais complexo e interconectado, promover integridade significa também promover responsabilidade, justiça e compromisso com o interesse público. 

Com essa visão ampliada, o Instituto Ethos lançou o documento “Integridade Socioambiental”, fruto do trabalho coletivo do Grupo de Trabalho de Integridade. A publicação propõe uma abordagem mais abrangente para os programas de integridade, defendendo que temas como mudanças climáticas, degradação ambiental, due diligence em direitos humanos e sustentabilidade sejam incorporados de forma estruturante às práticas de gestão e governança das organizações. O documento busca contribuir para o fortalecimento de uma cultura de integridade no setor privado que vá além da prevenção à corrupção e caminhe rumo a uma atuação ética, transparente e comprometida com a transformação social. 

Nesse mesmo sentido, o Pró-Ética — iniciativa de caráter voluntário e de reconhecimento, sem força normativa — também deu um passo importante. Em sua nova edição, o programa passou a incorporar critérios relacionados às agendas ASG (ESG) e de direitos humanos em seu processo de avaliação. Com um modelo mais robusto e alinhado à lógica da melhoria contínua, o Pró-Ética busca reconhecer empresas que atuam com ética e responsabilidade em todas as dimensões de sua operação, estimulando práticas empresariais comprometidas com valores democráticos e com o interesse coletivo. 

No plano internacional, o conceito de integridade também vem sendo ampliado. A Declaração Ministerial do Grupo Anticorrupção do G20 (2024) afirma que a integridade empresarial deve se basear em uma abordagem abrangente e convoca o setor privado a considerar não apenas os princípios anticorrupção, mas também os direitos humanos, o trabalho e o meio ambiente, sempre em conformidade com os marcos legais nacionais. Essa diretriz reforça um entendimento global cada vez mais consolidado: a integridade corporativa deve estar conectada à justiça socioambiental, à promoção dos direitos fundamentais e ao desenvolvimento sustentável. 

Doze anos após a sanção da Lei Anticorrupção, seguimos em movimento para transformar culturas organizacionais e fortalecer o papel das empresas na promoção de uma sociedade mais justa, ética e sustentável. É com esse compromisso que o Instituto Ethos seguirá atuando para que a integridade seja cada vez mais compreendida como um pilar essencial da democracia e da justiça social.