fernando3Os desequilíbrios financeiros de contas públicas, de empresas ou de pessoas têm custos que precisarão ser suportados para que se retome a prosperidade.                                                                                                                                                               

O equilíbrio financeiro é fundamental nas contas públicas e nas contas pessoais. “O tema da conferência é sustentabilidade. Foram alguns anos de desequilíbrio econômico no país, e agora é hora de fazermos um sacrifício para pagar os exageros do passado. O déficit público brasileiro foi crescendo ao longo do tempo, em uma tendência nada sustentável”, contextualizou Caio Megale, economista do Banco Itaú, na abertura do painel “Nossas escolhas, nosso dinheiro e a prosperidade socioeconômica do país”, no segundo dia (23) da Conferência Ethos 360º 2015. Junto com Jurandir Macedo Sell Jr., fundador do Instituto de Educação Financeira, ambos fizeram uma breve análise do cenário socioeconômico do país e do seu reflexo nas famílias brasileiras.

Nos últimos anos, o consumo do país cresceu muito acima da renda provocando um grave desequilíbrio econômico, com uma inflação controlada pelo congelamento das tarifas dos serviços públicos e pela elevação da importação, mantida por meio da taxa de câmbio. Como contrapartida, cresceu intensamente o déficit externo. Em um cenário global, em que há uma alta de juros nos Estados Unidos e uma redução da taxa de crescimento da China, o Brasil se apresentou mais vulnerável e precisará passar por um rearranjo geral na economia, que seria inevitável ao longo do tempo.

Para sustentar o consumo, houve uma deterioração significativa nas contas públicas. O mercado de trabalho seguia aquecido e, agora, se inicia uma fase de crescimento da taxa de desemprego. A inflação disparou pela liberação dos congelamentos.  “Tudo isto traz um grande desconforto”, comentou Megale. “No entanto, o Brasil continua sendo um país cheio de oportunidades, com 200 milhões de consumidores, com a agricultura mais forte do mundo, e ainda com necessidades fortíssimas de infraestrutura para gerar riqueza. O desafio é pular esse obstáculo de curto prazo”, complementou.

fernando2Obviamente os desafios macroeconômicos refletem nas finanças individuais. Vivemos um momento em que é essencial analisar a situação financeira e dialogar para fazer escolhas conscientes na redução de gastos ou na aplicação em investimentos. “Precisamos derrubar o tabu que é falar sobre dinheiro”, destacou Jurandir Sell. “Normalmente os brasileiros não conversam sobre suas contas pessoais, seja por uma situação muito próspera ou muito negativa, e isto faz com que a população permaneça distante do uso consciente do dinheiro e da possibilidade de fazer escolhas mais sustentáveis”, justificou.

Falta educação financeira

A geração atual aprendeu a lidar com os recursos financeiros com uma geração que viveu intensamente a inflação e não aprendeu educação financeira. As escolas possuem um papel importante, porém não exclusivo, e muitas vezes os professores não dominam o tema e possuem as mesmas dificuldades em suas contas pessoais. “Quem vai combater a falta de educação financeira dos brasileiros? Esta é uma tarefa muito grande, que necessita de várias frentes. Precisamos ter a imprensa trabalhando sobre educação financeira”, reforçou Sell.

Existe uma tendência do PIB cair no curto prazo, período que o crédito fica mais conservador. “A taxa de inadimplência tende a crescer nesse período. Porém, à medida que a economia se reequilibra, o crédito volta a crescer, de forma mais sustentável”, comentou Megale.

A educação financeira nada mais é do que ensinar as pessoas a fazerem escolhas conscientes e a utilizarem os produtos financeiros para melhorar sua vida. Grande parte da população vive na falsa ilusão de que é possível passar a vida gastando mais do que se ganha, e muitas vezes não faz reserva de imprevistos e não se prepara para a aposentadoria. A possibilidade de fazer escolhas mais conscientes impacta positivamente tanto na vida no presente, como no futuro. E estas escolhas são específicas para cada indivíduo ou família, de acordo com seus hábitos e suas necessidades. “Qual o melhor investimento que existe? Buscar responder a esta pergunta seria a mesma coisa que entrar em uma farmácia e pedir pelo melhor remédio que exista”, comparou Sell.

Por último, Sell trouxe a ideia da moeda universal: “Muito mais importante do que qualquer moeda é uma hora de vida. Tudo o que consumo é pago com vida. Há que se ter muita atenção para o risco de desviar o consumo para consumismo. O consumo é quando gasto essa hora de vida e o resultado é positivo. No consumismo a gente come, come, e a fome nunca some”, citando Ercy Soar, no livro “Os outros que somos”. “É momento de orçamento equilibrado e muita calma”, concluiu.

 

Por Mirna Castro Folco (Envolverde), para o Instituto Ethos.

Foto: Fernando Manuel