As perspectivas e os desafios para um país tão rico em biodiversidade, mas que vive uma de suas maiores crises econômicas da história.
O Brasil vive um período de instabilidade na economia. As taxas de desempregos estão em alta e quase 12 milhões de pessoas estão em busca de recolocação no mercado de trabalho. Diante desse cenário, discussões sobre o desenvolvimento sustentável se tornam mais fortes na busca por saídas alternativas dessa recessão econômica que o país enfrenta.
No primeiro dia da Conferência Ethos 2016, o painel “Economia para o desenvolvimento sustentável – perspectivas e propostas para o Brasil” discutiu quais seriam os caminhos para que o Brasil volte a ter uma economia forte e sustentável.
Para alcançar o desenvolvimento sustentável, deve-se dar atenção a quatro pontos críticos: desigualdade, industrialização, geração de energia limpa e agricultura.
Para Thomaz Ferreira Jensen, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a redução das desigualdades é o caminho mais seguro para o desenvolvimento sustentável. Jensen afirmou que a valorização do salário mínimo teve um papel de extrema importância para reduzir a desigualdade de renda no Brasil, no entanto ainda precisa ser aperfeiçoado. Se, ao estipular o valor do salário mínimo, a Constituição Brasileira fosse observada, o montante necessário para manter uma família de 4 pessoas, em agosto deste ano, deveria ser de R$ 3.991,40, para suprir necessidades básicas como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.
Ricardo Abramovay, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), reforçou a necessidade de combater desigualdades para alcançar o desenvolvimento sustentável. Para ele, a desigualdade deve ser combatida em todas as esferas: saúde, educação, cidadania e economia.
“Os países da América Latinas possuem uma frágil base econômica e é uma ilusão pensar que é possível reduzir desigualdades com uma base como essa”, afirmou Abramovay. O caminho, então, seria ir diretamente pela industrialização e fortalecimento do mercado interno. A desigualdade e dependência estão interligadas e a superação para a dependência está na industrialização.
Abramovay crê que a desindustrialização é grave, já que, ao minguar a industrialização, diminuem-se também serviços de inteligência (pesquisas) que existem exclusivamente para suprir a necessidade da indústria, mas que são fundamentais para a modernização de áreas críticas para a economia do país. A pesquisa sobre Bionics na Alemanha é um exemplo disso. O país tem 73 centros de pesquisa sobre o tema, produzindo no país conhecimento necessário para modernização tecnológica em importantes áreas, como a medicina.
O terceiro ponto crítico para o desenvolvimento sustentável é a renovação das fontes de energia. O Brasil tem 90% da sua energia gerada por hidrelétricas, uma forma antiga de geração de energia que já foi muito recomendada, mas que hoje já foi superada por outras fontes mais modernas de energia limpa como a solar, eólica e bioenergia.
Por último, a agricultura se apresenta como um fator crítico para o desenvolvimento sustentável no país. O Brasil vive o dilema de buscar ser sustentável e ainda ser o país que mais usa agrotóxicos no mundo. Não é possível tratar do desenvolvimento sustentável sem abranger os impactos causado pelo uso excessivo de agrotóxicos. É possível ter um negócio lucrativo sem depender dos agrotóxicos. A Fazenda São Francisco, produtora do Açúcar Native é um exemplo empresarial de sucesso ao produzir produtos com zero agrotóxico. Esse resultado é possível com constantes investimentos em pesquisas sobre tecnologias que tragam melhorias para o mercado dos orgânicos. Para que o Brasil siga no caminho do desenvolvimento sustentável, é imprescindível que se procure rotas alternativas ao uso de agrotóxico.
Por Letícia Paiva, para o Instituto Ethos.
Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes