Oportunidades e caminhos possíveis para o Brasil também foram apontados

“A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris não significa a saída de todos os setores americanos, já que estados como a Califórnia e empresas alinhadas com a temática reiteraram que continuam seus esforços para cumprir o acordo”. Esta foi uma das mensagens deixadas por Alfredo Sirkis, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor do Centro Brasil no Clima (CBC), em sua apresentação na mesa “o Acordo de Paris sem os EUA” da Conferência Ethos 360º São Paulo, no dia 26 de setembro.

Entre os dados trazidos pelos palestrantes está o de que mesmo se todos os países cumprirem as metas do acordo, a temperatura global tende a subir até 3 graus até o final do século, ressaltando a importância do esforço coletivo. “É preciso ter atenção especial para a China, país que tem aumentado suas emissões nos últimos anos”, ressaltou Carolina Dubeux, pesquisadora do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudança do Clima, e completou que “ a precificação do carbono já é uma realidade em muitos países e há diversos fundos para o financiamento de energia limpa. É preciso estar atento a estas inovações e possibilidades”.

Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, concorda com a Carolina ao ressaltar a necessidade de ampliar a matriz energética para modalidades mais limpas. “O Brasil ainda investe muito em energias fósseis, indo na contramão do mundo, que tem investido cada vez mais em energia limpa, em especial eólica e solar. O país tem um grande potencial de geração de energia menos poluente, além de grande espaço para implantar e promover a precificação de carbono. Mas alguns desafios básicos ainda precisam ser transpostos como o desmatamento crescente na região amazônica. A agenda socioambiental não pode ser usada como moeda de troca como tem acontecido, em especial com a bancada ruralista”, apontou Rittl.

O fato de empresas reafirmarem seus compromissos com o clima mesmo após o anúncio da saída de Trump foi essencial para que o acordo continuasse com seu propósito, no ponto de vista de Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura. “O setor empresarial tem um papel primordial nesta temática e quando as empresas tomam para si esta causa, ela é alavancada, mesmo sem grandes incentivos das instituições governamentais”, completou. Macedo compartilhou as práticas da Natura para o tema, entre elas, redução da emissão de carbono e manejo sustentável, por conta da larga utilização de recursos naturais em seus produtos. “Queremos que outras empresas trilhem caminhos neste sentido e acreditamos no poder das ações e propostas coletivas”, finalizou referindo-se ao edital lançado em conjunto com o banco Itaú para incentivar práticas com menor emissão e compensação de carbono.

 

Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos

Foto: Clóvis Fabiano e Kleber Marques