Acerto impõe para americanos, redução das emissões de 28% até 2025; para os chineses, não aumentar as emissões a partir de 2030.

No encerramento da Cúpula Ásia-Pacífico, no último dia 11 de novembro, China e Estados Unidos anunciaram um acordo histórico: reduzir as próprias emissões de carbono até 2030.

Os EUA se comprometeram a diminuir, até 2025, 28% do seu carbono em relação a 2005, e até 80% em 2050.

A China, por sua vez, estabeleceu que não vai mais crescer suas emissões depois de 2030 e elevar a participação de energias renováveis em 20% a partir desse ano.

Pela primeira, esses países, considerados os dois maiores emissores de carbono do mundo – são responsáveis por 45% das emissões de carbono do mundo – aceitam se comprometer com metas de redução de carbono e gases de efeito estufa.

Isso dá alento para as discussões do acordo global sobre clima que vai ter o seu “rascunho”, vamos dizer assim, elaborado na COP 20, que se realiza entre 1º e 12 de dezembro em Lima, no Peru, e será finalizado no ano que vem, na COP 21, em Paris. Havia muito ceticismo de que os países conseguissem fazer um acerto sobre metas, principalmente porque China e EUA sempre se mostraram refratários a assumir compromissos. Mas, agora, há esperança de que os governos de todos os países do sistema ONU realmente se ocupem das consequências das mudanças climáticas de maneira concreta. E já não é sem tempo.

O último relatório do IPCC, divulgado no início de novembro, foi claro em sua conclusão: as consequências do aquecimento global já estão sendo sentidas pela humanidade e, para não se tornarem irreversíveis, é preciso agir JÁ.

Isto é, os países precisam entrar em acordo para reduzir emissões e adotar um plano de ações conjuntas de mitigação e adaptação para que até 2100 a temperatura do planeta não suba mais do que 2 graus Celsius. O relatório do IPCC aponta que o uso de combustíveis fósseis deve acabar até 2100 e o de energias renováveis, subir até 80% até 2050. Quanto aos gases de efeito estufa (GEE), o relatório indica que as emissões mundiais devem ser reduzidas em até 70% até 2050. Em 2100, elas não devem mais existir. Para o IPCC, o nível do mar deve aumentar entre 26 e 82 centímetros até 2100, promovendo inundações na América do Sul, na Ásia e na África. Haverá também escassez de água potável.

Os dois governos, todavia, enfrentarão problemas para por em prática políticas públicas que permitam cumprir essas metas.

No caso dos EUA, os republicanos consideram a meta assumida por Obama como “irrealista”, pois significaria diminuir emissões entre 2,3% e 2,8% entre 2020 e 2025, o dobro do que o país consegue fazer hoje, com atividade econômica reduzida. Os americanos ainda possuem o gás de xisto, menos emissor que o carvão e o petróleo, fonte igualmente polêmica, por exigir uso de água e produtos químicos em seu processo, causando contaminação ambiental e emissão de gás metano, mais poluente que o carbono.

Quanto à China, na época do Protocolo de Kioto (em 1995), o país não era obrigado a limitar suas emissões por ser considerado país emergente e, assim, não responsável pelo aquecimento acumulado. Mas essa realidade mudou nas últimas décadas. Hoje, a China conclui uma nova usina de carvão a cada dez dias. Das 2.500 Tm que emitia em 1990, de acordo com o Centro Comum de Pesquisa da União Europeia, passou a emitir 9.900 TM em 2010. Se a China ficar liberada para emitir quanto quiser até 2030, para só depois controlar, vai ficar difícil estancar o aumento da temperatura do planeta em 2º C, na opinião dos pesquisadores.

Mesmo assim, há esperança.

Incentivo a metas mais ambiciosas

O pesquisador brasileiro Carlos Nobre, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e também no IPCC, é enfático ao ressaltar que o acerto entre esses dois países é um incentivo a que o acordo global adote metas ambiciosas, pois só assim o mundo chegará a 2100 sem superar os 2º C de temperatura.

No caso brasileiro, é possível que governo e empresas resolvam, por exemplo, se esforçar mais para instituir uma política fiscal que incentive uma economia verde e desincentive atividades que sejam mais emissoras de carbono.

No último dia 13 de dezembro, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgou o relatório de Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa, relativo a 2012.

De acordo com esse documento, o país emitiu 1,2 bilhão de toneladas métricas de gás carbônico equivalente em 2012, contra 2,03 bilhões em 2005.

Os setores de energia e agropecuária responderam por 37% (cada um) dessas emissões.

Os setores de uso da terra e floresta registraram 15% das emissões em 2012; em 2005, elas eram de 58%. Essa diminuição reflete a queda das taxas de desmatamento a partir de 2004. O desmate voltou a crescer a partir de 2010, mas não chegou aos picos de 2004 ou antes desse ano. Mesmo assim, é preciso retomar o cuidado e a campanha pelo “desmatamento zero” para que esse índice volte a recuar.

Os processos industriais e tratamento de resíduos somam 7% e 4% das emissões, respectivamente.

De modo geral, as emissões de 2012 estão 44% menores do que as projetadas para esse ano na Política Nacional de Mudanças do Clima.

Se continuar nesse ritmo, o Brasil pode atingir a meta com que se comprometeu voluntariamente na COP 15 (de 3,2 milhões de ton de CO2 eq para 2020) antes do tempo.

Por isso, não é exagero imaginar que governo e setor privado adotem compromissos mais ambiciosos em relação a mitigação e adaptação das mudanças climáticas, por exemplo, campos em que o Brasil pouco avançou e no qual os relatórios do IPCC mostram que o país será bastante impactado.

No mesmo dia em que apresentou o relatório de estimativas das emissões de GEE, o MCTI apresentou o projeto Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa em Setores-Chave do Brasil, executado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e com o apoio financeiro do Fundo Mundial para o Meio Ambiente.

O papel das empresas

No último dia 11 de novembro, as empresas que assinaram esse compromisso – a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças do Clima – e que formaram o Fórum Clima, realizaram o seminário anual de balanço das ações, onde foram apresentados alguns casos exemplares, como o da Construtora Odebrecht.

A construção civil é das maiores emissoras de carbono. O IPCC calcula que, até 2030, as edificações devem somar quase 16 bilhões de toneladas de carbono, principalmente em função das necessidades de infraestrutura e de habitação da Ásia e da América Latina.

Por isso, realizar inventários das obras de construção civil é um passo importante para conseguir diminuir as emissões.

A Odebrecht, que integra o Fórum Clima e o GT de Engenharia e Construção que lançou um guia metodológico para inventário de emissões de gases de efeito estufa, está fazendo a lição de casa. Em 2014, realizou seu quarto inventário anual, referente a 2013, no qual registrou 165 obras distribuídas em 17 países nos quatro continentes. Seguiu as orientações do guia. A partir desse inventário, pode verificar que o”grande vilão” das emissões é o combustível fóssil (26%) , seguido por aço e cimento (19% cada um).

Para superar a dependência ao petróleo, a Odebrecht está investindo em energias alternativas, inclusive na substituição do diesel por uma usina eólica nômade que é instalada nos grandes canteiros de obras, viajando, literalmente, e sendo reinstalada em outro canteiro. Por isso, ela se torna viável financeiramente.

Ouça o boletim da CBN.

Por Cristina Spera, do Instituto Ethos