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C&A Modas e Itaipu Binacional compartilham boas práticas em aprendizagem

01/08/2018

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Exemplos indicam caminhos de como empresas podem investir na contratação de jovens e adolescentes

 

Quais os desafios para as empresas que se propõem a investir na contratação de jovens sob a perspectiva da aprendizagem? Compartilhar experiências e possíveis caminho é a intenção dessa entrevista com a C&A Modas e a Itaipu Binacional.

Ambas dão exemplo de boas práticas na caminhada que vai além do combate ao trabalho infantil, pois entende as particularidades culturais e sociais das localidades onde os jovens estão inseridos e as necessidades para que os mesmos venham a integrar o mercado de trabalho. Sobretudo, criam contextos para que a contratação minimize impactos que poderão ser definitivos na vida adulta destes aprendizes, como por exemplo a permanência na escola.

Durante o período de férias a evasão escolar tender a se acentuar, então aproveitamos este momento de retomadas das aulas para entender como trabalho e educação podem caminhar juntos.


Ethos: Quais são os projetos implementados para o combate ao trabalho infantil?

C&A: A C&A tem como um de seus principais compromissos a transparência e para isso abre espaço para que todos os interessados possam consultar quais são as fábricas responsáveis pela produção dos calçados, roupas e acessórios vendidos na rede. Com isso, a C&A visa dar clareza aos clientes em relação à origem dos seus produtos, bem como incentivar cada vez mais a melhoria das condições de trabalho em sua rede de fornecimento. Em 2006, a empresa criou um sistema de auditoria em sua rede de fornecimento, cujo objetivo é coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e forçada – incluso aqui a mão de obra infantil – e buscar a melhoria contínua das condições de trabalho e das questões ambientais na sua rede de fornecimento. As auditorias são periódicas, sem agendamento prévio, e têm como foco verificar se as condições de trabalho são adequadas e se a legislação trabalhista é respeitada. Em 2015, foi criado um departamento global, o Sustainable Supply Chain (SSC), que responde no Brasil ao Comitê Executivo e também a uma Diretoria Global, sendo responsável desde então pela fiscalização, auditoria e monitoramento de toda a rede de fornecimento da C&A. Por fim, o trabalho do Instituto C&A complementa essas ações, com o objetivo de erradicar o trabalho forçado e o trabalho infantil de toda a indústria. Isso é feito por meio do apoio a organizações como a Repórter Brasil e a Missão Paz, que realizam ações de prevenção e apoio a populações mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, apoia as vítimas desse crime, empoderando e dando oportunidade para que acessem seus direitos e tenham oportunidade dignas.

“As auditorias são periódicas, sem agendamento prévio, e têm como foco verificar se as condições de trabalho são adequadas e se a legislação trabalhista é respeitada” – C&A

 

Itaipu Binacional: O PIIT (Programa de Iniciação e Incentivo ao Trabalho) é um Programa de responsabilidade social da Itaipu em conjunto com a Guarda Mirim, entidade de aprendizagem responsável, juntamente com o Coordenação do PIIT, pela seleção acompanhamento, monitoramento dos adolescentes que participam do Programa. Esta parceria remonta desde o nascimento do PIIT, em 1988. Importante ressaltar que a Guarda Mirim integrou e faz parte de coletivos como o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA/PR), o Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (FDCA/PR), Grupo de Trabalho de Aprendizagem (GT de Aprendizagem) e Rede Proteger (rol de organizações que zelam pelos direitos das crianças e adolescentes de Foz do Iguaçu e região). A capilaridade da entidade junto às diversas organizações públicas e privadas, voltadas aos adolescentes, em Foz do Iguaçu e região, torna-a estratégica para as ações de responsabilidade social da Itaipu Binacional, assim como a coloca como entidade diferenciada e de envergadura para a realização do objetivo do Programa PIIT: promover o direito à profissionalização dos adolescentes (art.227, caput, da CF e art. 4º, caput, do ECA) através de conteúdos e práticas que possam apoiar o adolescente na construção de sua identidade, na conquista de sua autonomia e em seu processo de interação com outros adolescentes e colegas de trabalho, família e comunidade.

Ethos: Como é feito o engajamento para esta causa?

C&A: A C&A busca trabalhar diretamente com fornecedores e subcontratados, por meio de cursos, parcerias e auditorias que visam conscientizar e erradicar qualquer possibilidade de trabalho infantil, irregular ou forçado dentro da sua rede de fornecimento. Em 2017, por exemplo, 57 fornecedores e subcontratados da rede de fornecimento da C&A no Brasil se juntaram ao projeto da Cadeia de Valor. O curso, realizado pelo UniEthos, com o apoio do Instituto C&A e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), ensinou aos participantes temas como gestão, liderança, finanças e sustentabilidade. Em relação aos funcionários, também realizamos constantes treinamentos, sobretudo para conscientização da rede, a fim de engajá-los no combate ao trabalho forçado, irregular e infantil. Integramos a comunicação sobre o Código de Ética do Funcionário em nosso processo de integração e desenvolvimento de funcionários, treinando, em 2017, um total de 4.849 funcionários em todo o país.

Itaipu Binacional: A participação da entidade no GT de Aprendizagem, destaca-se que o GT foi instituído, com o apoio da Itaipu Binacional visando a cooperação entre as entidades, órgãos e instituições que desenvolvem, prestam auxílio, fiscalizam e/ou estão de qualquer forma envolvidos direta ou indiretamente com o Programa de Aprendizagem no município de Foz do Iguaçu e Região. Além disso, a Rede PROTEGER (Rede Integral de Proteção à Criança e ao Adolescente – PPCA) é apoiada e promovida com o apoio estratégico da área de responsabilidade social da Itaipu Binacional.  Esta Rede, desde sua criação, trabalha no fomento a vários projetos para combate ao trabalho infantil, à exploração sexual de crianças e adolescentes dentre outras ações. O objetivo da Rede PROTEGER é integrar e fortalecer serviços e programas de proteção integral às crianças e adolescentes da região da Tríplice Fronteira, propondo estratégias para o fortalecimento das Instituições e suas ações, apoiando estratégias e acordos que visam à melhoria do acesso da população às ações e serviços de atenção integral às crianças e adolescentes e fomentando o aperfeiçoamento das políticas públicas que contemplam a Atenção Integral à criança e ao adolescente e ao seu meio social.

“(…) a Rede PROTEGER (Rede Integral de Proteção à Criança e ao Adolescente – PPCA) é apoiada e promovida com o apoio estratégico da área de responsabilidade social da Itaipu Binacional.  Esta Rede, desde sua criação, trabalha no fomento a vários projetos para combate ao trabalho infantil, à exploração sexual de crianças e adolescentes dentre outras ações” – Itaipu Binacional

 

Ethos: Há programas de aprendizagem na empresa?

C&A: Sim. Desde 1976 a C&A trabalha com a contratação de jovens (a partir de 16 anos), desenvolvendo e formando profissionais que posteriormente poderão atuar em outras áreas – conforme o perfil e oportunidades – e seguindo carreira na empresa. Desde 1999, a contratação dos jovens de 16 a 22 anos é feita exclusivamente pelo programa Jovem Aprendiz.

Itaipu Binacional: A  Itaipu Binacional não pode somente contratar os jovens para trabalhar devido às condições inapropriadas para adolescentes. Frente a isso, revisamos os programas de incentivo na profissionalização dos jovens, envolvendo parceiros da comunidade local. Desta forma, além do PIIT, temos outros Programas apoiados pela Itaipu com foco na criança e adolescente como:

  • Jovens Atletas: cujo objetivo é desenvolver atividades desportivas, no contraturno, escolar para promover a cidadania e iniciar carreira no atletismo em diversas modalidades;
  • Velejar é Preciso: que tem propósito de implementar a prática de iatismo em Foz do Iguaçu, formando atletas aptos a participar de competições nacionais e internacionais;
  • Meninos do Lago: para desenvolver a prática da canoagem entre crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, melhorar o desempenho escolar, descobrir e incentivar novos talentos de alto rendimento no esporte que possam representar o país em competições nacionais e internacionais.
  • Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente (PPCA): que busca articular e promover ações e campanhas com o objetivo de incentivar a defesa dos direitos da criança e do adolescente e contribuir no fortalecimento do combate ao trabalho infantil, à exploração sexual e outras formas de violência contra meninos e meninas na região da Tríplice Fronteira e de interesse da Itaipu.

 

Ethos: Como o programa de aprendizagem é desenvolvido?

C&A: O programa conta com um contrato de trabalho especial, determinado e mediado por um programa que forma profissionais especializados, com prazo máximo de 2 anos de duração. Muitos permanecem na empresa após este período, recebendo uma boa preparação para o início de suas carreiras. As vagas são abertas durante todo o ano, conforme demanda das unidades. Os funcionários participantes do programa Jovem Aprendiz atuam em diversos setores no Escritório Central, Centros de Distribuição e Lojas, e estão presentes nas unidades da C&A em todo o Brasil. Sempre com a tutela de profissionais engajados, comprometidos a transmitirem conhecimentos que farão a diferença positiva na carreira profissional destes jovens, os aprendizes recebem um salário e benefícios como refeição no local, Assistência Médica, Assistência Odontológica e Convênio Farmácia. Segundo um levantamento realizado pela empresa entre janeiro de 2015 e julho de 2018, foram contratados 2.712 aprendizes dentro do mesmo período. Destes, cerca de 5,9% foram efetivados ao final do programa.

Itaipu Binacional: A metodologia de trabalho adotada no PIIT configura-se por uma abordagem participativa, que tem em essência o processo de interação com os jovens. Os passos dessa metodologia estão assim definidos em: aproximação, interação, escambo e espaço horizontalizado. A aproximação, consiste no entendimento de que o contato com o adolescente não se faz por meio de reunião, é preciso, acima de tudo, buscar a aproximação e se faz necessário ter em mente o contexto social em que estes jovens estão inseridos. Aproximar-se, portanto, requer detectar demandas significativas escondidas por trás dos reclamos superficiais, pois será por meio delas que se abrirá um canal de comunicação mais profundo e permanente com a juventude. A interação, que visa diagnosticar e dialogar sobre as demandas significativas para o adolescente pode constituir-se numa modalidade de interação promissora. O “escambo”, que nesse caso assume uma nova dimensão, a da negociação de interesses que podem ser compartilhados e tornarem-se comuns, chega a tal nível de interação que implica constituir um espaço de diálogo, de discussão com as características de horizontalidade entre os envolvidos. E, por fim, o espaço horizontalizado de diálogo e discussão que exige o desafio de estabelecer um processo decisório com a participação dos jovens, no qual eles sejam, na prática, os atores principais. É também perceber que o protagonismo juvenil se revela pelo olhar, pelo silêncio, nos bastidores, numa temporalidade que é própria aos jovens.

 

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: John Schnobrich – Unsplash

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