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CONFERÊNCIA ETHOS

Luta e resistência dominam o sexto dia da Conferência Ethos 2020

07/08/2020

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Na semana que marca recorde de mortos pela Covid-19, evento dialoga sobre responsabilidades e possíveis caminhos

Seja nos territórios indígenas, na luta antirracista ou na busca por eleições limpas, a pandemia de coronavírus, que beira os 100 mil óbitos e 3 milhões de contaminados, afeta todos esses processos e muito mais.

Desta forma, o dia de diálogos dessa quinta-feira (6), foi marcado por falas potentes que analisaram diferentes temáticas, a fim de desenhar possíveis caminhos para solução de problemas já existentes, que têm se potencializado com a crise do coronavírus.

Se você não conseguiu assistir ontem, basta acessar o canal do YouTube do Ethos. Lá você poderá conferir esse e outros diálogos que dão conta de uma gama de temas nas agendas de meio ambiente, integridade, direitos humanos, gestão, economia e muito mais.

Abaixo você tem uma pequena mostra dos conteúdos que foram debatidos.

15h – Abertura – Pandemia no Brasil: a reparação de danos coletivos e as responsabilidades pelas mortes evitáveis 

“Esse é um dia que estamos marcando o luto por mais de 97 mil brasileiros e brasileiras mortos. Pessoas que poderiam estar vivas, mortes que poderiam ser evitadas”, pontuou Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, na abertura da primeira atividade do dia.

Marilena Lazzarini, presidente do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), foi a primeira a expor na atividade, observando a respeito da conduta do governo federal. “Ainda no início da pandemia no Brasil, tínhamos uma curva ascendente preocupante, sobretudo por conta da postura negacionista do presidente da República que fazia questão de recusar as medidas sanitárias do ministro da Saúde […] Se o governo federal não tivesse se omitido de seu papel de coordenação do controle da pandemia as coisas não estariam tão ruins. Se medidas tivessem sido adotadas, as coisas não estariam tão ruins. Se as políticas públicas de apoio tivessem sido implementadas, as coisas não estaria tão ruins”, analisou Lazzarini.

Walter Moura, procurador de Defesa do Consumidor do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, seguiu está mesma linha. “Esperávamos uma coordenação com base em dados científicos, com um alinhamento no que há de melhor em pesquisas sanitárias […] Ficamos o grosso da pandemia sem um ministro da Saúde. E, há decisões que caberiam ao chefe da pasta da Saúde. Uma acefalia muito séria”, destacou Moura.

Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, resgatou a situação do Brasil quando o coronavírus chegou ao país. “O vírus chegou num ambiente muito propício para sua propagação, com pressão no Sistema Único de Saúde, com 40 milhões de pessoas em trabalho informal, milhões desempregados e também encontrou um outro elemento que é o racismo […] A maioria dos afetados pela Covid-19 são os negros e temos que considerar as mulheres negras e como são afetadas”, explicou Maia.

16h10 – Eleições limpas e seguras – como a pandemia pressiona o processo eleitoral em 2020?

Paula Oda, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos, foi quem moderou a atividade e conversou com Fábio Bechara, secretário executivo da Procuradoria-Geral de Justiça e Luciano Santos, diretor do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE).

Bechara falou sobre o Portal Eleições Limpas e a respeito de sua relevância. “O Portal Eleições Limpas foi idealizado como um ambiente para consultas rápidas para verificação dos CPFs e CNPJs dos prestadores de serviço, para evitar, por exemplo, casos de prestadores que nem existem formalmente […] Para que o processo eleitoral seja o mais limpo possível, mais rastejável e aditável é a transparência que faz toda a diferença”, disse o secretário executivo da Procuradoria-Geral de Justiça.

Já Luciano Santos, diretor do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), observou o desafio das eleições no contexto da pandemia.  “Temos feitos debates com outros países, como o México e a Bolívia, analisando a pandemia […] Escolher um prefeito, um governador e um presidente é muito mais que votar. Temos que identificar pessoas que tenham habilidade para governar, para não acontecer o que estamos vendo agora, na gestão da pandemia”, avaliou o diretor do MCCE.

17h20 – Estórias e sabedoria – um diálogo com Dona Cici

 Dona Cici, mestra griô, educadora e contadora de estórias na Fundação Pierre Verger fez com maestria aquilo que há anos domina: a arte de compartilhar a sabedoria dos mais velhos, traço marcante da cultura africana, a qual ela sabe contar histórias que mesclam o cenário atual com os aprendizados da ancestralidade.

Cici falou sobre o respeito às diferentes raças e crenças. “Dizem que minha vozinha foi a primeira mulher a abrir o Candomblé a quem quisesse respeitar o Orixá, independentemente da cor da pele […] Funfun (Orixá) era albino. Então não temos essa diferenciação das cores”, explicou.

Sobre o que podemos chamar de sincretismo religioso, a mestra griô contou: “Quando falei de Ogum para uma mulher escandinava ela chorou, pois se lembrou de Thor. Ao contar sobre a cultura afro-brasileira as pessoas se lembram dos representantes em suas culturas”.

Sobre a pandemia, ela encerrou contando que toda noite pede ao Orixá da sua cabeça para que “haja entendimento, que dê luz às cabeças, porque todo remédio vem da natureza”. “Os Orixás da medicina são a esperança para essa pandemia. Oxalá é pai de todos e se você quer acalmar o mundo nesse momento, vamos pedir para que ele tire essa doença da gente”, disse.

Como explanou Luis Renato Nascimento, analista de Mobilização de Novos Associados do Instituto Ethos, que moderou a conversa, o bate-papo apresentou “histórias que ensinam sobre a cultura africana, que tocam não apenas a vida religiosa, mas a real, questões que estão vivas porque formam as pessoas e nos ensinam de maneira lúdica a desconstruir o processo de descolonização”.

18h30 – Fogo na Amazônia: impactos e iniciativas indígenas no combate às queimadas

Para encerrar o dia, Toya Manchineri, coordenador de Área de Território e Recursos Naturais da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e presidente da Manxinerune Tsihi Pukte Hajene (MATPHA), moderou a participação de representantes indígenas que analisaram a questão das queimadas e da pandemia em territórios indígenas.

“O Brasil tem um tratado a nível internacional que visa minimizar os incêndios, mas com a atual política do governo federal e desmonte dos órgãos ambientais, vemos que o Brasil não conseguirá cumprir. O país terá que dar muitas explicações”, pontuou Toya.

Mário Nicácio, vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), explicou que esse é “um momento de campanha, de pedido de socorro no enfrentamento da Covid-19 na Amazônia e também de combate do fogo”. Nicácio lembrou de como era a relação com o governo federal no passado. “Tínhamos uma articulação com as entidades federais, o que acabou com o atual governo. Há crimes acontecendo contra os povos indígenas, enquanto o governo federal está omisso”, avaliou.

Fabrício Amorim, colaborador Técnico da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) sobre o tema Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (PIIRC) pautou sua fala em explicar sobre a questão nas queimadas. “Os povos indígenas historicamente manejam o fogo de forma racional, diferente do fogo fruto do desmatamento ilegal, que tem o propósito de destruir mesmo. Boa parte dos incêndios em Arariboia é por causa da exploração madeira”, comentou.

Sônia Guajajara, coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), fez um chamado a resistência e falou sobre a preocupação com o aquecimento global. “Quanto as mudanças climáticas, as queimadas são um dos fatores que impactam. A exploração ilegal da madeira e as áreas que são entregues para o agronegócio, com as grandes monoculturas, que agora chegam fortemente a região da Amazônia, são preocupantes […] Percebemos que nós, indígenas no Brasil, estamos em risco de genocídio, os números demonstram isso. Precisamos seguir na luta, mobilizados e organizados para fazer nossos direitos valer”, analisou Guajajara.

A coordenadora executiva da Apib finalizou dizendo que “quando se perde uma liderança indígena enfraquece a nossa cultura, prejudica o nosso modo de vida e a biodiversidade, o que é prejudicial para todo o mundo. Somos fundamentais para a continuidade da vida no planeta”.

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