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Painéis de Direitos Humanos abordaram a importância da inclusão

14/10/2019

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Conferência Ethos em SP dialogou ainda sobre aspectos que contribuem para a violência

A agenda de Direitos Humanos não poderia ficar de fora da Conferência Ethos 360º, realizada em São Paulo, no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, nos dias 3 e 4 de setembro. Vários painéis abordaram a temática a fim de contemplar diferentes olhares frente as necessidades que a agenda requer.

Daniel Teixeira, advogado e responsável por projetos no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT); Neon Cunha, designer, artista plástica e ativista; e Thiago Amparo, professor da FGV e coordenador de políticas de diversidade se reuniram no painel Racismo, ativismo e o pensamento crítico nas empresas e instituições com o objetivo de analisar a agenda da diversidade quanto as especificidades de diferentes públicos. “Temos aqui uma mesa que aborda a interseccionalidade entre gênero, raça e LGBTI+, a fim de sabermos como lidar com questões cada vez mais presentes no dia a dia de nossa sociedade e no âmbito das empresas”, destacou Sheila de Carvalho, coordenadora de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos.

“A interseccionalidade surge como um campo de aprofundamento, uma possibilidade de leitura diferenciada”, explicou o representante do CEERT. Para Daniel, “enquanto tivermos instituições que não enxergam os privilégios da branquitude” será necessário abordar estes temas. “Quando pensamos sobre o racismo nas instituições vale observar que vivemos um sistema de não inclusão no Brasil, diferente do que aconteceu após a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, onde as famílias negras da costa da Geórgia ganhavam 40 acres e uma mula”, relembrou.

“Não escolhi ser ativista, eu precisei ser”. Foi desta forma que a designer, artista plástica e ativista Neon Cunha, iniciou sua fala. Ela retomou uma consideração de Daniel Teixeira, para a qual apresentou seu ponto de vista: “temos que entender qual privilégio vão abrir mão para a inclusão”.

A ativista expôs uma série de fragilidades as quais a sociedade precisa se atentar para de fato contemplar a diversidade. “A sua empresa se preocupa com a população indígena? Se não, ela é conivente com a exclusão e com o genocídio”, disse Neon que, da mesma forma, fez uma série de questionamento às empresas quanto a contratação de egressos do sistema prisional, pessoas com HIV e em vulnerabilidade social.

Para concluir o painel, Thiago Amparo disse que “muitas vezes não qualificamos o racismo”. Para exemplificar sua concepção, o professor se apoiou nas diferenças quanto ao acesso à educação. “Um aluno que tem o inglês básico, porque assistiu séries como ‘Friends’ com legenda, para mim, tem mais capacidade de aprendizado do que um aluno que passou 14 anos na Cultura Inglesa”, avaliou.

Por fim, Thiago conclui com um alerta: “normalizamos que uma pessoa negra sofra o racismo, que jovens negros morram mais, que possas LGBTI+ sejam invisibilizadas”.

Por falar em violência, o recorte de raça, gênero e da população LGBTI+, como destacou Thiago, são questões que necessitam de ações urgentes. Para tanto, foi realizado o painel Necessidade e urgência de um diálogo nacional contra a violência. Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Mogi das Cruzes e presidente da CNBB/SP (Sul 1), observou a atual conjuntura. “​Hoje, vemos uma radicalização ideológica de um grupo dominante que rejeita tudo que não pertence a esse grupo, chamando de comunista, de esquerda, tirando a legitimidade da diversidade”, disse o bispo.

Renato Sergio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que “o Brasil é uma sociedade totalmente cruel e violenta”. Renato confirmou sua fala dizendo que “as políticas públicas que não oferecem cidadania, dobram os números da violência e deixam como intocáveis algumas instituições”.

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública pontuou ainda que “crimes acontecem e precisam ser combatidos, mas a violência não é a solução. Não é uma guerra de um lado contra o outro. A agenda de direitos humanos é a única saída ética moralmente para que os conflitos sejam ajustados”, enfatizou.

Iniciativas que vêm se dedicando a acompanhar estas questões foram trazidas na fala de Ana Amélia Camargos, advogada, professora e titular da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP. “Através das comissões, a OAB mantém diálogos para encaminhar soluções frente aos problemas apresentados”.

Parte significativa do público que comparece as Conferências Ethos pertence ao setor corporativo. Sendo assim, muitos dos diálogos foram pensados de forma a dar exemplos e induzir as empresas na adoção de boas práticas.

Nesse sentido, a questão de gênero foi dialogada em algumas oportunidades, como no painel Carreiras STEM: como ampliar as oportunidades para as mulheres e meninas?, oferecido pela Petrobras

 

 Ana Lucia de Melo Custódio, diretora-adjunta do Instituto Ethos, falou sobre a importância em desmistificar a divisão de lugares específicos para mulheres na sociedade. “​Vivemos numa sociedade onde os papeis ainda são divididos entre feminino e masculino. Como mudar esses paradigmas e ter mulheres em carreiras que eram consideradas masculinas?”, questionou Ana.

Mara Maehara, CIO da TOTVS, explanou as dificuldades enfrentadas por ser uma mulher que trabalha na área de tecnologia. “Hoje, quando participo de eventos de tecnologia, observo a quantidade de homens versus a quantidade de mulheres e, ainda, o número de homens na área é maior. ​O que podemos fazer hoje para mudar o nosso amanhã?”, analisou Mara.

Em meio a tantos questionamentos, a CIO da TOTVS listou entraves que inviabilizam a mudança de cenário na área. “Há muitas mulheres com crenças disfuncionais. Então, o nosso papel é desmistificar essas crenças através da contação da nossa própria história”, explicou. Como forma de contribuir positivamente, Mara sugere que a escola tem papel fundamental em mudar a atual concepção. “Os cursos precisam ser mais elaborados e atrair o público feminino em seu marketing de divulgação”, avaliou.

Um exemplo real de transformação de um setor, também considerado predominantemente masculino, foi trazido pela experiência de Tatiana Neves, bióloga, fundadora do Projeto Albatroz e vice-presidente do Comitê Assessor do Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP).

“O Projeto Albatroz existe para mitigar a captura da ave que está ameaçada de extinção. ​Hoje, a equipe é composta em sua maioria por mulheres, que acompanham como observadoras a realização da pesca”, explicou. O projeto Albatroz, há 12 anos é patrocinado pela Petrobras e consiste na preservação da ave marinha, frente aos riscos que a espécie sofre por conta da atividade pesqueira.

Ainda sobre projetos sustentáveis, o diálogo Laboratório da Moda Sustentável e Vozes da Moda: iniciativas que transformam a moda no Brasil teve o objetivo de aprofundar e entender as duas iniciativas. “Como os projetos têm contribuído para a sustentabilidade na cadeia da moda?”, apresentou Marina Ferro, gerente de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos​, explicando ser esse o mote do painel.

 

Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTEX; Camila Zelezoglo, coordenadora de negociações internacionais da ABIT; Fabio Almeida, gerente de Desenvolvimento Institucional e Redes do Instituto C&A​; e Christel Scholten, diretora executiva do Reos Partners, foram os escolhidos para participar dessa conversa.

​Edmundo Lima pontuou que “questões sociais, ambientais e econômicas precisam ser resolvidas com união. Somos concorrentes no ponto de venda e colaborativos no movimento de mudança e transformação”. Para o diretor executivo da ABVTEX “a consciência do consumidor ajuda a promover as mudanças necessárias no seguimento”.

Camila trouxe como referência a necessidade de observar o comércio internacional, avaliando como impactar a atuação no Brasil. “Estamos nos abrindo mais para o mundo, fechando acordos de comércio”, explicou a coordenadora de negociações internacionais da ABIT.

Fabio Almeida ressaltou as práticas sustentáveis. “O incentivo à produção de um algodão mais sustentável, a moda circular e a combinação de expertises para resolver problemas conjuntos são alternativas. O que fazer com a roupa após o uso? Projetos com o olhar da sustentabilidade podem ser a resposta. Ainda não temos soluções em escala, mas existem várias iniciativas, como a ressignificação das peças, o upcycling, e até empresas varejistas que já pensam na economia circular desde a concepção do produto”, avaliou o gerente de Desenvolvimento Institucional e Redes do Instituto C&A.

Christel Scholten falou sobre os objetivos para os próximos anos. É preciso “conceber a moda como plataforma contínua de inovação e colaboração, contribuindo para criar condições favoráveis no setor em políticas públicas e financiamento para o fortalecimento entre os atores do setor”, acredita a diretora executiva do Reos Partners.

Frente ao que foi discutido nos demais painéis, Qual legado sua empresa quer deixar? O propósito e os esforços antidiscriminação e a inclusão de pessoas trans, travestis e pessoas não-binárias, foi o diálogo que contou com: Daniela Mourão, professora da Faculdade de Engenharia da UNESP; Karina Chaves, gerente de diversidade e inclusão do Carrefour; Larissa Lopes, gerente de desenvolvimento sustentável da Rede ACCOR; e, Márcia Costa, vice-presidente de Gente e Gestão da C&A.

A primeira professora trans da UNESP, Daniela Mourão, contou a própria história e experiência durante a transição de gênero e as ações da Unesp para acolher e respeitar as pessoas transgênero dentro da universidade. “Neste local de formação de líderes intelectuais e pessoas que vão formar a sociedade, o meu maior papel é estar lá, fazer com que os alunos tenham aula e os colegas trabalhem com uma professora trans, a qual eles saibam que é trans. A representatividade é necessária, precisamos ‘misturar e sacudir’ os diferentes no mesmo local”, disse a professora.

Quanto ao escopo empresarial, Karina Chaves, moderadora do painel, compartilhou aprendizados do Carrefour.  “Quais esforços as organizações precisam fazer para trabalhar a discriminação e que legados nossas empresas podem deixar? Há a necessidade de criarmos repertório ao capacitar líderes para que saibam como agir em determinadas situações”, analisou a gerente de diversidade que ainda completou contando sobre uma das iniciativas da empresa onde atua: “a cartilha sobre pessoas trans viralizou na internet de forma positiva, por ser muito educativa, o que contribuiu para atrair esse público para trabalhar conosco”, relembrou Karina.

Muitos são os ganhos para as empresas que implementam ações afirmativas, nesse sentido. Larissa Lopes explicou que “Há aprendizados de ambos os lados, para os gestores e para os trans”, ressaltou a gerente de desenvolvimento sustentável da Rede ACCOR.

Parceira da TransEmpregos para a contratação de pessoas LGBTI+, a C&A se posiciona como uma marca inclusiva. “Raça, gênero, LGBTI+, nordestinos… queremos ser dentro, o que somos fora”, destacou a vice-presidente de Gente e Gestão da C&A.

 Mas, o que fazer para que as empresas cheguem a esse grau de maturidade, quanto a implementação de políticas internas que favoreçam a diversidade? Mentoria de Diversidade para Fornecedores: Soluções e Desafios para as Empresas foi o painel que dialogou com Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360; Reinaldo Bulgarelli; secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+​; Cristiane Mano, editora executiva da Exame​; e Ana Lucia de Melo Custódio, diretora-adjunta do Instituto Ethos, a respeito de ações práticas em prol da inclusão.

 “Não dá para fazer para fora, antes de cuidar da minha casa”, disse Margareth Goldenberg, que focou sua fala quanto a atuação das empresas com relação a cadeia de fornecedores. “Precisamos crescer e maturar a ambiência de forma conjunta, não adianta apenas as empresas estarem mobilizadas, garantir políticas antiassédio, não discriminatórias e em favor da não violência, sem replicar para os fornecedores”, disse a gestora executiva do Movimento Mulher 360.

Reinaldo Bulgarelli, analisou que a questão LGBTI+, “mundialmente ganhou grande visibilidade e as empresas estão aprendendo a lidar com o tema (…) Em nosso levantamento anual observamos que  42% das empresas ainda está no estágio 1, básico, e 25% no estágio 2”, contou o secretário executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+​.

Ana Lucia de Melo Custódio, diretora-adjunta do Instituto Ethos, destacou a importância e os resultados obtidos com o Guia EXAME de Diversidade 2018. “O guia tem o papel de apoiar as empresas na compreensão do que é possível fazer e mostrar o quanto podemos avançar e adotar novas formas de trabalhar a diversidade e inclusão. Quando falamos de diversidade damos luz a questões mais positivas, do quanto a diversidade é positiva para os negócios”, ressaltou a mediadora do diálogo.

Ainda sobre o Guia Exame de Diversidade, Cristiane Mano, pontuou que realmente é necessário “dar visibilidade para as histórias positivas, principalmente no campo da gestão”.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Fotos: Clovis Fabiano, Mauricio Burim e Thiago Lopes

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