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CONFERÊNCIA ETHOS

Primeiro dia da Conferência Ethos é marcado por reflexões sobre as desigualdades

Evento terá duração de 25 semanas, sempre às quintas-feiras, no canal do Ethos no YouTube

03/07/2020

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A Conferência Ethos 2020, em formato totalmente virtual e gratuito, teve início nessa quinta-feira (2), dialogando com especialistas sobre questões como o pós-pandemia, a economia, novas formas de capitalismo, o papel das empresas frente aos desafios dessa geração e a grandeza das florestas.

Foram mais de 5 horas de conversas que puderam contar com a participação do público que enviou perguntas através do chat do YouTube. Ao todo, serão 25 semanas de Conferência Ethos, que vai até o dia 17 de dezembro, sempre às quintas-feiras, no canal do Ethos no YouTube, onde os vídeos das atividades ficam salvos. É importante a inscrição no canal para não perder os diálogos que mais interessam e que são divulgados no site: conferenciaethos.org.

Viabilizada pelas patrocinadoras: Alcoa, Hydro, Natura, Petrobras e Shell, a Conferência Ethos 2020 irá contar com a participação de cientistas, especialistas, líderes empresariais e representantes de povos originários. Nacionais e Internacionais.

Destaques do primeiro dia de Conferência Ethos

Um mundo transformado

Traçando uma análise do marco global da pandemia de Covid-19, a proposta da abertura foi justamente fazer uma conversa sobre as transformações severas que a sociedade vem passando.

“Estou fazendo uma pesquisa na qual estamos coletando os discursos hegemônicos nesse período de Covid-19. Nos primeiros dias da pandemia havia uma ideia de que o mundo seria muito melhor, mas não demorou muito para que a discussão fosse sobre esse mundo pior. Maioria de pretos e pobres morrendo, empregadas domésticas tendo que continuar trabalhando, entregadores expostos… Criamos um apartheid entre aqueles que não puderam parar e tiveram que continuar alimentando quem parou”, destacou Rosana Pinheiro, professora de desenvolvimento internacional na University of Bath.

Tanto Rosana, quanto Thiago Amaparo, professor da FGV Direito SP, mestre e doutor em direitos humanos, pautaram suas falas na relação de privilégios que as elites desfrutam e não conseguem abrir mão, nem mesmo nesse momento. “As transformações para um novo mundo, dessa revolução existencial, acentuam as desigualdades sociais, pois, grande parte da população vai continuar sem essa transformação, aglomerados, sem poder fazer o distanciamento. Não existe saída que não seja, evidentemente, colocar o foco no combate à desigualdade, o que faz com que as transformações subjetivas possam ser vividas por todos”, disse Rosana.

Rosana falou ainda sobre a necessidade de que a renda básica emergencial seja permanente e em conjunto com a renovação e a atuação dos movimentos em momentos de crise. “As vozes que estão pensando o mundo pós Covid-19 estão muito retraídas. Precisamos de mais imaginação, sonhar o que ninguém ainda sonhou e reimaginar novos futuros, como uma grande coalizão pela nossa democracia e sociedade. Falo que precisamos de imaginação, pois só assim políticas são implementadas. Foi preciso um louco um dia imaginar que precisaríamos ter um Sistema Único de Saúde. Foi preciso um louco para implementar escolas públicas”, conclui Rosana

“Nós vemos numa pandemia que as pessoas são impactadas de forma desigual. Um exemplo é a renda básica emergencial, que são os negros os que mais pedem, mas são os brancos que têm mais sucesso em conquistar o benefício”, foi a reflexão que abriu a fala de Thiago Amparo.

Sobre o papel das empresas, Thiago avalia que temos que analisar qual seria o papel do setor privado nesse novo mundo, pós-pandemia. “Acredito que será trazer cada vez mais a pauta ambiental e social para as empresas. O futuro vai falar menos de diversidade, mas mais sobre os impactos desproporcionais nos diferentes grupos. O setor privado tem uma participação muito importante em não só apostar em diversidade, mas em como trabalhar as questões que estão postas no mundo, no âmbito das empresas. Um papel ativo, por uma sociedade melhor”.

Cisnes Verdes e o Capitalismo Regenerativo

No painel que contou com a participação de John Elkington, pioneiro do movimento global de sustentabilidade; Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos; e moderação de Ana Lucia Melo, diretora-adjunta do Ethos; John falou sobre o conceito de cisnes verdes e como eventos significativos podem conduzir mudanças positivas de paradigmas, valores, tecnologia, modelos de negócios e outros fatores, além de explicar sobre como transitar para um modelo que oferece progresso exponencial na forma de riqueza econômica, social e ambiental, dando destaque também a urgência climática.

“Somos obrigados repensar modelos de relação social e produção com essa pandemia. Entendemos que há espaço para o setor produtivo, o governo e a sociedade, para que façam a escolha certa e estejam do lado certo da história”, pontuou Ana Lucia antes da exposição de John, que iniciou endossando a fala da diretora-adjunta: “Ainda temos lacunas enormes para serem preenchidas na produção sustentável e começamos a ver uma amostra, ainda bem fraca, do que vai acontecer daqui alguns anos a partir do impacto corporativo. Mesmo as pessoas que têm interesse no capitalismo, conseguem ver a necessidade de uma mudança profunda nesse sistema. O governo está de um lado em que somente o que importa são os negócios e o financeiro”.

Ao explicar sobre o conceito do cisne verde, John respondeu aos questionamentos feitos por Ricardo, falando sobre as diferenças entre o cisne verde e o cisne negro: “O cisne negro leva você numa direção que você não quer ir e ele ocorre porque fizemos alguma coisa de errado, falhamos em alguma área e isso vai ter alguma consequência não intencional. No cisne verde, você tem que trabalhar constantemente e investir nele por um longo tempo para que ele resulte no esperado, o impacto positivo”.

Ricardo Young agradeceu a participação de John Elkington agradecendo por compartilhar suas experiências e sua visão de futuro.

A pior crise da história, o que isso significa?

“A pior crise da história do capitalismo. Um baita impacto para todas as nações. Uma queda descomunal”, foi a análise de Rosa Maria Marques, ex-presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES).

Rosa avaliou ainda que acompanhando o noticiário aqui no Brasil parece que não há um entendimento que os efeitos da crise não vão passar tão logo. “Esse entendimento do país voltar a crescer é errôneo, porque o Brasil não é uma ilha e se as outras economias estão em dificuldade, como poderíamos retomar o crescimento?”, indagou. A economista destacou ainda que “a crise continuará até que tenhamos uma vacina” e que até lá “ficaremos numa situação de abre e fecha, como temos acompanhado na China, onde mesmo após o pico da pandemia não se consegue produzir como antes”.

Sobre a situação das empresas, Rosa avalia que “em linhas gerais estão aproveitando esse momento para rever as relações de trabalho, numa reestruturação interna”. 

O maior desafio da nossa geração e o papel das lideranças empresariais

O painel “O maior desafio da nossa geração e o papel das lideranças empresariais” foi pensado a partir da iniciativa “Carta Aberta às Lideranças Empresariais”, liderada pelo Instituto Ethos, Capitalismo Consciente Brasil, Plataforma Liderança com Valores, Sistema B, GIFE e Instituto GESC, com o objetivo de buscar a adesão de lideranças empresariais para o enfrentamento da tripla dimensão da crise que se abate sobre o país: sanitária, econômica e política.

Participaram da discussão, compartilhando seus pontos de vista e experiências sobre essa construção coletiva necessária, Andre Lopes, presidente da Shell Brasil; Caio Magri, diretor-presidente Ethos; Francine Lemos, diretora executiva do Sistema B Brasil; e Jayme Garfinkel, executivo e acionista da Porto Seguro Seguros. A moderação do debate ficou por conta de Rejane Romano, coordenadora de Comunicação do Ethos.

Os palestrantes ressaltaram a necessidade das empresas terem papel ativo em ações que sejam capazes de gerar impacto positivo na sociedade a partir da crise que tem se instalado no país. Entre os pontos mais importantes destacados para superação da crise, foi ressaltada a necessidade de romper com qualquer tipo de polarização, defender a democracia, recuperar a ética no país e apostar na estabilidade política e econômica, gerada a partir da inclusão social.

“Estamos lidando com um mundo muito complexo e as soluções precisam ser conduzidas de uma forma diferente. A crise nos trouxe a necessidade de uma cooperação radical e a carta é o tipo de iniciativa que precisamos, porque acreditamos no poder dos negócios para gerar uma transformação. Precisamos pensar e fazer diferente para conseguir enfrentar todos os problemas que temos, precisamos começar a falar sobre impacto social positivo, as empresas e a sociedade precisam pensar de uma maneira diferente que vai demandar cooperação e criatividade”, apontou Francine Lemos.

Saberes, ciência, ética e a grandeza das florestas

Philip Martin Fearnside, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus (AM), falou sobre os desafios éticos e a grandeza das florestas da Amazônia, abordando questões como o desmatamento e os perigos para a floresta com o aquecimento global.

“Além do desmatamento, há outras ameaças para a Amazônia. O aquecimento global é até pior, pois no caso do desmatamento é possível decidir não fazê-lo, está sob nosso controle, apesar de não estarmos vendo isso acontecer. Mas, as mudanças climáticas ganharam uma proporção muito maior”, disse.

Como exemplo prático da situação de exploração da Amazônia, Philip contou sobre a como a BR-319 viabilizou o surgimento de canais ilegais de desmatamento na Amazônia. “Há vários tipos de atores que passaram a acessar essa área amazônica a partir da BR-319. Uma área que estava, até então, protegida pela falta de acesso. Grileiros, são um exemplo dos exploradores que tiveram acesso a essas terras”.

E, o pesquisador concluiu refletindo que “há muitos problemas éticos envolvidos aqui no Brasil na questão das florestas. Existe um discurso em voga, uma mensagem de que tudo é permitido na Amazônia e que pode desmatar que depois tudo será perdoado. A mensagem é de que tudo está liberado, por isso o recorde de desmatamento o ano passado, que tudo indica que irá se repetir esse ano”.

Por: Rejane Romano e Laís Thomaz, do Instituto Ethos

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