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CONFERÊNCIA ETHOS

Segundo dia da Conferência Ethos deu espaço a potentes diálogos e representatividades

De empresários a ativistas, convidados apresentaram reflexões embasadas e atuais

10/07/2020

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No dia 09/07, foi ao ar o segundo dia de exibições de painéis da Conferência Ethos 2020. Os debates, que estão sendo transmitidos através do canal do Ethos no YouTube, permearam diversos temas que estão em alta na conjuntura atual.

Os cinco painéis trouxeram especialistas que analisaram as possibilidades de implementação da renda básica universal, transcorreram sobre a crise econômica e sobre o quanto a preservação dos empregos é essencial no atual cenário, e terminaram falando sobre o racismo e a libertação negra.

Leia abaixo os destaques de cada diálogo:

O avanço do debate sobre renda básica e a guinada do bem-estar

A renda básica universal foi analisada por Elizaveta Foulksman, doutora em Desenvolvimento Internacional pela Universidade de Oxford e pesquisadora do St John’s College, e Tereza Campello, economista e professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde da Escola Fiocruz de Governo, sob o prisma da viabilidade de sua implementação e também quanto aos recursos para tornar essa necessidade factível.

“Essa renda básica deve ser redistributiva. Uma das características deve ser de aliviar as desigualdades, através de uma nova distribuição de recursos. Sempre aliada a uma reforma tributária (…) O custo real é muito pequeno, seria o dinheiro que os ricos terão que abrir mão”, destacou Elizaveta, que seguiu apontando que para tanto “não há escassez de recursos, mas sim um acúmulo exagerado, com muito para alguns, em detrimento de outros”.

Sobre o atual momento, em que a renda básica emergencial foi adotada frente a redução de renda causada pela pandemia de coronavírus, a doutora em Desenvolvimento Internacional acredita que “é perigoso”, pois as medidas foram implementadas em atendimento as pessoas que estavam empregadas e perderam renda. “Não é assim, a renda básica universal deve ser permanente e não apenas para mitigação de crise, pois outras crises virão, não podemos perder a oportunidade de fazer uma transformação de vida real”, avalia.

Já Tereza Campello, iniciou sua fala analisando como seria se a renda básica emergencial não tivesse sido adotada no Brasil. “São 45 milhões de brasileiros, de adultos, sem renda alguma. O Brasil estaria numa hecatombe se a renda básica emergencial não tivesse sido implementada”, acredita a economista.

Ainda sobre as condições para adoção da renda básica universal, Tereza analisa que temos que fazer um debate sobre a reforma tributária, o que segundo ela nunca aconteceu aqui no Brasil. “Temos que ver como são pagos os impostos no Brasil, quem paga e como paga. Essas questões devem estar na mesa quando formos discutir sobre renda (…). Pegar o dinheiro dos pobres e distribuir para os ainda mais pobres não é renda básica, é a injustiça das injustiças”.

A economista finalizou dizendo que temos como começar a renda básica universal a partir do programa que já temos, que é o Bolsa Família. “Temos um caminho pronto, que pode ser ampliado e está comprovado por especialistas que dá certo”, concluiu.

A pior crise da história, o que isso significa?

Ricardo Henriques, economista e superintendente executivo do Instituto Unibanco participou de uma conversa com Paula Oda, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos. Já Mário Theodoro, economista formado pela UnB, com mestrado em economia pela UFPE e doutorado em Ciências Econômicas pela Université Paris I (Sorbonne) enviou um vídeo explanando sobre a questão.

Como provocação inicial, Paula observou que existem diferentes reflexões sobre a tríplice crise que vivemos, mas que uma das principais, “sem dúvida é a crise econômica”, por isso o tema da atividade. “Em 2020, a pandemia levou a uma parada repentina na produção global, uma nova crise e um novo dilema, que atinge proporções expressivas na dinâmica global. No Brasil, a previsão é de queda de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional com essa crise. As bases que vão se estabelecer trazem novos conflitos no setor empresarial”, destacou Paula.

No vídeo, a mensagem de Mário pontuou que “no Brasil, temos 3 características no mercado de trabalho que devem ser levadas em consideração nesse momento: a informalidade; a alta taxa de rotatividade da economia brasileira, o que dá muita incerteza e insegurança aos trabalhadores; e, a segmentação salarial, o gap entre o maior e menor salário é muito grande”.

Ricardo, por sua vez, foi categórico ao dizer que “vamos entrar numa nova recessão sem ter saído da anterior, isso nunca tinha acontecido e vai acontecer agora. Isso é um agravante na crise. Outro agravante é a ausência e a inércia do governo federal na condução do país durante a pandemia, na crise da saúde, na economia e na sociedade. Falta uma visão humanista recorrente, perturbadora e vergonhosa, além da falta de sentido de urgência no governo”, avaliou.

O economista concluiu dizendo que “estado de bem-estar que o Brasil precisa tem que ser protegendo ativamente os mais pobres e vulneráveis e tem que caber no nosso PIB.”

Não demitir – um compromisso e um desafio

“Vivemos uma crise global sem precedentes e um dos efeitos dela é a escassez de recursos, a economia se retrai e alguns setores sofrem mais do que outros e vamos falar um pouco sobre isso nesse painel”, foi a fala de abertura do diretor-adjunto do Ethos, Felipe Saboya, no diálogo que mediou, “Não demitir – um compromisso e um desafio”.

Daniel Castanho, presidente do Conselho de Administração e um dos fundadores da Ânima Educação, foi quem trouxe suas experiências nessa agenda e falou sobre sua participação no movimento Não Demita!: “Eu escrevi o manifesto, mas o manifesto de uma pessoa, de uma empresa só, não é um manifesto, é uma revolta. Aí mandei um WhatsApp para outros empresários que conhecia e resolvemos fazer o site e o movimento. Em poucas horas, já tínhamos 50 grandes empresas engajadas”, lembrou.

Para Daniel, o desafio agora é o da reinvenção das empresas. “Esse é o momento em que percebemos que a solidariedade é essencial e precisamos pensar que somos parte de um grande ecossistema”, acredita.

Desinformação – custos para as empresas e para a sociedade

Cristina Tardáguila, fundadora e sócia da Agência Lupa, resgatou como o processo de fake news se deu no Brasil. “Nos preparávamos para a enxurrada de fakes news que viria no Facebook como aconteceu nos EUA. Daí fomos surpreendidos por uma greve de caminhoneiros que ganhou força no WhatsApp, o que veio a se repetir nas eleições de 2018”, relembrou.

A fundadora e sócia da Agência Lupa, abordou também a indefinição sobre o termo fake news. “É muito complexo definir no papel o que é isso. As definições são curtas demais ou tão longas que não cabiam como uma clara definição. A gente não sabe descrever num papel, com caneta, o que é fake news”, disse.

Para Cristina, há três caminhos para solucionar o problema da desinformação “Cooperação – entre as diversas camadas da sociedade; colaboração – entre jornalistas e demais pessoas da sociedade civil, que devem fazer parte dessa discussão; e, educação – para elaborarmos um currículo escolar que possa ensinar as futuras gerações a identificar o que é um artigo de opinião”.

Bia Barbosa, jornalista, especialista em direitos humanos e mestre em Gestão e Políticas Públicas pela FGV-SP, falou sobre o Projeto de Lei das Fake News. “O Projeto de Lei (PL) que está em tramitação é muito perigoso, pois dá as plataformas um poder que não deve a elas e que elas não querem. Instagram e Facebook não tem que fiscalizar essa situação. E, quando derrubam páginas não é democrático”, explicou a jornalista e continuou: “O PL tem alguns pontos interessantes, como jogar luz sobre como essas plataformas funcionam e estão operando. Também entender e dar visibilidade para que o usuário saiba quando está lidando com um robô ou com uma pessoa e dar transparência aos conteúdos impulsionados, para que as pessoas saibam ‘quem’, ‘quais contas’, ‘que empresas’ estão por traz desses impulsionamentos (…). O projeto avança também quando proíbe a disseminação massiva de mensagens, os serviços de mensageria privada. E, também avança quando traz uma série de responsabilidades ao poder público, uma obrigação ao judiciário de desenvolver até mesmo juizados especiais para que a resposta da justiça seja mais rápida”.

Direitos Humanos e o legado dos movimentos negros

Por mais que saibamos o quanto o racismo é prejudicial, ouvir mulheres negras apresentando falas potentes sobre a questão provoca reflexões quanto ao papel de cada um de nós nessa luta, que não é apenas dos negrxs.

“A sociedade brasileira não negra tem que refletir sobre seus privilégios porque eles retiram direitos da população negra (…). A sociedade precisa começar a olhar ao seu redor e questionar qual é a condição de vida das pessoas negras e pode começar com a condição de vida da pessoa negra que está ali do seu lado, limpando o seu banheiro”, alertou Maria Sylvia Aparecida de Oliveira, advogada e presidenta do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Apesar do debate a respeito do racismo estrutural estar em voga, como observou Scarlett Rodrigues, analista de Projetos do Instituto Ethos, ao dizer que “a população negra está mais sujeita às consequências negativas da pandemia”, a Panamense, Yvette Modestin, escritora, poeta, contadora de estórias e ativista, analisa outras situações enfrentadas pelos negrxs. “A violência policial não é nova, o que é novo agora é que pegamos isso em vídeo (…). Jovens negros estão sendo mortos todos os dias de todas as semanas no Brasil. Estamos sendo mortos em todos os lugares. O movimento precisa que falemos de nossas verdades e olhemos através das barreiras de linguagem, e é isso que o Black Lives Matter quer dizer”, explicou.

Maria Sylvia, também falou a respeito do atual momento. “Vivemos uma crise pandêmica que traz a luz que grande parte da população negra não tem direito a saneamento básico, estão em trabalho informais e degradantes, além de não ter como cumprir o isolamento social e se proteger. Vimos que 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água, essencial para evitar a contaminação de coronavírus”, ponderou.

E, Yvette concluiu analisando que a questão do racismo transcende nacionalidades. “Quando eu ando na rua, eles não ligam que eu nasci no Panamá e falo espanhol, tudo o que eles veem é uma mulher negra e como eles se sentem a respeito da negritude. As pessoas brancas têm que lidar com seu próprio racismo e com seus próprios privilégios e agora não tem como ser só falar, tem que ter ação”.

 

Ao todo, serão 25 semanas de Conferência Ethos, que vai até o dia 17 de dezembro, sempre às quintas-feiras, no canal do Ethos no YouTube, onde os vídeos das atividades ficam salvos. É importante a inscrição no canal para não perder os diálogos que mais interessam e que são divulgados no site: conferenciaethos.org.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

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