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Último dia da CBMC 2020 trouxe reflexões e protestos

Atividade das 17h30 demarcou descontentamento com o governo federal

13/11/2020

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“Tem muita coisa para governo fazer, mas ele fica inventando estórias para que as pessoas olhem para essas atitudes dele e não cobrem o que de fato seria necessário para o Estado brasileiro”, disse Toya Manchineri, membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), que também é coordenador de Área de Território e Recursos Naturais da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), é presidente da Manxinerune Tsihi Pukte Hajene (MATPHA) e representante da COIAB no Grupo de Governança do Fundo de Emergência da Amazônia (AEF).

O desabafo de Toya reflete o que foi dialogado nos dois dias de Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC), que aconteceu em 5 e 12 de novembro, de forma online e gratuita, sendo transmitida pelo canal do Ethos no YouTube. Ao todo, foram 21 atividades que podem ser acessadas na playlist do evento.

De forma a destacar alguns dos temas apresentados nesta quinta-feira (12), temos o painel “Perfil das Emissões Brasileiras de Gases de Efeito Estufa (GEE) nas últimas três décadas”, no qual Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) e do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), apresentou dados da última edição do SEEG.

“Em 2019 emitimos um total de 2.2 giga toneladas, sendo que as mudanças de uso da terra, que inclui o desmatamento, somam 44% das emissões. O Brasil é o 5º maior emissor, sendo que 2/3 vem da queima de combustíveis fósseis. O que realmente fez toda diferença foi, de fato, a questão de uso da terra, com o desmatamento na Amazônia. Se olhamos a série histórica, temos de 1990 a 2003, um crescimento quase contínuo; de 2004 a 2010, um período de aumento paulatino; tendo agora, em 2019, um aumento mais expressivo, o maior desde 2013. As emissões per capita, são 10.4 toneladas por habitante. Um carro pequeno emite uma tonelada por ano. É como se cada brasileiro estivesse andando com 10 veículos. É a maior emissão per capita do mundo”, explicou Tasso.

 O coordenador do SEEG observou ainda a posição do Brasil, frente aos acordos internacionais assumidos. “Quanto aos compromissos do Brasil, temos que reduzir as emissões em 2020, como relação ao inventário de 2005, não emitir mais de 2 giga toneladas. Mas, em 2019, já chegamos a esse número de emissões. Quanto ao compromisso do Acordo de Paris, temos uma meta até 2025 (…). Quando projetamos para o próximo ano, há um aumento importante, com a previsão de que o Brasil não conseguirá cumprir a meta. Nos distanciamos da meta, mas basta que a gente reduza pela metade o desmatamento. É plenamente possível”, constatou.

“O oceano de amanhã frente aos desafios da sua sustentabilidade hoje”, foi uma das atividades que abordou a questão dos oceanos e contou com a participação de José Antônio Bertotti Junior, secretário do Meio Ambiente e Sustentabilidade na SEMAS Pernambuco; Camila Yamahaki, pesquisadora do Programa de Finanças Sustentáveis (blue carbono) da FVGces; e João Luiz Nicolodi, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (FURG).

“O relatório do IPCC de 2018 trouxe apontamentos de que podemos perder os recifes de corais se alcançarmos os 2°C “, alertou Bertotti. Já Yamahaki, dedicou sua fala a abordar os possíveis investimentos para a área ambiental. “Cerca de 15 milhões foram emitidos pelo Green Bonds (títulos verdes) para serem utilizados para proteger áreas marinhas, pesca sustentável e demais atividades para o desenvolvimento de uma economia azul. De acordo com uma pesquisa, os investidores estão satisfeitos em investir na economia azul, mas na indústria de investimentos há pouca expertise no tema (…). No Brasil, temos a oferecer uma costa gigantesca, um potencial enorme quanto a pesca, energias renováveis, turismo e de conservação dos ecossistemas marinhos, como os manguezais, que têm uma possibilidade enorme de sequestro de carbono”, avaliou a pesquisadora que concluiu afirmando que “podemos estudar e verificar a viabilidade de um mercado de Green Bonds aqui no Brasil”.

Nicolodi falou sobre a questão da poluição marinha por óleo. “A poluição por óleo e derivados é indesejável, mas o ponto de análise é ‘quando’ vai acontecer e não ‘se’ vai acontecer”, observou ele. “Numa sociedade consumista, negacionista e de ostentação da burrice, como a questão da terra plana, me faz pensar que essa questão da sustentabilidade é uma utopia. Mas, ainda que utópica deve ser alcançada. No caso do óleo, devemos tentar minimizar os impactos com ferramentas técnicas operacionais, com os aspectos de governança e a educação e capacitação de comunidades, com comunicação sobre os fatos. Algo importante nesse contexto de prevenção deve considerar três grandes pilares equilibradamente: ciência, gestão e educação”, explicou.

Mas, foi no painel exibido às 17h30, “A floresta, seus povos, a atuação e a liberdade das ONGs – defesa da Amazônia, da democracia e dos direitos constitucionais”, que todas as reflexões apresentadas ao longo do dia ganharam tom de protesto e indignação.

Toya Manchineri destacou que o diálogo na CBMC era “muito importante para o momento atual, no debate que vem se travando sobre o controle das organizações não governamentais na Amazônia”. Segundo ele, “essas ações vêm de um governo autoritário, que a todo momento tenra deslegitimar tanto os órgãos de defesa, quanto os órgãos da sociedade civil” e que “esse controle do governo significa um retrocesso enorme para as populações que ali vivem”.

E disparou: “Bolsonaro deveria pensar: e em vez de controlar as ONGs, atender aos acordos internacionais que o Brasil é signatário. Até o final desse ano o Brasil deveria ter desmatamento zero e o que estamos vendo é o contrário. Somos totalmente contrários ao governo Bolsonaro, em querer fazer esse controle. As demarcações, essas sim, seriam uma forma do governo brasileiro cumprir com os acordos internacionais, como a diminuição da emissão de gases de efeito estufa até 2030. Mas não, o governo fica culpando as ONGs e indígenas. Penso que é o momento do governo brasileiro começar a trabalhar e honrar os votos que recebeu, pois até agora ele só está trabalhando para destruir a imagem do Brasil no cenário nacional e internacional”.

Adriana Ramos, assessora do Instituto Socioambiental (ISA) seguiu o tom de denúncias e analisou que desde o início do governo Bolsonaro houve “essa tentativa de controlar as ONGs, o que foi rechaçado por atentar contra o direito da população brasileira”, afirmou e continuou: “é flagrante a falta de política desse governo, o desrespeito à Constituição e a visão tacanha em relação a agenda ambiental. É reconfortante que num governo como esse sejamos considerados inimigos. Eu tenho orgulho disso”, destacou Adriana.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Unsplash

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