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CONFERÊNCIA ETHOS

Vivências das empresas e experiência dos povos indígenas foram destaques na Conferência Ethos

Entrevista sobre pequenos negócios foi transcrita e pode ser lida no texto

28/08/2020

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Semanalmente, desde o dia 2 de julho, temos compartilhado destaques das atividades da programação da Conferência Ethos 2020. Mas, além do texto abaixo, todas as lives ficam disponíveis, gratuitamente, para acesso no canal do Ethos no YouTube.

15h – Como as empresas se preparam para superar a pandemia e gerenciar futuras incertezas?

Três grandes empresas brasileiras falaram sobre o enfrentamento da crise do coronavírus e a respeito das perspectivas para o pós-pandemia.

Andrea Mota, diretora de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa da Coca-Cola Brasil, relatou os aprendizados com a crise. “Por ser uma empresa global, temos a chance de aprender com os exemplos lá de fora. Então, quando a crise chegou aqui já sabíamos que tínhamos que focar na saúde das pessoas. Outro aprendizado foi que sabíamos que deveríamos nos preparar para um período mais longo. E, o terceiro aprendizado foi que deveríamos ouvir os outros e trabalhar de forma colaborativa”, lembrou e, ainda contou sobre um acontecimento: “tínhamos um planejamento do ano de 2020, no qual constava uma campanha que falava de juntar as mesas. Como isso seria possível num momento de distanciamento físico? Não dava para continuar. Rasgamos nosso planejamento e tivemos que fazer do zero. Cancelamos projetos e adiamos lançamentos, pois, tinham coisas que não faziam mais sentido. Tivemos que usar nossa capacidade de se reinventar”, disse.

Glauco Paiva, gerente executivo de Relações Externas da Shell Brasil, contou que a Shell Brasil atuou de acordo com três “C’s”. “O primeiro ‘C’ foi o de de ‘Cuidado’ e, nesse sentido, a ajuda humanitária e resposta social que desenvolvemos, como a doação de cestas básicas para catadores e quilombolas (…). No segundo ‘C’, de ‘Continuidade de Negócios’, atuamos para garantir a segurança de nossos colaboradores, com a ampla testagem para garantir um ambiente descontaminado. E, no terceiro ‘C’, de ‘Caixa’, a preservação de caixa, a queda financeira que é extremamente cruel para as pequenas empresas, mas também afeta as grandes”, explicou.

Glauco falou ainda sobre com a empresa tem atuado quanto a agenda ambiental. “Na Shell, mesmo nesse momento, ampliamos a nossa ambição na agenda ambiental. Isso passa por tecnologia, mas também por termos uma abordagem sistêmica. Só as empresas não vão dar conta da emergência climática. Só os governos não vão dar conta e só os cidadãos também não. Não há outro caminho que não o compartilhado”, avaliou.

Michelle Shayo, diretora de Assuntos Governamentais e Comunicações para o Brasil da Alcoa, falou sobre o pós-pandemia. “Brincamos que quando falamos ‘novo normal’ uma fada morre. Não quero repetir para não matar fadas, mas nesse ‘novo normal’ temos que analisar como trazer os valores que nos guiam para as políticas públicas” analisou e continuou: “temos atuado nos municípios não só em saúde, mas nos legados de cultura e tecnologia. Inclusive em pensar como apoiar esses municípios para que tenham a tecnologia necessária para assistir eventos online como a Conferência Ethos e para as aulas virtuais, por exemplo. Com certeza um legado desse momento será a democratização da informação”, ponderou.

17h20 – As pequenas e médias empresas e os desafios para sobreviver à pandemia

Como um desdobramento da primeira live, Giovanni Beviláqua, analista técnico da Unidade de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae Nacional, conversou com Leonardo Dufloth, coordenador de Mobilização de Novos Associados do Instituto Ethos, numa entrevista, conforme os destaques abaixo:

Leonardo Dufloth: Nosso objetivo é falar das dificuldades das pequenas e médias empresas e sobre os desafios durante a pandemia. Como atravessar o processo de retomada nesse momento?

Giovanni Beviláqua: Desde o início da pandemia, no final de março, estamos monitorando os impactos dela nos pequenos negócios. Já sabíamos que seria um grande impacto, só não tínhamos noção de quanto duraria. Se falava em três meses, mas já estamos num período maior de redução da atividade econômica. Os pequenos negócios no Brasil, são considerados todas as empresas com faturamento até 4 milhões de reais. São 17 milhões de CNPJs no país, empresas responsáveis por 30% do nosso PIB e por metade dos postos de trabalho. Falar dos pequenos negócios é falar da economia brasileira. A queda no faturamento atingiu mais as empresas até abril. De lá para cá, observamos uma melhora, com sinais de recuperação, mas, ainda é uma situação preocupante. Alinhado a isso, há toda a dificuldade de acesso ao crédito que essas empresas enfrentaram. Não por causa da pandemia, mas há uma dificuldade história e estrutural de acesso ao credito, uma situação evidenciada nesse período. Temos que avaliar como melhorar o ambiente de negócios nesse setor.

Leonardo Dufloth: Estamos num momento importante para conversar sobre como fazer uma retomada sustentável. Mas também, para analisar o que deu errado para as empresas que tiveram que fechar as portas e a questão do crédito no Brasil para as pequenas e médias empresas.

Giovanni Beviláqua: Realmente, o impacto sobre a economia foi grande. Para ter ideia de quão profundo foi, a última crise econômica vivenciada pela humanidade foi nos anos 30, a grande depressão e, na época, demorou três anos para que o nível de atividade econômica caísse como agora, na pandemia de coronavírus. Não há paralelo em nossa história econômica, nenhuma empresa estava preparada para isso. No caso dos pequenos negócios, eles não têm uma gestão financeira apurada. No início da pandemia, estimamos que os pequenos negócios não tinham sobrevida a 30 dias após a paralisação das atividades. Esse é um ensinamento quanto ao maior cuidado e planejamento da gestão financeira dos negócios. Com pouco acesso à credito e pouca reserva, se evidenciou a necessidade de um maior controle e planejamento. Também não podemos esquecer que todo crédito representa uma dívida. Uma empresa que sempre precisa de crédito para completar seu capital de giro, precisa de uma melhor gestão financeira.

Leonardo Dufloth: Uma tônica que se repetia nas empresas que tivemos a oportunidade de conversar aqui no Ethos foi a velocidade como foram impactadas e tiveram que agir.

Giovanni Beviláqua: O processo de transformação digital foi importante para os negócios que tiveram sucesso, até conquistando aumento no faturamento entre as empresas que passaram a atuar no online. Houve um aumento de 7% dos empresários que passaram a atuar no virtual. Uma maior inserção no digital, na obtenção de receitas não presenciais, não só representou sucesso em sobreviver a este período, mas também apontou para uma transformação na economia brasileira. Uma tendência para os pequenos negócios é a atuação no ambiente online, com maior investimento para atuar dessa forma.

Leonardo Dufloth: Os artesãos foram muito impactados, até como um desdobramento do turismo ter sido afetado?

Giovanni Beviláqua: O setor de artesanato foi um dos que tiveram uma grande queda, cerca de 70% no faturamento. Em meados de julho, estava 47% menor e essa recuperação, sem dúvida, se deve a inserção digital também nesse segmento. Esse período de pandemia serviu para mostrar sobre a fidelização de clientes, mas sobretudo pela conquista de novos clientes no ambiente digital.  O setor de turismo ainda sofre bastante, teve uma queda de 80% no início da pandemia e hoje opera com 74%, ainda bem menos do que antes. As medidas de isolamento tiveram um impacto muito grande e agora nos últimos meses isso vem mudando por conta dos protocolos de segurança. O Sebrae preparou uma série de protocolos para todos os segmentos. No www.sebrae.com.br/coronavirus há todo conteúdo. O Sebrae Consulta também é uma importante entrega que fizemos para apoiar as empresas. Nossa atuação é múltipla, em várias frentes: com empreendedores, parceiros e governo.

Leonardo Dufloth: Você acredita que a veia empreendedora possa ser afetada por causa da crise?

Giovanni Beviláqua: Acredito que não. Já vivemos diferentes momentos. O mercado está crescendo muito com empresas que já nascem digitais e, aliado a isso, há o crescimento de um sistema de financiamento para esses negócios. É um mercado que tende a crescer muito no Brasil. Ainda temos uma proporção muito pequena se comparado aos Estados Unidos e Europa. Imagine um Facebook e uma Amazon se não tivessem o apoio à inovação? Esse apoio é essencial para o desenvolvimento da economia. O espírito empreendedor é do brasileiro, um povo muito criativo que inventa soluções para os problemas que enfrenta. Acho que, pelo contrário, a perspectiva que deve ser observada é do surgimento de negócios a partir do desafio com a pandemia.

Leonardo Dufloth: O empreendedorismo pode ser uma saída frente ao grande número de demissões, uma mudança de vida?

Giovanni Beviláqua: Sim. Pode parecer um eufemismo, mas é bem por aí, fazer litros de limonada com os limões que temos encontrado pelo caminho.

Leonardo Dufloth: O que fica de legado da pandemia, o que fica de limonada?

Giovanni Beviláqua: Fica uma limonada quanto a digitalização e de lições que estão sendo aprendidas, como a interligação entre os negócios e o desenvolvimento sustentável. Da gestão dos negócios, do planejamento… temos que pegar todos esses limões e transformar numa limonada que resulte em mais igualdade, que possa resultar numa economia mais justa para todos.

18h30 – Morte na floresta – um diálogo com a antropóloga Aparecida Vilaça

Aparecida Vilaça, antropóloga e professora titular do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ, conversou com Edson Lopes, gerente-executivo do Instituto Ethos.

“A pandemia é uma consequência da exploração. Uma particularidade é que as desigualdades tendem a distribuir socialmente e desigualmente os riscos, sobretudo para indígenas, negros e pobres, que se tornam as vítimas dessa grande pandemia”, disse o gerente-executivo do Instituto Ethos.

Aparecida respondeu explicando que: “Quando as epidemias chegavam aos indígenas, as pessoas que levavam as doenças já estavam imunes, mas os índios continuavam sofrendo e morrendo por conta delas. Mesmo quando os índios têm acesso aos tratamentos, embora tenhamos uma saúde especial para essa população, essa secretaria vem perdendo verba e tem menos recursos para remédios e tratamentos nas aldeias em si. Em casos mais graves, quem acaba atendendo é o SUS, que está sobrecarregado. Vários motivos, como a distância, a vida coletiva e a dificuldade de ter acesso à saúde mais sofisticada, fazem com que as mortes entre os indígenas estejam acontecendo em maior proporção do que as mortes entre os não indígenas”.

A Antropóloga pontuou ainda que “nesse momento, o que está acontecendo é o isolamento involuntário. Povos inteiros e aldeias que já tem contato com os brancos e dependem de recursos do governo para se manter, foram obrigados a se isolar e ficaram numa posição difícil com muitas pessoas doentes e dificuldade de caçar, por exemplo (…). A ideia de isolamento que achamos que é possível, para os indígenas é inconcebível, porque suas relações são muitos constitutivas. Se essas pessoas param de estar juntas e se isolam, têm risco de serem capturadas por espíritos, têm risco de morrerem. Esse protocolo de isolamento é muito difícil deles conceberem. Quando alguém está doente, toda a família tem que ficar junto dessa pessoa, a presença de outra pessoa ao lado do doente é essencial para a sobrevivência dela. O isolamento do doente é ainda mais custoso e difícil para as pessoas indígenas”, explicou.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Pixabay

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