Em tempos de crise política e econômica e do desencanto da população diante de seus governantes, é primordial reavaliar relações e corrigir os aspectos que as atravancam — e, consequentemente, impactam profundamente o Brasil. Uma empresa, sozinha, pode não ter força para realizar grandes transformações no cenário macroeconômico, mas a união de organizações de um mesmo setor proporcionaria a evolução de agendas importantes ao país e poderia ser o impulso necessário para o crescimento da economia nacional.

Uma das 18 atividades que aconteceram simultaneamente, ao longo do dia 16 de junho, na primeira edição da Conferência Ethos 360° no Rio de Janeiro, tratou sobre os benefícios que um acordo setorial ocasionaria para a indústria de petróleo e gás. Os acordos setoriais são firmados entre companhias de um mesmo segmento, que assumem compromissos em uma ação coletiva e consideram em suas práticas e estratégias de negócios preocupações socioambientais. No caso de petróleo e gás, o foco seria a construção de diretrizes que as empresas do setor devem adotar para o combate à corrupção.

Tendo em vista o sucesso de acordos semelhantes, a mesa debateu a melhor forma de iniciar um pacto desse porte. Dois bons exemplos são o Ética Saúde, acerto entre as organizações da área de saúde, com quase 300 signatárias, e o Pacto pelo Esporte, assinado em outubro por mais de 20 empresas (entre elas, diversas patrocinadoras de grandes entidades esportivas do Brasil) para promover a integridade nos esportes. Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, ressaltou a relevância que ações desse tipo têm para o desenvolvimento sustentável no país.

Participaram do diálogo João Elek, diretor de Governança, Risco e Conformidade da Petrobras, Jorge Abrahão, diretor-presidente do Ethos, Mauricio Bove, gerente jurídico do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), e Paulo Stark, presidente e CEO da Siemens no Brasil.

Independência e pactos
O sucesso do combate à corrupção depende de questões como a independência dos agentes públicos em relação a assuntos políticos e a criação de compromissos reconhecidos pela sociedade e administração pública. É o que acredita o presidente e CEO da Siemens, Paulo Stark. Para ele, um acordo setorial só é efetivo desde que “sejam envolvidos atores [estratégicos] fundamentais”. Mauricio Bove, por sua vez, diz que a consistência da iniciativa também depende da construção de mapas de risco e de um modelo que comporte colegiados de monitoramento.

O diretor e representante da Petrobras no evento, João Elek, enfatizou que é essencial ter um trabalho intenso de base, de modo que as empresas nivelem seus controles internos e mecanismos de prevenção de quaisquer atos ilícitos. Se valores de transparência e integridade, por exemplo, consolidarem-se em compromissos, quem não aderir a eles fica excluído do mercado. “A transparência é fundamental, é a prestação de contas à sociedade”, afirma ele.

Antes de tudo isso, é fundamental desmitificar a natureza desses acordos e demonstrar a sua importância para as empresas e para a sociedade. Os acontecimentos recentes são exemplos concretos da perda de valor de uma companhia diante de atos de corrupção e do quanto isso pode impactar no setor como um todo. É necessário que haja o engajamento e o comprometimento de parte significativa do segmento em uma retomada econômica sustentada por valores éticos e transparentes, de forma que se saia fortalecido dessa crise. Esse é, definitivamente, um grande desafio que teremos de enfrentar e uma ótima saída para o Brasil.

 

Por Paula Oda, do Instituto Ethos.

Foto: Gabriela Carrera