mirna2Hoje, o maior ator no desmatamento pode se tornar a principal solução no desenvolvimento sustentável do país. A conservação traz também retorno financeiro.                                           

Os desafios da responsabilidade compartilhada na gestão e na recuperação dos recursos hídricos foi tema do painel “A conservação das águas e dos rios do Brasil”, promovido pelo Banco do Brasil, no primeiro dia (22/9) da Conferência do Ethos 360° 2015.

No ano 2000, no II Fórum Mundial da Água, foi apresentada a “Visão Mundial da Água”, documento em que foram acordadas ações de proteção aos ecossistemas hídricos e de garantia de acesso à água potável a toda população mundial.  Hoje, 15 anos depois, o Brasil enfrenta uma grave crise hídrica na Região Sudeste e ainda todo o problema perene de escassez na região semiárida.

Segundo Devanir Garcia dos Santos, da Agência Nacional das Águas (ANA), são necessárias três grandes frentes de atuação. “Primeiro temos de agir na gestão da demanda, por meio do uso racional da água em todos os segmentos, buscando o máximo resultado possível por cada metro cúbico. Segundo, devemos atuar na gestão da oferta, pela conservação do solo e da água. Por último, precisamos agir no reúso, que depende de uma destinação adequada dos efluentes”, explicou.

mirnaFicou explícita ao longo das apresentações a interdependência entre o ambiente rural e o urbano. Isso fica ainda mais evidente sob o tema água. Forma-se então um círculo vicioso, no qual a floresta não sobrevive sem  água e não há produção de água sem a floresta. Para agravar a situação, as cidades produzem toneladas de resíduos repletos de componentes químicos que acabam nos cursos de água. “Estima-se que hoje, no Brasil, cerca de 40% dos corpos hídricos estejam poluídos”, ressaltou Mauro Armelin, da WWF-Brasil.

Sobre a importância da participação efetiva dos diversos atores no processo, Wagner Siqueira, gerente executivo da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil, ressaltou que, “para tratar de um problema complexo, temos que fazer arranjos complexos e envolver muitos saberes”. Há cinco anos, a instituição desenvolve soluções para que o financiamento agrícola seja mais pautado em práticas sustentáveis.

Siqueira cita o Programa Água Brasil, realizado em parceria com a ANA e a WWF. A iniciativa investe no desenvolvimento de projetos de agropecuária sustentável e na mudança de comportamento em relação à produção e destinação dos resíduos, o que diminui a pressão sobre os recursos hídricos.

Outro exemplo de sucesso apresentado no painel foi o Programa Produtor de Água, desenvolvido pela ANA e voltado para a melhoria das bacias hidrográficas por meio do pagamento de serviços ambientais aos produtores rurais.

Armelin , da WWF-Brasil, apontou o importante papel da agricultura na conservação das águas. “Hoje o maior ator no desmatamento pode se tornar a maior solução no desenvolvimento sustentável do país. A conservação traz também retorno financeiro.”

Citando um estudo do professor José Galizia Tundisi, Armelin destacou que o custo de tratamento de rios poluídos pode chegar a até cem vezes mais do que os investimentos em sua conservação. “A recuperação também não garante que todos os serviços daquele ecossistema continuarão sendo oferecidos. A escassez de água não vem da falta de reservatório e nem da falta de chuva, e sim como consequência da forma como tratamos o nosso sistema”, disse o executivo da WWF.

Ele concluiu lembrando que a principal lacuna hoje é a ausência do Estado no campo.  “A ANA é muito importante não só para regular, mas também para amplificar os bons exemplos que já existem em todo país.”

Por Mirna Castro Folco (Envolverde), para o Instituto Ethos.

Foto: Fernando Manuel