Produtos brasileiros podem conseguir uma vantagem competitiva em uma economia de baixa emissão de carbono.
Na tarde do dia 22, entidades engajadas com uma nova economia, de energias limpas e renováveis, expuseram, durante a Conferência Ethos 2015, seus esforços para propagar modos de produção sustentáveis e influenciar a posição do Brasil na próxima Conferência do Clima das Nações Unidas, em Paris.
Elas veem a 21ª COP – Conferência entre as Partes –, como uma grande oportunidade para o Brasil liderar propostas de metas de redução. “Reunimos 70 grandes grupos corporativos, que representam 40% do PIB nacional e esperam um acordo na França, para 2020”, comentou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Ela lembra que tecnologias de baixo carbono já existem. Falta ganharem escala.
“Temos 822 investidores internacionais e 74 membros corporativos cobrando de seus fornecedores ações sustentáveis”, afirmou Juliana Lopes, diretora para a América Latina do CDP (Carbon Disclosure Project), que incentiva a realização de inventários das emissões de gases de efeito estufa para auxiliar as escolhas de investidores do mercado de capitais. “Precisamos nos preparar para regulações futuras”, disse a executiva, que relatou esforços para estabelecer um valor para cada tonelada de carbono equivalente (CO2eq, “moeda” simbólica que permite medir a geração dos gases prejudiciais ao clima).
Contudo, as metodologias e fatores considerados ainda resultam numa variação excessiva, que vai de US$ 1,00 a US$ 357,00 por tonelada de CO2eq. “Precisamos de uma convergência, de novas regras mundiais que norteiem as tomadas de decisão e ações”, pontuou Grossi. “É importante contarmos com bons indicadores e comparar soluções. O modelo chinês, por exemplo, taxa grandes emissores e direciona os recursos obtidos para energias limpas e renováveis”, observou Flávia Rezende, do Instituto Ethos.
“Um total de 8.400 empresas, dentre as quais 400 brasileiras, aderiram ao Pacto Global pelo Clima”, informou Carlo Pereira, diretor da CPFL, uma das signatárias do documento proposto por Kofi Annan para mobilizar a comunidade empresarial internacional a adotar práticas de negócios pautadas por direitos humanos, relações éticas de trabalho, proteção ao meio ambiente e combate à corrupção. “O Brasil ainda adota uma postura muito defensiva quando questionado em relação a a suas emissões de poluentes. No entanto, essa é uma grande oportunidade, se olharmos para nossa matriz energética e outros fatores da produção nacional”, defendeu Pereira. “Tomemos o exemplo do alumínio. A precificação das emissões em sua cadeia nos favorece no cenário mundial.”
“O país tem condições ímpares para gerar commodities com baixa emissão de carbono. Se fortalecermos a restauração das florestas, envolvendo grandes e pequenos produtores rurais, sobressairemos internacionalmente”, afirmou Roberto Waack, uma das lideranças que integram a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. “Precisamos avaliar todas as externalidades e aprofundar as informações sob os pontos de vista de todas as partes envolvidas. O mercado é dinâmico e aposta nas tecnologias de baixo carbono, como nas energias solar e eólica, que se baratearam a ponto de vencer leilões de concessão”, avaliou Adalberto Marcondes, diretor executivo da Envolverde, a mais antiga agência de notícias socioambientais no Brasil, e mediador do painel. “Pelo que foi relatado, a potencialidade brasileira em carbono aumenta a competitividade dos setores produtivos nacionais”, finalizou Marcondes.
Por Neuza Árbocz (Envolverde), para o Instituto Ethos
Foto: Thiago Lopes