aliceCom engajamento e participação social, o Brasil celebra o bom desempenho nos ODM e já olha para os desafios colocados pelos ODS.               

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou em junho deste ano os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). A agenda substitui os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), que nortearam o desenvolvimento global desde o ano 2000. O Brasil teve bom desempenho nos oito ODMs, mas precisa se preparar para os 17 que compõem o novo documento e devem ser cumpridos até 2030.

A mesa de diálogo “Dos ODM para os ODS: resultados e desafios”, realizada em 22/9, primeiro dia da Conferência Ethos 360° 2015, foi uma celebração das conquistas, mas com um olhar ponderado para os desafios que estão por vir.

Os ODM foram pensados e implementados com metas ambiciosas: 1) erradicação da fome e da miséria; 2) educação básica de qualidade para todos; 3) igualdade entre os sexos e valorização da mulher; 4) redução da mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde de gestantes; 6) combater a aids, a malária e outras doenças; 7) qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.

O bom desempenho brasileiro deveu-se a um engajamento conjunto. Os oito objetivos foram traduzidos na campanha de ícones “Nós Podemos”. A linguagem gráfica simples ampliou a difusão da mensagem e a participação da sociedade civil.

O criador da campanha, Percival Caropreso, ressaltou a necessidade de que essa linguagem didática se repita na comunicação dos ODS. “Primeiro precisamos informar de fato, saber que a mensagem chegou. Depois a população precisa ser sensibilizada e saber o que tem a ver com isso”, comentou o presidente da Setor Dois e Meio Comunicação e Marketing, empresa que na época foi contratada pelo governo federal para a campanha de comunicação dos ODM.

Para Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, o cenário atual tem novos fatores, como a crise hídrica, que vão facilitar a conexão com as realidades.  “As pessoas estão vivenciando cotidianamente as consequências do nosso modelo de desenvolvimento predatório. Assim, é mais fácil elas perceberem a necessidade de mudança”, disse.

Ele lembrou que é preciso pegar os objetivos, analisá-los sob a luz da realidade brasileira e construir metas comuns. “Sociedade civil, empresas e governos precisam estar juntos nisso, pensando de forma integrada, mas olhando como cada setor pode superar seus desafios”, ponderou Abrahão.

Rodrigo Loures, que estava à frente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) no início da campanha dos ODM, trouxe um exemplo de como a adaptação dos temas às realidades locais facilita o desenvolvimento de projetos. “No município de Toledo (PR), professores mobilizaram um grupo de alunos e juntos eles escolheram lutar contra a dengue, o que entraria no ODM 6. Eles atuaram e o resultado foi que a cidade teve um dos melhores desempenhos do Estado no combate à doença.”

Renata Seabra, diretora executiva da Rede Brasileira do Pacto Global, concordou com a importância do olhar local, mas destacou a necessidade do comprometimento com o desempenho de outros países, que não estão em condições igualitárias em relação ao Brasil.

“É preciso ter consciência de que alguns  países, principalmente no continente africano, enfrentam grandes dificuldades em temas básicos, como a erradicação da pobreza. Os ODM têm uma frase importante, que é ‘Não devemos deixar ninguém para trás’. Esse pensamento deve ser fortalecido nos ODS”, enfatizou Renata.

Ela destacou ainda o papel das empresas nessa missão. O Pacto Global elaborou dez princípios relacionados ao desenvolvimento humano para as organizações empresariais. “O setor privado foi um parceiro fundamental em alguns ODM, como a redução da pobreza e o acesso à educação, e será também nos ODS”, garantiu a diretora.

O envolvimento dos governos locais também foi lembrado como aspecto fundamental. Sérgio Andrade, diretor executivo da Agenda Pública, lamentou a ausência da esfera municipal da gestão pública nas discussões dos ODM. “Os governos locais precisam se comprometer substancialmente com essa agenda, porque eles têm a realidade regional. Mas, para isso, o arranjo de implementação precisa prever recursos financeiros.”

O ex-ministro Gilberto Carvalho, atual presidente do Conselho Nacional do Sesi, endossou o coro de celebração à participação social. “Eu estava no governo federal e sei o quanto campanhas como o Fome Zero foram importantes, mas a mobilização social foi tão ou mais relevante. Só atingimos as metas por conta dessa participação social. Um bom exemplo é a ASA Brasil (Articulação no Semiárido Brasileiro), que construiu cisternas no Semiárido nordestino e ajudou muito na mitigação dos impactos da seca.”

A transição dos ODM para os ODS é para ele um processo de ampliação do olhar. As metas se entrelaçam. “A celebração da vitória parcial é importante, mas ainda temos calamidades no país, como a questão dos indígenas e dos povos ribeirinhos. OS ODS vêm para ampliar, agora com uma visão mais holística, que exige repensar o modelo de desenvolvimento”, finalizou.

Por Alice Marcondes (Envolverde), para o Instituto Ethos.

Foto: Clovis Fabiano