O emprego do jovem não pode anular a possibilidade de os mais velhos retornarem ao mercado de trabalho, em particular no Brasil.
No primeiro dia da Conferência Ethos 360° 2015, o papo foi reto, como dizem os mais jovens. E foram eles mesmos o centro das atenções quando enfocaram um dos temas mais desafiadores do século XXI: o emprego, tema que foi abordado na palestra “Os Jovens e a Empregabilidade”.
Isso significa conhecer as ferramentas que o mercado exige. Em outras palavras, quanto mais suas habilidades se aproximarem do perfil profissional exigido, maiores serão suas chances.
O termo “empregabilidade” vem se impor como uma categoria universal de análise do mercado de trabalho, como uma referência hegemônica das políticas de emprego e, mais recentemente, das políticas educativas.
Estatisticamente, o desemprego juvenil é alto em todas as regiões. Atualmente, existem no mundo três vezes mais jovens desempregados do que 50 anos atrás. Segundo Matthew Govier, sócio-diretor da Accenture Strategy – empresa que ajuda a criar e executar planos estratégicos e melhorar a gestão de negócios -, o elevado desemprego entre os jovens pode acarretar desafios ainda mais amplos no futuro.
A Accenture identifica alguns vetores do problema. Estão entre eles os períodos de recessão econômica, a qualidade da educação, as dificuldades para desenvolver competências relevantes para o mercado, a falta de conhecimento sobre o mercado, a redução de cargos iniciais de carreira e o baixo engajamento político.
Na América Latina, a informalidade é outro agravante do desemprego na juventude. Na taxa de 14,3% de desempregados, 130 milhões são trabalhadores informais e, destes, 27 milhões – ou seja, 20% – são jovens. Os efeitos desse processo são muitos e afetam, em longo prazo, o orçamento da previdência social e do sistema público.
Neste contexto, Govier, que também é membro do Conselho Curador da ONG Rede Cidadã, acredita que o emprego dos idosos é um desafio possível. A Rede Cidadã tem um programa dirigido só aos idosos. Estes trazem as experiências de vida e profissional que estão sendo redescobertas pelas empresas, embora o empresariado precise atuar menos na formação desses indivíduos e mais na sua motivação.
“O Brasil está um pouco atrás nesse contexto, até por conta do formato de nossa pirâmide, na qual os jovens ainda estão na base. Mas, sem dúvida, é um grande desafio”, afirmou.
Na opinião de Andreas Aeubach , sócio do Grupo Box 1824 – especializado em estudos do comportamento jovem -, investe-se atualmente em metodologias inovadoras nas áreas de desenvolvimento, atração e engajamento de jovens e na cultura organizacional para grandes empresas, por se acreditar que a inteligência emocional é parte do novo código do trabalho.
Breno Valentini, do Bliive, apontou a troca de informações e experiências como sendo a grande “bala de prata” para diminuir a taxa de desemprego entre jovens e idosos. A plataforma estimula pessoas a trocar conhecimentos, sem rotulações.
As organizações, segundo o pessoal do Bliive, aproveitam muito pouco os talentos que estão bem perto. As respostas não estão lá fora, e sim mais próximas do que se imagina.
Segundo a opinião geral da mesa, o sistema educacional ainda é muito mal estruturado para vencer esses desafios. A educação fragmentada capacita pouco os jovens. Soma-se a isso as barreiras sociais e também coletivas, principalmente as comportamentais. O resultado é um grande buraco existente na empregabilidade. A forma de homogeneizar a empregabilidade e enfrentar seus desafios supera até mesmo a própria educação. Ela estaria em aceitar a polaridade, ou seja, trabalhar as questões em todos os seus ângulos.
Por Elisa Homem de Mello (Envolverde), para o Instituto Ethos.
Foto: Thiago Lopes