A menos de dois meses dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, a Conferência Ethos 360° divulgou dados inéditos sobre a transparência na realização das obras para sediar os dois grandes eventos esportivos. Trata-se dos resultados dos Indicadores de Transparência Rio 2016, elaborados pelo projeto Jogos Limpos dentro e fora dos Estádios, com o objetivo de medir e avaliar a integridade da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal em relação aos contratos públicos, à participação social e à prestação de contas.
Conheça o projeto Jogos Limpos, iniciativa do Instituto Ethos
Na avaliação, a mais bem colocada foi a Prefeitura do Rio de Janeiro, sendo a mais íntegra. Em segundo lugar, veio o governo federal e, por último, o Estado do Rio.
Confira aqui os resultados completos do estudo
Os números foram apresentados por Paula Oda, coordenadora do Jogos Limpos, ao lado de Tânia Braga, gerente-geral de Sustentabilidade e Acessibilidade do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, e José Marcelo Zacchi, coordenador-geral da Casa Fluminense.
A estrutura organizacional dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos
Há duas esferas de organização dos Jogos Rio 2016, de acordo com Tânia Braga: uma que cuida da infraestrutura do evento e outra que é não governamental. A primeira é o Comitê Executivo Operacional, com pessoas contratadas para montagem e execução. A segunda é o Comitê Rio 2016, ao qual são associadas todas as confederações e federações do Brasil e do mundo. A instituição, que deixará de existir após o término dos Jogos, tem um sistema voluntário de governança.
Sobre as ações de integridade dos Jogos, Tânia disse estarem disponíveis no site do evento o balanço auditado anual e um parecer de auditoria. O documento conta com uma estrutura em blocos para facilitar a leitura e o entendimento do público leigo. “A sociedade civil tem muita expectativa sobre aspectos que não controlamos, como as obras. Buscamos trabalhar com muita articulação e diálogo, mas nem sempre os resultados são rápidos e de acordo com o desejo de alguns grupos”, diz ela. Além disso, quem olhar o documento deve ter em vista que o orçamento da operação é maior do que a construção das instalações esportivas.
Há três anos foi lançado também, como parte das estratégias de transparência, um plano de compras, para que a concorrência dos 5.000 projetos que construíram o evento fosse mais íntegra e ética. Em relação à sustentabilidade, há um website específico com relatórios de sustentabilidade e o grupo conta com diversas certificações.
Uma cidade do futuro
Os Jogos Rio 2016 proporcionaram um aperfeiçoamento das relações entre as empresas e o Estado. Houve uma qualificação do diálogo, que, para José Marcelo Zacchi, pode ser atribuído ao trabalho do Instituto Ethos. Ele crê que a Olimpíada e a Paralimpíada melhoraram a capacidade de investimento público em mecanismos de interface, ajudando a retomar a confiança no futuro da cidade. “Porque durante muito tempo, aprendemos a não acreditar no futuro”, afirma. Entretanto, ainda é preciso estreitar e aprofundar ainda mais o relacionamento entre entes estatais e sociedade civil. E, é claro, superar o estigma da cidade, dividida entre morro e asfalto, universalizar serviços, desarmar fronteiras, criar mecanismos de humanização e urbanizar favelas. “Afinal, para ter uma cidade para o futuro é preciso superar a segregação. É preciso engajar as pessoas, criar uma identidade das populações do entorno, que não existe hoje. Na essência, a meta de ter uma cidade moderna só se alcançará com uma cidade inclusiva e transparente”, diz ele.
Por Mercia Silva, do InPACTO.
Foto: Gabriela Carrera