Nas empresas, 47% dos LGBT afirmam declarar a orientação sexual ou a identidade de gênero.
O segundo e último dia Conferência Ethos 360º teve início com o tema “Políticas Públicas e o Compromisso das Empresas com os Direitos Humanos LGBT”. O debate contou com a participação de Symmy Larrat, coordenadora-geral de Promoção da Política LGBT da Secretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH); Osvaldo Fernandez, professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb); e Isabella Gonçalves, gerente nacional de Relacionamento com o Empregado da Vice-Presidência de Gestão de Pessoas da Caixa Econômica Federal.
Larrat explicou que LGBT é a sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, pessoas com orientação sexual diferente da determinada pelo sexo no nascimento. Depois, citou um estudo organizado pela Consultoria Santo Caos, no qual 43% dos entrevistados afirmam ter sofrido discriminação no ambiente corporativo por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Outro levantamento, desta vez da empresa de recrutamento Elancers, aponta que 38% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBT para cargos de chefia e 7% em hipótese alguma.
Nas empresas, 47% dos LGBT afirmam declarar a orientação sexual ou a identidade de gênero; só que, desse universo, 90% o fazem somente a colegas do mesmo nível hierárquico. Outros 32%, ao chefe imediato e só 2%, aos responsáveis pelo departamento de recursos humanos.
“Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apresentam uma situação ainda pior: 90% dos travestis e transexuais do país ainda se prostituem. Mesmo com bons currículos, acabam rejeitados nas entrevistas por não serem compreendidos no seu autorreconhecimento”, declarou a coordenadora-geral de Promoção da Política LGBT.
A proibição de discriminação por orientação sexual no ambiente de trabalho é uma realidade em 65 países. Na América Latina, em apenas 11 deles. A avaliação é que o Brasil avança lentamente nesse tema.
Larrat citou ainda iniciativas de conscientização, como a edição, no Brasil, do manual Promoção dos Direitos Humanos de Pessoas LGBT, pela ONU, parte da iniciativa Construindo a Igualdade de Oportunidades no Mundo do Trabalho: Combatendo a Homo-Lesbo-Transfobia, uma parceria da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com o Programa das Nações Unidas sobre Aids e HIV (Unaids).
Outro exemplo positivo apontado por ela foi o manual O Compromisso das Empresas com os Direitos Humanos LGBT, editado pelo Instituto Ethos em 2013. Ela apresentou, ainda, as ações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que coordena, no âmbito da Agenda Nacional do Trabalho Decente, e a discussão acerca da revisão do Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente.
A SDH, segundo Symmy Larrat, “o trabalho do governo federal inclui ainda o fortalecimento da rede de proteção e defesa dos direitos LGBT e o apoio às campanhas do Ministério Público do Trabalho”.
A questão no momento é como diminuir o preconceito e aumentar a contratação de LGBT nas empresas. Larrat crê que o investimento em educação, bem como a elaboração do Projeto Nacional de Empregabilidade para Pessoas Trans pode ajudar.
Osvaldo Fernandez declarou-se otimista. Ele crê que o mundo vive uma crise mundial e é necessário buscar soluções e reflexões. Entre as tantas em pauta, há a questão da “cidadania LGBT”. Como Larrat, o professor da Uneb observa que as conquistas são lentas e o preconceito ainda é grande. “No Brasil, a cada 26 horas acontece a morte de um homossexual. Estamos em primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos. Isso tem de acabar!”
Fernandez dá a receita para ajudar a rever esse cenário. “As empresas devem investir na diversidade para a inovação e desenvolver políticas afirmativas de combate ao assédio moral, sexual e ao preconceito. Precisamos das empresas na luta por uma sociedade solidária”. E esclarece que a “empresa não é igreja”. “Ela pode faturar muito ao encarar o público LGBT como consumidor”.
Isabella Gonçalves fechou a mesa de diálogo ao apresentar exemplos de como uma empresa pode promover a valorização da diversidade num universo de 97 mil colaboradores.
“A Caixa Econômica Federal desenvolve ações de promoção de direitos humanos, por meio do Programa Caixa de Diversidade, cujas estratégias estão alinhadas com a missão, objetivos e valores empresariais. Ainda, tais ações são resguardadas por normas internas de ética e conduta de seus empregados e dirigentes”.
As ações que integram o Programa Caixa de Diversidade, disse ela, focam quatro eixos temáticos: gênero; raça e etnia; pessoas com deficiência; e orientação sexual e identidade de gênero. E são desenvolvidas há mais de dez anos. Atualmente, as ações compõem as estratégias de relacionamento com o empregado no intuito de promover inclusão, respeito, valorização da diversidade humana e qualidade de vida no trabalho, entre outras coisas. Segundo a gerente, no ano passado foram registrados quatro casos de assédio.
“Nosso trabalho é constante na promoção da educação, da informação e da aceitação”, disse. A Caixa integrou a diversidade, como a de gênero e a de sexualidade, no calendário de eventos da organização. “Sem reflexão e conteúdo, não há transformação”. Além disso, todos os direitos e benefícios são oferecidos aos colaboradores, independentemente da orientação e identidade sexual.
Gonçalves não esconde que o caminho para essa transformação é longo. “Temos dificuldades? Temos! Mas gente que se encontra é gente que se realiza. A diversidade é uma parte da pauta corporativa e, quando reconhecemos benefícios a um casal homossexual, por exemplo, estamos dizendo a todos os colaboradores que se trata de uma prática corporativa e que a empresa defende a valorização e a integração de todos”, completou a gerente nacional da CEF.
Por Bruno Starnini Jr. (Envolverde), para o Instituto Ethos.
Foto: Fernando Manuel