Por: Analítica Comunicação (Assessoria de imprensa do Instituto Ethos)

Em um ano decisivo para o Brasil e para o mundo, a Conferência Ethos 2025 reuniu cerca de 2,5 mil pessoas no Vibra São Paulo, na capital paulista, entre os dias 12 e 13 de agosto, para refletir, debater e integrar decisões amplas sobre justiça social, meio ambiente, democracia, direitos humanos e fortalecimento institucional multilateral dentro do contexto da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. “A COP30 é um convite ao diálogo coletivo pela busca de soluções integradas. A resposta climática efetiva precisa ser sistêmica e justa”, enfatizou o diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri.

No painel de abertura do evento, a presidente do Conselho Deliberativo do Ethos, Andréa Álvares, reforçou que, mesmo depois de 26 anos de Conferência Ethos, o evento continua com vigor e vontade de continuar melhorando a sociedade.  “O Brasil está entre as 10 maiores economias do mundo, mas também está entre as 10 mais desiguais. Temos que endereçar as questões de desigualdades para resolver questões climáticas”, enfatizou. O presidente emérito do Ethos, Oded Grajew, também participou do painel e completou: “Se quisermos ter uma sociedade mais justa e sustentável temos que encarar nossas enormes desigualdades. Não podemos aceitar pacificamente algumas situações. Temos que participar dessa corrente de mudanças”.

O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, completou o painel lembrando que é preciso conectar o tema integridade com a emergência climática. “Antes associada apenas ao combate à corrupção, a integridade hoje é muito mais ampla e deve estar conectada aos temas da sustentabilidade, com transparência, supervisão e sancionamento”, disse.  Ao investir em uma agenda de prevenção e combate à corrupção associada às questões climáticas, a CGU lançou um guia de integridade na área de licenciamento ambiental e incluiu a agenda de transição climática na prática de avaliação de integridade das empresas. Uma das formas de avaliação é por meio do Pró-Ética, programa em parceria com o Instituto Ethos que visa reconhecer e incentivar empresas que adotam práticas de integridade e combate à corrupção. Em 2025, a controladoria registrou mais de 250 empresas inscritas no programa e a CGU incluiu nos critérios de avaliação questões relacionadas à sustentabilidade.

IA ética, responsável e inclusiva

Abrindo as mesas de debates, o painel “IA ética e responsável no centro de transformação das empresas e da sociedade” apresentou o desafio urgente que as organizações enfrentam ao implementar a inteligência artificial (IA) de forma ética, responsável e inclusiva. “Vivemos na era de grandes transições e a IA está no centro desse processo, que vai acontecer de forma rápida, sem precedente na história. No horizonte de cinco a 10 anos nossa sociedade vai passar por muitas transformações, viveremos em outro mundo”, argumentou Maneto (Valdemar de Oliveira Neto), diretor de Impacto Global da PERA Complexity BV. As oportunidades de incorporar a IA em prol do desenvolvimento social também pautou o debate. “Temos que ter nossa capacidade humana usada para aproveitar o potencial dessa tecnologia. A IA não é assunto da área de TI nas empresas, é de todo mundo, especialmente da alta liderança”, argumentou Regina Magalhães, consultora independente em inteligência artificial e sustentabilidade.

Apresentado pela Assaí, o painel” Alianças estratégicas na transformação do empreendedorismo do Brasil” trouxe para os participantes do evento a importância de encontrar soluções conjuntas pelo ecossistema. Um dos painelistas, Fábio Lavezo, gerente de Sustentabilidade e Investimento Social do Assaí Atacadista, reforçou que é papel do varejo também investir e apoiar financeiramente outros atores. Lina Maria Useche Kempf, cofundadora e Head de Relações Institucionais da Aliança Empreendedora, reforçou: “Há um enorme potencial de impacto no investimento com propósito”.

A Conferência Ethos também dedicou um painel ao tema “10 anos do Acordo de Paris: O Papel das Empresas na Agenda da COP – Além do Clima”. Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), destacou a relevância da COP na construção de novos compromissos para os próximos 10 anos. “O desafio é que a agenda ASG seja incorporada no core business das empresas e não ser tratada como um ‘puxadinho’”, disse Fábio Alperowitch, sócio-fundador da Fama re.capital e conselheiro do Instituto Ethos.

Sem deixar de fora temas urgentes como o combate à exploração sexual, a Vibra apresentou o painel “Movimento Violência Sexual Zero — Conexões e Compromissos”. O debate contou com a presença de Anita Baggio, diretora de Gestão da Mudança e ESG da Vibra, Eva Dengler, superintendente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, Luciana Temer, diretora-presidente do Instituto Liberta, e mediação de ⁠Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos. O painel reforçou que o combate à exploração sexual é um desafio que exige ação articulada entre sociedade civil, empresas e poder público e que, no Brasil, o Movimento Exploração Sexual Zero surge como uma iniciativa inovadora para mobilizar diferentes setores em torno deste compromisso.

Os temas de inclusão, diminuição da vulnerabilidade, geração de renda e fortalecimento das capacidades locais estiveram no painel “Estratégias das empresas para o desenvolvimento sustentável nos territórios”, promovido pela Hydro. Como lembrou Paula Marlieri, diretora de Relações Externas da Hydro, os desafios passam pelo desenvolvimento nos territórios e dos territórios onde as companhias se instalam, exigindo um trabalho integrado da sociedade, empresa e Estado. “Não adianta chegar com ideias mirabolantes, sem conexão com o território. É preciso ter uma escuta ativa de qualidade para construir planos flexíveis, ajustáveis ao longo do tempo”, afirmou, trazendo como exemplo o Projeto Tipitix, uma iniciativa de empreendedorismo agroalimentar comunitário voltada à promoção de soluções para desenvolvimento sustentável na Amazônia. Já Paula Ferreira, produtora agroecológica familiar de Barcarena, no Pará, exemplificou em seu depoimento o suporte técnico que obteve para implantar uma agricultura limpa em sua propriedade, além do turismo de base comunitária.

Fechando o primeiro dia de Conferência, o painel “Inovações e Desafios nos Setores de Difícil Redução”, oferecido pela Embraer, debateu caminhos e soluções para a descarbonização dos chamados setores “hard to abate” — segmentos da economia que enfrentam barreiras tecnológicas, operacionais e econômicas significativas para reduzir suas emissões. No caso da aviação, a Embraer já desenvolveu o SAF (Sustainable Aviation Fuel), mas tem a meta de zerar as emissões de carbono nas próximas décadas. “Confiamos que isso vai acontecer, mas exige amadurecimento das tecnologias e também do ecossistema e do mercado, que precisam estar prontos para essa realidade”, contou André Tachard, Global Head ESG da Embraer. “A descarbonização é um assunto público privado e é necessária integração dos setores para acontecer”, argumentou Miriam Garcia, gerente de Políticas Climáticas do WRI Brasil.

Geopolítica em transformação

Na abertura do segundo dia da Conferência Ethos, a Professora Associada de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Cristiane Lucena, conversou com a vice-presidente do Conselho Deliberativo do Ethos, Daniela De Fiori, no painel “Geopolítica em transformação: oportunidades e riscos para as empresas brasileiras”. Ela lembrou a essência do ambiente atual: um mundo super polarizado, com divisão aguda da sociedade, líquido, unilateral e mais tenso. E completou: “Com as tensões geopolíticas recentes, buscar alianças globais diversificadas se torna essencial, especialmente com a atual cenário de policrises e a ameaça da agenda ASG”. A acadêmica lembrou ainda que os momentos de crise sistêmica e policrises são janelas de oportunidades para transformações que gerem impacto.

O painel “Riscos e impactos previstos no PL do Licenciamento Ambiental” trouxe para a pauta o atual cenário de incerteza processual, mas de certezas conceituais que o PL 2159, conhecido como PL da Devastação, trouxe para as empresas. O projeto de lei tramita em regime de urgência no Congresso Nacional, após sanções do presidente Luis Inácio Lula da Silva. “Hoje, nós estamos em um momento em que o Brasil está entre os cinco maiores PIB do mundo e também entre os cinco maiores poluidores. Tudo o que fizermos vai muito além das nossas fronteiras, sem contar que esse ano receberemos a COP30”, lembrou Marcos Woortmann, diretor-adjunto do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). Junto com ⁠Alice Dandara, advogada do Instituto Socioambiental (ISA), Cristiane Lima Cortez, assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FECOMERCIO SP, e o diretor- presidente do Ethos, Caio Magri, enfatizou: “A sociedade precisa continuar se manifestando sobre decisões que vão moldar os próximos séculos com um senso de responsabilidade muito especial”.

“Transformar é preciso – impacto social como caminho para a justiça climática” foi o tema do primeiro painel da tarde do segundo dia, promovido pela Caixa. Priscila Martins, codiretora-executiva da Artemisia, lembrou que 3,3 bilhões de pessoas no planeta vivem em vulnerabilidade climática. No Brasil, em geral são mulheres, comunidades ribeirinhas, indígenas, pequenos produtores, além de comunidades de periferias que são impactadas com os revezes climáticos. Já Cristina Orpheo, diretora-executiva do Fundo Casa Socioambiental, apresentou exemplos de transformações sociais concretas no Brasil, com foco em soluções que conectam justiça social, desenvolvimento sustentável e desafios locais da agenda climática. Por fim, Rogério Saab, superintendente de Negócios de Impacto e Sustentabilidade da Caixa, lembrou que é “a agenda socioambiental é uma agenda de governos, mas é preciso que as empresas estejam em conjunto nessa transformação”.

A bioeconomia também esteve em pauta na Conferência Ethos no painel “Muito além do carbono: cobenefícios e transformações sociais nos projetos ambientais e no formato à sociobioeconomia”, apoiado pelo Banco do Brasil. Erick Sanford, especialista em projetos de Carbono do Banco do Brasil, lembrou que a bioeconomia movimenta R$ 2 trilhões e pode incrementar o PIB brasileiro em R$ 300 milhões. Por isso o banco tem desenvolvido projetos de bioeconomia na agricultura em quatro frentes: familiar, cooperativas, cadeia de valor e parcerias estratégicas.  “Esse trabalho deve ser feito com as comunidades, pois não há floresta em pé sem o diálogo com as pessoas”.  A debate do painel ainda lembrou que o carbono é apenas o começo de uma jornada mais ampla rumo à justiça climática e ao bem-estar coletivo.

Já a Novartis ofereceu o painel “Doenças negligenciadas relacionadas à Mudança do Clima”, que promoveu um debate sobre a interseção entre saúde, desigualdade e crise climática. “É necessário integrar a agenda ASG às estratégias e plano de negócios das empresas, com ênfase no impacto social, na responsabilidade ambiental e na governança ética”, disse Michelle Ehlke, diretora associada de Saúde Global e Responsabilidade Corporativa da Novartis Brasil. “A pesquisa clínica traz acesso e o Brasil é protagonista. Nós investimos nisso e queremos sair dos grandes polos urbanos e levar o acesso à pesquisa onde ela é necessária”, complementou Marina Pontello, Consultora Médica de Pesquisa Clínica da Novartis Brasil.

O Brasil que o Brasil quer ser

Para encerrar a Conferência Ethos 2025, foi apresentado o estudo “O Brasil que o Brasil quer ser”, originado do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, conhecido como Conselhão da Presidência da República. Lourenço Bustani, cofundador da Mandalah e coordenador do estudo, lembrou que o levantamento foi divido em três capítulos: a percepção que o mundo tem do Brasil, uma escuta qualitativa com lideranças da sociedade civil e por fim uma pesquisa quantitativa com 3.266 brasileiros de todo o país espelhando toda a pirâmide socioeconômica do Brasil.

O estudo apontou que o mundo olha para o Brasil pela lente da diversão. As principais associações com o país referem-se à calor humano, praias, turismo ecológico, ao jeito receptivo do brasileiro em relação aos estrangeiros. Tudo isso em detrimento a atributos como empreendedorismo, qualidade de vida, desigualdades sociais e ao desenvolvimento de negócios. O país não é reconhecido pela preocupação com o meio ambiente, pelo compromisso com as metas climáticas e direitos humanos, mão de obra qualificada e inovação.

Já o segundo capítulo do estudo traz o Brasil a partir dos brasileiros. Os problemas estruturais históricos e os conflitos ideológicos dos últimos tempos predominam nas opiniões, entre um passado que nunca se encerra e um futuro que nunca chega. Apesar disso, a esperança continua sendo o sentimento predominante entre os brasileiros.

Bustani lembra que, da promessa ao protagonismo, o Brasil tem a oportunidade para se consolidar como uma liderança ambiental, uma nova via que o país tem vocação para ocupar ante às lideranças miliar e econômica tradicionalmente conhecidas. E a Amazônia aparece pela primeira vez como representação simbólica do país, desbancando o Rio de Janeiro. “O Brasil também tem a oportunidade de se consolidar como ator-chave na conciliação global, um atributo consagrado da diplomacia brasileira de diálogo”, diz.

O último capítulo do estudo aponta novas narrativas para o país a partir dos achados da pesquisa: o país da sociobiodiversidade, a potência e a liderança socioambiental, o Brasil que conversa com o mundo e um abandono do jeitinho brasileiro, no sentido pejorativo, para o jeito brasileiro sobre capacidade de mobilização enquanto povo.

Marcel Fukayama, cofundador da Din4mo, organizadora da pesquisa, lembra que essa é uma grande reflexão coletiva do Brasil que o Brasil quer ser. A pesquisa completa pode ser acessada em https://www.obrasilqueobrasilquerser.com.br/

“Somos um país do futuro há tempo demais”, afirmou Andréa Álvares, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. “Muitas vezes não somos capazes de enxergar as nossas potencialidades. Em um mundo tão controverso, onde todas as estruturas estão sendo chacoalhadas, ser capaz de olhar para o nosso potencial como país e aquilo que nos faz únicos e verdadeiramente valiosos, se traduzindo em prosperidade para todos, é um ato muito importante”, finaliza.

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