Você trocaria sua marca preferida de um produto se soubesse que alguma outra, mesmo mais cara, faria algum bem para a cidade em que você vive?

Por Jorge Abrahão*

Você, que vive numa cidade tão contrastante como São Paulo, Curitiba ou Rio de Janeiro, trocaria sua marca preferida de um produto se soubesse que alguma outra, mesmo mais cara, faria algum bem para a cidade?

Em abril, o site Catraca Livre e o Ibope/Conecta fizeram uma pesquisa com 1.048 internautas moradores da capital paulista para saber a resposta e o resultado impressionou: 62% dos consumidores disseram que sim, estão dispostos a trocar a marca habitual de seus produtos por uma que promova melhorias na cidade, como ações de cultura, bem-estar e lazer gratuitos. É a mesma porcentagem de pessoas que concordariam em mudar as lojas nas quais compram frequentemente para encontrar outras que demonstrem tal compromisso. E mais: 50% aceitam pagar um pouco mais por outro produto ou serviço que promova melhorias na cidade.

Todavia, os internautas ficariam muito irritados se essa atitude da marca ou da empresa fosse apenas uma intervenção publicitária.

Para os pesquisadores, o resultado mostra a forte relação que existe entre o cidadão, o consumidor, as marcas e a cidade, algo ainda não totalmente compreendido tanto pelas empresas quanto pela academia e pelos órgãos públicos.

Na verdade, o tipo de pesquisa que se tem feito é o de percepção de marca, de reputação empresarial, ou ainda de responsabilidade social. Dessa vez, o foco foi a cidade de São Paulo. O objetivo era mostrar o nível de aceitação dos internautas de várias faixas de idade e de renda a diferentes modelos de exposição da marca no espaço urbano.

Do que o internauta não gosta?

Perguntados sobre o que pensam das propagandas que se abrem em sites – os chamados pop ups –, 43% afirmaram que as fecham sem ler a publicidade e, sendo assim, não lembram da marca; 51% param para avaliar antes de fechá-las; e, para 82%, esse tipo de propaganda é invasiva.

Para esse público, a melhor maneira de uma marca “conquistá-lo” é promover ações urbanas gratuitas de cultura, bem-estar e lazer. Caminhadas em prol de uma “causa” (câncer de mama, por exemplo); concertos ao ar livre; ciclo de palestras; festivais de teatro que cheguem à periferia. Enfim, iniciativas que contribuam para melhorar o nível cultural, promover encontros com amigos e ocupação de espaços públicos gratuitamente.

Ações desse tipo devem agregar mais valor às marcas, é a conclusão a que se pode chegar pela pesquisa do Ibope/Conecta.

Consumo consciente

Esse resultado reforça a tendência já verificada na Pesquisa Akatu 2012 sobre consumo consciente, que, significativamente, denominou-se Rumo à Sociedade do Bem-Estar. Isso porque esse estudo concluiu que, para os brasileiros, uma vez satisfeitas as necessidades básicas, o conceito de felicidade está relacionado a caminhos mais sustentáveis. Para 60% do público que respondeu a pesquisa, conviver bem com a família e com os amigos é o que mais os aproxima da felicidade.

O levantamento do Akatu revelou também que o comportamento das empresas impacta diretamente na decisão de compra dos consumidores. Há cinco aspectos, de acordo com essa pesquisa, que motivam a admiração por marcas ou empresas: não maltratar animais; ter boas relações com a comunidade; ter selos de proteção ambiental; ajudar na redução do consumo de energia; e ter selo de garantia de boas condições de trabalho.

As duas práticas que impactam de forma mais negativa são fazer propaganda enganosa e distribuir produtos que causem dano à integridade física dos consumidores.

Tanto a pesquisa do Catraca Livre-Ibope/Conecta quanto a do Akatu nos fazem refletir sobre o papel das empresas na sociedade brasileira, principalmente num ano de eleições.

Existe uma demanda por saúde, educação e acesso universal, público e de qualidade à cultura. Certamente, atingir esse objetivo não depende só das empresas, mas da articulação de todos os atores sociais. Todavia, é certo que as empresas têm um papel fundamental no processo, fomentando e dando concretude ao trajeto rumo a uma sociedade mais sustentável, o que tem sido assunto dos nossos comentários neste espaço sobre a agenda brasileira para o desenvolvimento sustentável.

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* Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.