O Instituto - Posicionamentos

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Desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips

Local do desaparecimento é marcado por atividades ilegais já denunciadas por Bruno

Ontem, 07/06, deveríamos ter comemorado o dia da liberdade de imprensa, essencial para a garantia da liberdade de expressão e manutenção da democracia. Os órgãos de imprensa realizam uma tarefa fundamental de ocupar os diferentes eixos do campo ideológico, trazendo informações comprometidas e marcando posicionamento sobre assuntos variados que envolvem o cotidiano da sociedade.

Mas, ontem não foi um dia de celebração. No último domingo, dia 05 de junho, Dia do Meio Ambiente, o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram anunciados como desaparecidos pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) e pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA). Bruno e Dom percorriam o trecho entre a comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte no estado do Amazonas na região do Vale do Javari, como afirma a nota divulgada à imprensa das organizações citadas acima. Bruno, conhecedor da região pelos seus serviços prestados à FUNAI, acompanhava Dom em uma série de reportagens com indígenas do local. A região hoje sofre com grande exploração de minérios não regulamentados e atividades ilícitas de garimpo ilegal cujas denúncias por Bruno, resultaram em uma série de ameaças a sua integridade física.

Após a notícia do desaparecimento, indígenas da região e órgãos de fiscalização voltaram seus esforços para a busca dos dois homens com uso de pequenas embarcações. A resposta de Brasília veio com atraso, indicando a autorização para uso de helicópteros apenas na tarde do dia de ontem, 07 de junho, depois de quase três dias inteiros desde que Bruno e Dom foram contatados pela última vez.

Hoje, o Brasil é o país que mais ameaça e mais mata lideranças ambientais. Em 2020, os assassinatos de indígenas e defensores ambientais cresceram cerca de 60% segundo dados do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), alcançando o valor de 20 assassinatos na região. Em 2021, o número voltou a crescer com 75% de aumento de assassinatos no campo de acordo com o Centro de Documentação da Comissão da Pastoral da Terra (CEDOC-CPT), com 35 assassinatos.

A escalada das invasões de terras públicas na região amazônica sob a justificativa da atividade garimpeira tem acentuado índices de violência, principalmente voltadas a indígenas, indigenistas, defensores ambientais, populações ribeirinhas, caboclas e à jornalistas que reportam as mazelas da atividade para a preservação ambiental e qualidade de vida das populações que fazem uso dos recursos naturais para exercício de sua cultura.

Vemos com grande preocupação a inação do Governo Federal quanto ao impedimento da invasão destes territórios por atividades não reguladas, sem fiscalização e sem comprometimento com a agenda de responsabilidade social. Bem como a escalada de narrativas antidemocráticas, milicianas e criminosas que estão sendo amplificadas por redes que estimulam a violência no Brasil e a atividade econômica não responsável, além de configurarem riscos físicos às populações que estão na linha de frente no combate à destruição ambiental. Por último, essas atividades extrativistas, predatórias e contrárias ao cenário de desenvolvimento sustentável planejado configuram o não cumprimento dos objetivos de descarbonização, adaptação e mitigação da mudança do clima, em acordos assumidos internacionalmente pelo Brasil, como o Acordo de Paris.

 

Foto: Pexels

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