Por: Lucas Carvalho, professor de História e assistente de Projetos em Direitos Humanos no Instituto Ethos

Efeméride do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha 2025: conexões com a Política Nacional de Cuidados e o enfrentamento ao Racismo Ambiental

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, é resultado de um marco histórico que nasceu da articulação política de mulheres negras de toda a região. A data foi criada durante o 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado em 1992, na República Dominicana. Mais de 400 mulheres, de 32 países, reuniram-se para debater estratégias de enfrentamento ao racismo, ao sexismo e à violência institucional que impactam de maneira profunda a vida das mulheres negras. No Brasil, o 25 de julho também homenageia Tereza de Benguela, liderança quilombola do século XVIII, símbolo de resistência contra a escravidão e de construção de autonomia coletiva.

A força da data está em sua capacidade de mobilizar olhares e ações concretas sobre as desigualdades que marcam a vida das mulheres negras. Ela convoca governos, empresas e sociedade a reconhecerem as interseccionalidades que atravessam raça, gênero, território e classe, e a agirem de forma coordenada para superar as opressões estruturais.

No Brasil, os dados seguem revelando um cenário alarmante de sobrecarga, invisibilidade e precarização. Segundo a PNAD 2023, enquanto as mulheres brasileiras dedicam, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, os homens dedicam 11,7 horas. Quando observamos o recorte racial, a desigualdade se intensifica. De acordo com a Nota Informativa nº 1 da Secretaria Nacional de Cuidados e Família (2023), as mulheres negras realizam quase 68 horas a mais de trabalho de cuidado não remunerado por mês do que as mulheres

brancas. Essa desproporcionalidade limita o acesso à educação, à renda e às oportunidades de participação plena no mercado de trabalho.

Neste contexto, a Política Nacional de Cuidados representa uma iniciativa relevante no enfrentamento das desigualdades estruturais, ao propor a reorganização das responsabilidades sociais do cuidado de forma mais justa e compartilhada entre Estado, setor privado e sociedade civil. Trata-se de um passo importante para o reconhecimento do cuidado como direito, como trabalho e como responsabilidade coletiva. Ao estruturar diretrizes, instrumentos e possibilidades de articulação entre setores, essa política pública pode contribuir para a promoção da dignidade humana e para a superação de padrões históricos de exclusão.

O Instituto Ethos acompanha com atenção esse debate e avalia formas de contribuir com a agenda da Política Nacional de Cuidados, sobretudo no que diz respeito ao engajamento do setor empresarial. Promover ambientes corporativos que valorizem a corresponsabilidade parental, que enfrentem o racismo institucional e que adotem políticas que garantam a equidade de gênero e raça é parte do compromisso com os direitos humanos e com o trabalho decente.

Outro eixo fundamental para compreender as múltiplas opressões que atingem as mulheres negras é o racismo ambiental. Trata-se da distribuição desigual dos impactos ambientais e da omissão sistemática diante das vulnerabilidades que afetam as populações negras, periféricas e indígenas. As mulheres negras, que historicamente vivem em territórios desassistidos de saneamento, saúde, mobilidade e proteção climática, estão entre as mais afetadas por desastres, insegurança hídrica, enchentes e ausência de políticas públicas efetivas. Reconhecer o racismo ambiental é reconhecer que o território, o cuidado e a vida das mulheres negras estão profundamente interligados.

A conexão entre cuidado, justiça ambiental e equidade racial exige ação coordenada. O setor privado precisa olhar com responsabilidade para seus modelos de negócio, revisar suas práticas internas, incluir critérios de justiça socioambiental em suas operações e assumir o seu papel como agente de transformação. Empresas comprometidas com o enfrentamento das desigualdades têm influência real sobre a cultura organizacional, as cadeias de valor e o estímulo a políticas públicas estruturantes.

A sociedade civil deve seguir mobilizada, produzindo conhecimento, fiscalizando, pressionando e construindo soluções coletivas. Já o Estado tem o dever de garantir políticas públicas eficazes, sustentáveis e fundamentadas nos direitos humanos, como é o caso da Política Nacional de Cuidados, além de incorporar o combate ao racismo ambiental como parte de uma resposta ampla às desigualdades no país.

Neste 25 de julho, é preciso afirmar que cuidar é um ato político. Valorizar a vida das mulheres negras é reconhecer que não há justiça social possível sem equidade racial, sem a redistribuição das responsabilidades sociais do cuidado e sem uma transformação profunda das estruturas que sustentam o racismo e o sexismo. A Política Nacional de Cuidados aponta um caminho possível. Cabe a todas e todos nós trilhá-lo com compromisso, criticidade e corresponsabilidade.

Para apoiar o setor empresarial nesse processo de transformação, o Instituto Ethos recomenda a leitura de um conjunto de materiais produzidos com base em evidências, escuta qualificada e compromisso com a promoção dos direitos humanos no ambiente corporativo. Esses conteúdos fornecem dados, diretrizes estratégicas, ferramentas de autoavaliação e propostas concretas para integrar a equidade racial, de gênero, o cuidado e a justiça ambiental à cultura organizacional e à gestão das empresas. Desta forma, destacamos:

Esses materiais são recursos fundamentais para empresas que desejam alinhar sua atuação à construção de uma sociedade mais justa, plural e cuidadora. Utilizá-los é um passo importante para transformar boas intenções em práticas reais, contribuindo para a redução das desigualdades estruturais e para a promoção de um desenvolvimento mais ético, responsável e sustentável.