Painel aborda resiliência e sustentabilidade agrícola
Na segunda parte do painel “Segurança Alimentar: recursos naturais, resiliência e sustentabilidade agrícola” oferecido pela DuPont, após o lançamento da nova edição do Índice Global de Segurança Alimentar do The Economist Unit, que foi apresentado na primeira parte, Caio Magri, diretor presidente do Instituto Ethos atuou como moderador na mesa que reuniu Flávio Cotini, presidente e CEO do Walmart Brasil; Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa; Roberto Hun, presidente da Divisão Agrícola da DuPont Brasil e Laerte Moraes, presidente da Unidade de Negócios de Amidos & Adoçantes e Cacau e Chocolate para a América Latina da Cargill.
Com a missão de vender produtos mais baratos, de modo a proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas, o Walmart apresentou seu programa de inclusão e de incentivo à agricultura familiar, que visa aumentar a renda da população. “Hoje temos mais de 7 mil famílias cadastradas vendendo diretamente para o Walmart, e que são responsáveis por cerca de 15% de todo hortifrúti comercializado pela rede. Praticamente, esses trabalhadores dobraram sua renda familiar e isso é motivo de orgulho para o Walmart”, disse Cotini, enfatizando que cada um – em sua área de atuação – tem que fazer a diferença.
O executivo destacou, ainda, que dentro da organização 45% das mulheres estão em posição de chefia, índice que deverá se expandir tendo em vista que 85% dos clientes da rede são mulheres. Cotini terminou sua fala dizendo estar otimista, com o futuro do país, mesmo diante da atual conjuntura econômico-política.
“Não é de hoje que a agricultura no Brasil lida com riscos (de pragas, de doenças, entre outros), situação que favorece devido estarmos localizados no cinturão tropical do planeta. Assim sendo, nossa agricultura precisa ser focada na gestão de risco e incorporar práticas de resiliência para ser competitiva”, discorreu Lopes, presidente da Embrapa.
Segundo ele, o Brasil tem um dos sistemas de zoneamento mais sofisticados do mundo e que está completando 20 anos. Esse sistema tem 50 cultivos diferentes totalmente zoneados, de modo orientar os agricultores na atividade. “Todo o crédito rural é aplicado com base nesse zoneamento agrícola de risco climático que tende a evoluir. Daí a importância de a ciência continuar na busca de métodos de resiliência voltados à agricultura”, sintetizou Lopes. A Embrapa tem hoje 600 pesquisadores que buscam “linkar” os aspectos da agricultura com os desafios do clima.
Diferentemente do que ocorreu em 2016, “este ano tivemos uma colheita recorde de 50% a mais em rendimentos, incluindo algumas culturas, como milho e soja. Essa diferença se justifica em função do quadro climático (no ano passado, o tempo foi seco)”, apontou Hun, da DuPont Brasil. Além de lidar com as questões climáticas, segundo Hun, um dos grandes desafios da empresa é levar a inovação aos campos. Munir o agricultor de ferramentas que possam ajudá-lo a acompanhar o progresso, através de um conjunto de informações que contribuem para o menor uso de fertilizantes, aumentando a produtividade, por exemplo. “A revolução digital está começando na agricultura, a fim de torná-la mais competitiva e sustentável em longo prazo”, afirmou. “O custo Brasil como um todo é caro, se comparado com outros mercados mundiais. Mesmo assim, vejo com otimismo o que vem pela frente”, analisou.
A necessidade de levar a inovação ao campo também é compartilhada por Moraes, da Cargill. “A tecnologia é fundamental para garantir a disponibilidade de produtos no mundo”, acentuou. Reconhecendo que o Brasil é autossuficiente em alguns tipos de produtos agrícolas, mas em outros tem que recorrer à importação, Moraes destacou como um dos grandes desafios nesse segmento: transformar a agricultura em um processo cada vez mais competitivo com o uso adequado de recursos naturais. Além disso, o país carece de infraestrutura com custos elevados na movimentação e alta carga tributária, entraves para a evolução do setor.
Por Zulmira Felício, para o Instituto Ethos
Foto: Clóvis Fabiano e Kleber Marques