A crescente incidência da doença leva as companhias a reformular produtos e repensar a forma de se comunicar com o público infantil.
O Brasil atualmente é o país do mundo com a maior taxa de aceleração de obesidade infantil. Se nas décadas de 1950 a 1970 a nação vivenciou um período marcado pela fome e pela desnutrição, nos últimos dez anos vem experimentando um fênomeno diferente: o rápido crescimento do índice de obesidade entre crianças e adolescentes. O tema foi debatido durante o painel “Obesidade infantil: como as empresas podem fazer a diferença?”, oferecido pela Amil.
Segundo o especialista em nutrição infantil Helio Rocha, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o mundo passa por pandemia de obesidade, problema que afeta até mesmo países menos desenvolvidos da África e da Ásia. “No Brasil, depois de um longo período de carência alimentar, agora observamos a questão da obesidade avançando com muita força”, diz ele. Helio afirma que colabora para isso o maior consumo de alimentos industrializados e o fato de as crianças brincarem por pouco tempo ao ar livre. A consequência disso é que crianças com idade tenra desenvolvem obesidade, doença que amplia a probabilidade de ocorrer hipertensão, doenças ósseas, alergias respiratórias, diabetes e doenças mentais, além de diminuir a imunidade. “Essa geração vai viver em média dez anos a menos por causa disso”, alerta ele.
Diante desse quadro, a responsabilidade das empresas é muito grande, conforme diz Barbara Sapunar, head de Criação de Valor Compartilhado da Nestlé Brasil. “Vários de nossos produtos já passaram por mudanças recentes como o Batom, que hoje leva mais de leite na composição, e o Nescal, agora com 33% menos açúcar”, conta ela.
Para a executiva, além de repensar seus produtos, as companhias também podem colaborar promovendo campanhas e ações que estimulem os hábitos saudáveis. Ela cita o Programa Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis criado em 1999 pela Fundação Nestlé Brasil. A iniciativa leva a escolas e comunidades orientações de hábitos alimentares saudáveis e realiza atividades físicas.
Combater a obesidade infantil não é uma batalha que diz respeito apenas às indústrias alimentícias. A operadora de planos de saúde Amil realiza desde 2014 o movimento Obesidade Infantil NÃO. “Não é uma causa para uma empresa só. Toda sociedade deve participar. Hoje temos crianças com padrão sanguíneo de idosos”, diz Odete Freitas, diretora de Sustentabilidade da Amil. Em sua campanha, a Amil contou com peças de comunicação produzidas pela Artplan. “A aderência ao minidocumentário que produzimos sobre o assunto foi enorme, o que mostra que o tema é muito sensível e gera interesse”, diz Luiz Telles, diretor nacional de Conteúdo e Engajamento da agência.
Marcos Nisti, vice-presidente e CEO do Instituto Alana, lembrou a batalha da instituição para acabar com a publicidade voltada ao público infantil. “O Conselho Federal de Psicologia considera que antes de 12 anos as crianças não têm discernimento e por isso não deve haver publicidade voltada para elas”, afirma.
Por Adriana Carvalho, para o Instituto Ethos.
Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes