Por: Analítica Comunicação (assessoria de imprensa do Instituto Ethos)

O Brasil é constituído atualmente, em sua maioria demográfica, por pessoas negras (pretas e pardas), que totalizam 55,5% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2022). Porém, essa mesma representatividade da população negra ainda não é uma realidade no mercado de trabalho, em especial nos cargos de liderança, de acordo com o Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, lançado em setembro deste ano pelo Instituto Ethos.

Com a proximidade do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, o instituto destaca a necessidade de as companhias brasileiras ampliarem a presença de pessoas negras nos diferentes níveis hierárquicos, além de reforçar a necessidade de equiparação salarial de brancos e negros.

“A realidade encontrada nas empresas ainda não reflete as diversidades da sociedade brasileira. Ainda que o estudo mostre que os profissionais negros estão mais presentes nos quadros funcionais em comparação com as pesquisas anteriores, essa representatividade não se dá nos níveis hierárquicos de maior influência, maior responsabilidade e melhor remuneração. É nesses pontos que as empresas precisam avançar”, diz Caio Magri, presidente do Instituto Ethos.

Segundo o estudo revelou, 64,2% das ações das empresas são voltadas a programas de inclusão e de contratação de pessoas pretas e pardas. Apesar disso, ainda há uma escassez de ações para promover a ascensão profissional desse grupo de pessoas para que possam alcançar os espaços de tomada de decisão nas empresas.

Os dados exemplificam isso. Atualmente, os cargos mais altos, como Conselho de Administração e Diretoria, têm apenas 5,9% e 13,8% de pessoas negras, respectivamente. Já nos cargos de entrada, como trainees e estagiários, esse percentual sobe drasticamente, para 70,8% e 60,8%, respectivamente.

Salários menores

As desigualdades também são encontradas quando analisados os salários médios das populações brancas e negras. As mulheres que não são negras com ensino superior ganham, em média, R$ 5.303 mensais, enquanto as negras com ensino superior ganham R$ 3.271 por mês, em média. A disparidade se torna ainda mais evidente quando se verifica a remuneração média mensal dos homens: os não negros ganham R$ 8.173, enquanto os negros recebem R$ 5.755.

Apesar da diferença considerável nas posições hierárquicas ocupadas por pessoas negras e das questões salariais, há uma boa notícia verificada pelo Perfil: houve um ganho de consciência das principais lideranças empresariais sobre o cenário social no país, indicando que consideram a presença da população negra abaixo do que deveria nos quadros da empresa que dirigem. A ausência de pessoas negras é uma das mais observadas pelos principais executivos e executivas das empresas participantes em diferentes níveis hierárquicos.

Esse “ganho de consciência” de que falta representatividade negra nas empresas aumenta quanto mais alto for o nível hierárquico. Destaca-se a percepção dessas lideranças sobre a proporção de pessoas negras “abaixo do que deveria” no Conselho de Administração (86,9%), no Quadro Executivo (86%) e no Quadro de Gerência (79,8%) conforme gráfico abaixo.

Empresas precisam avançar

Apesar da conscientização das empresas, na prática, ainda há muito a ser feito. Como exemplo, apenas 21,1% das empresas que participaram do estudo desenvolvem alguma política ou ação afirmativa para garantir a representatividade de pessoas negras no nível executivo ou de diretoria, o que contribui para entender o cenário de afunilamento hierárquico predominante.

Um agravante desse cenário é identificado quando há alguma interseccionalidade, ou seja, quando a pessoa pertence a mais de um grupo de diversidade, como mulheres, juventudes, pessoas LGBTI+, indígenas ou pessoas com deficiência negras. Neste caso, as diferenças são ainda maiores, assim como as dificuldades de ascender na carreira.

Infelizmente, anda existe um ‘teto’ para a população negra nas empresas. Um dos principais motivos para isso é que as práticas empresariais desenvolvidas para a promoção da equidade racial são, em sua maioria, ações pontuais, principalmente quando se trata de posições de liderança. Ou seja, a pauta racial ainda precisa ser entendida como um compromisso empresarial a ser adotado de forma estratégica, com ações estabelecidas com intencionalidade e com metas e métricas de acompanhamento”, conclui Magri.

O Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas está disponível aqui.