
Por Carlos Nobre*
As mudanças climáticas constituem uma séria ameaça aos esforços para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza. A continuidade da trajetória atual de aquecimento deixará um legado ao planeta, de irreversível transformação, com temperaturas excedendo amplamente os 2 ºC e potenciais impactos devastadores. Se atuarmos rápida e corajosamente, poderemos começar imediatamente a descarbonizar a economia global e limitar as mudanças climáticas.
Para isso, porém, as lideranças políticas de todos os países devem agir, resolutamente este ano, para garantir um melhor futuro para as gerações vindouras e para todas as demais espécies.
É por essas razões que, no dia 22 de abril de 2015, Dia da Terra, nós, da Earth League (Liga da Terra) – uma rede internacional de cientistas de mudanças globais –, lançamos a Declaração da Terra, um conjunto de oito ações essenciais para as discussões da Cúpula do Clima (COP 21), em Paris, no mês de dezembro.
São elas:
1. Limitar o aquecimento global abaixo de 2 ºC, sendo este o limite máximo de aquecimento para evitar o risco de mudanças climáticas perigosas.
2. O máximo que a humanidade pode emitir no balanço global de carbono –isto é, o limite de emissões futuras de dióxido de carbono – deve ficar abaixo de 1 trilhão de toneladas (1.000 Gt CO2) para termos uma chance razoável de ficarmos abaixo da linha de 2 ºC.
3. Ações de descarbonização profunda, de início imediato, para que atinjamos uma sociedade de “zero-carbono” em meados do século ou um pouco depois, são condição-chave para a prosperidade futura.
4. Todos os países devem desenvolver planos de descarbonização de suas economias. Os países ricos e as indústrias modernas podem e devem assumir a responsabilidade de descarbonizar bem antes de meados do século.
5. Devemos desencadear uma onda de inovação climática para o bem global e permitir o acesso universal às soluções de tecnologia já existentes.
6. As mudanças climáticas já estão acontecendo. Nós precisamos aumentar, de forma maciça, o apoio público para as estratégias de adaptação e medidas de redução de perdas e danos nos países em desenvolvimento.
7. Devemos proteger sumidouros de carbono e ecossistemas vitais, nossos melhores amigos na luta contra as mudanças climáticas.
8. Os governos precisam dar apoio suplementar aos países em desenvolvimento para que possam lidar com as mudanças climáticas, num nível pelo menos comparável àqueles da assistência global ao desenvolvimento.
O Brasil tem se destacado mundialmente pela redução de 36% de suas emissões nos últimos anos, cortando as emissões brutas de 2,36 Gt CO2 equivalente, em 2005, para 1,52 Gt CO2 equivalente, em 2012, de acordo com as estimativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Isso ocorreu, principalmente, pela redução de cerca de 80% dos desmatamentos da Amazônia e, em menor grau, pela redução também no bioma cerrado.
O Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) sinaliza caminhos para a sustentabilidade da agricultura brasileira, na direção de redução das emissões, diminuição da pressão sobre ecossistemas e, ao mesmo tempo, aumento de produtividade, equação esta que fecha com a intensa utilização de conhecimento, tecnologias e inovação no campo e pode levar ao desmatamento (quase) zero.
No setor de energia, a descarbonização passa pelo aumento da eficiência energética e da utilização maciça de energias renováveis na matriz elétrica brasileira – notadamente a eólica e a solar. China e Índia têm planos de acrescentar enormemente estas formas de energia renovável nos próximos dez anos e o Brasil deve seguir o exemplo.
O Brasil – potência ambiental – deve apoiar e defender, na COP 21, um acordo ambicioso, equitativo e cientificamente embasado, limitando o aquecimento a 2 ºC.
* O climatologista Carlos A. Nobre é diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao MCTI. É também membro da Earth League.
Fonte: Cemaden-MCTI