As empresas mais visionárias já entenderam o recado: a mudança do clima constitui grandes riscos a seus negócios. E elas já estão incorporando em seu dia a dia as metas e ações voltadas para a redução de suas emissões de carbono e dos impactos do aquecimento global. De acordo com o Carbon Disclosure Project (CDP), mais de 80% das 500 maiores companhias do mundo estabeleceram objetivos de redução de gases poluentes liberados para atmosfera ou de consumo de energia. Mas isso realmente será efetivo para manter a temperatura no máximo na casa dos 1,5°C, de acordo com os parâmetros do Acordo de Paris?
Essa foi a questão que norteou a oficina sobre “metas embasadas cientificamente” (science based targets) promovida pelo CDP, Pacto Global das Nações Unidas, World Resources Institute (WRI) e WWF, que aconteceu no último dia 15.
Em âmbito global, mesmo com todo o esforço realizado nos últimos anos e, em especial, com os resultados ambiciosos alcançados em Paris, infelizmente a trajetória atual de aumento da temperatura indica que será difícil nos mantermos na linha dos 1,5°C.
É urgente, portanto, a participação do setor empresarial nesse esforço coletivo para reduzir o carbono emitido. Desde 2014, há um “orçamento” da quantidade de gases do efeito estufa (GEE) que ainda se pode liberar. Com o apoio de metas embasadas na ciência, as companhias poderão definir sua participação nessas estimativas. Tanto o CDP quanto o Pacto Global, o WRI e o WWF convocaram um grupo de empresas a se comprometerem com condutas e objetivos para frear a mudança do clima e apostam nessa iniciativa. Para isso, foram definidos critérios de elegibilidade para a participação, como:
- As metas definidas devem considerar os escopos 1 e 2 do padrão GHG Protocol;
2. O objetivo deve cobrir um período de 5 anos, no mínimo, e almejar uma redução coerente, tomando como parâmetro os 2°C (ou, preferencialmente, 1,5°C) definidos em nível mundial;
3. Os resultados devem ser divulgados pelas empresas.
A Carta Aberta ao Brasil, de 2015, construída pelo Fórum Clima, definiu nove compromissos a serem assumidos pelas organizações, com vista a mitigar seus impactos na mudança climática. Entre os objetivos propostos pelo documento estão “definir metas de redução de emissões de GEE e aumento da eficiência energética” e determinar “quanto será tal meta, até quando ela será atingida e qual o ano base para referência”, por exemplo. Entretanto, espera-se que as empresas já avançadas na tomada de estratégias relacionadas ao aquecimento global estejam considerando a descarbonização de suas atividades. Em 2016, o Fórum Clima construirá uma plataforma de monitoramento dos compromissos pretendidos pela carta aberta. Na verdade, o trabalho já está em andamento, com o apoio da equipe dos Indicadores Ethos e do CDP. Sendo assim, Ethos, CDP e as próprias empresas estão construindo juntos e ativamente essa ferramenta de gestão, visando sua integração a outros sistemas de acompanhamento e sua abertura frente às tendências e iniciativas voltadas para as questões do clima.
E são projetos como o apresentado nesta reportagem, das “metas embasadas cientificamente”, que ajudarão a desenhar uma plataforma mais completa e arrojada para o setor empresarial mapear sua performance em relação ao cumprimento efetivo dos compromissos assumidos com a assinatura da Carta Aberta ao Brasil 2015.
A expectativa é de que os primeiros resultados da aplicação dos indicadores da ferramenta de gestão do Fórum Clima sejam divulgados em 2017.
Quer saber mais sobre a Carta Aberta ao Brasil 2015 e o Fórum Clima? Clique aqui e aqui.
Sua empresa tem interesse em participar do grupo? Envie um e-mail à Secretaria Executiva do Fórum Clima ou ligue para (11) 3897-2426.
Por Flavia Resende, coordenadora de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos.