Levy tornou-se o primeiro titular do cargo a participar de um evento público – não organizado pelo governo – sobre mudanças climáticas.
Por André Trigueiro*
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez história nesta quinta-feira (13/8) ao se tornar o primeiro titular do cargo a participar de um evento público – não organizado pelo governo – sobre mudanças climáticas. Foi durante o encontro do Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, uma iniciativa do Instituto Ethos em parceria com o Valor Econômico e a Globo News.
Acompanhado da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, Levy recebeu em mãos a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança de Clima – 2015, assinada por 42 grandes empresas que se comprometem, entre outras ações, a reduzir emissões de gases estufa e a não comprar produtos associados ao desmatamento. O documento também reforça a expectativa dessas empresas de que o governo seja “protagonista” na conferência do clima de Paris (COP 21), em dezembro, e incorpore à sua proposta (INDC – Contribuição Nacionalmente Determinada, no jargão diplomático) o compromisso de – entre várias outras medidas – estimular uma economia de baixo carbono.
Segundo a ministra Izabela, a proposta do Brasil – que já foi objeto de uma consulta pública – só deverá ser conhecida em outubro. Mas o encontro serviu para revelar os bastidores da confecção desse documento. Izabella e Levy – que já trabalharam juntos no Governo do Estado do Rio de Janeiro na gestão Sérgio Cabral – já se reuniram várias vezes em Brasília para discutir iniciativas que possam estimular o uso inteligente dos recursos naturais, a eficiência energética e inovação. Além deles, os ministros da Agricultura, Energia, Relações Exteriores e Planejamento têm a função de assessorar diretamente a presidente da República, Dilma Rousseff, em relação à proposta do Brasil.
“Mitigação” e “adaptação” são expressões proferidas com naturalidade pelo ministro da Fazenda, que tem estudado as experiências de outros países no enfrentamento do aquecimento global e, por várias vezes no evento do Ethos, disse bem-humorado que está “fazendo continhas” para ver o que é possível aplicar no Brasil sem riscos para a economia, especialmente em tempos de crise.
Quando o assunto é meio ambiente, Joaquim Levy, encontra em família dois importantes aliados: o pai e a mulher. Mas é comedido ao explicar como essa influência se dá. Quando era secretário de Fazenda do Estado do Rio, instituiu o ICMS ecológico, que redistribui as maiores fatias do principal imposto estadual aos municípios que mais protegem as águas, as matas ou erradicam lixões.
Engenheiro por formação, com doutorado em economia, Levy se tornou o primeiro ministro da Fazenda a manifestar publicamente o compromisso de estudar as mudanças climáticas e as ferramentas econômicas mais inteligentes capazes de desestimular o uso de combustíveis fósseis e proteger as florestas. Gosta de conversar sobre o assunto, e se sentiu envaidecido – como brasileiro – ao ouvir do presidente Barack Obama, durante recente visita aos Estados Unidos, que o Brasil “é o país do mundo que mais reduziu emissões de gases estufa voluntariamente nos últimos anos”.
Coube a mim mediar o debate entre Levy e Izabella no evento do Ethos. Deixei a última pergunta para o ministro. Quis saber dele se não se sentia às vezes um estranho no ninho num país onde aparentemente a maioria dos economistas não demonstra muito interesse na área da sustentabilidade. Ao responder, Levy deixou claro que estava ali por entender a importância do assunto e por defender uma visão mais abrangente, “holística”, no exercício do cargo.
É bem-vinda em qualquer área profissional, especialmente no comando da economia da maior potência megabiodiversa do planeta, a prática da visão sistêmica ou holística. Que as declarações – e principalmente as atitudes – de Levy nesse quesito, sejam inspiradoras para seus sucessores.
* André Trigueiro é jornalista da Globo News especializado em sustentabilidade.
Foto: Joaquim Levy, André Trigueiro e Izabella Teixeira no lançamento da Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança de Clima – 2015.
Crédito: Clóvis Fabiano