Paris, 7 de dezembro de 2015 — Hoje, inicia-se a segunda semana de uma das maiores conferências do mundo sobre clima, sediada neste ano em Paris: a COP21. Confira os principais destaques da última semana.
Países convocam empresas e governos para precificar o carbono
França, Chile, Etiópia, Alemanha, México e Canadá, juntamente com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), convocaram empresas e governos do mundo todo a estipularem um preço para a emissão de gases do efeito estufa (GEE), com o intuito de promover uma economia de baixo carbono. Na França, estima-se que a tonelada de carbono custará 22 euros em 2016, chegando à casa dos 100 euros até 2030.
Em 2014, a iniciativa Carbon Pricing Leadership Coalition articulou-se com empresas para estimular o debate sobre a valoração do carbono. Cerca de 40 países e 23 cidades, estados e regiões estão taxando o equivalente a 12% das emissões globais de GEE. A China, por exemplo, anunciou recentemente o lançamento de seu sistema nacional de comércio de carbono, que acontecerá em 2017.
O Banco Mundial estima que todos os esquemas de carbono no mundo valem aproximadamente 50 bilhões de dólares.
120 países unem-se em prol da energia solar
A Índia anunciou uma articulação de 120 países para investir em energia solar. O comunicado foi feito na presença do Presidente da França, François Hollande, durante a COP21. O governo indiano investirá, inicialmente, uma quantia de US$ 30 milhões na construção da sede da aliança, que será na Índia. O objetivo é levantar US$ 400 milhões, provenientes de taxas de adesão e de agências internacionais. Entre as empresas envolvidas no projeto estão Areva, Engie, Enel, HSBC France e Tata Steel. A Índia estabeleceu como meta incorporar à 40% de sua matriz elétrica o uso de fontes renováveis até 2030.
Para mais informações, veja este artigo do The Guardian
Enquanto isso, os Estados Unidos e outros 18 países anunciaram que dobrarão seus investimentos para pesquisas de fontes renováveis de energia. No total, serão US$ 20 bilhões ao longo de cinco anos. O Brasil faz parte dessa iniciativa, ao lado de Reino Unido, Canadá, China, Índia e África do Sul. Outra iniciativa que merece destaque é a The Breakthrough Energy Coalition, lançada recentemente por Bill Gates, fundador da Microsoft, e Mark Zuckerberg, CEO do Facebook. O projeto tem como objetivo aumentar os investimentos em fontes renováveis de energia.
Leia mais sobre a Breakthrough Energy Coalition, de Bill Gates e Mark Zuckerberg
Confira a mensagem do CEO do Facebook sobre a iniciativa
Países vulneráveis recebem investimentos para frear o aquecimento global
Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos se comprometeram em ajudar com US$ 250 milhões os países mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima. Tais recursos auxiliariam o governo desses lugares a se adaptar aos impactos decorrentes do aquecimento global, como elevação do nível do mar, secas, entre outros. A Alemanha investirá US$ 53 milhões, os Estados Unidos, US$ 51 milhões, e os outros US$ 45 milhões virão da Inglaterra. O administrador desse fundo será o Global Environment Facility (GEF).
Confira aqui mais informações sobre esses investimentos
Líderes de 30 países se reuniram em Paris para fazer um anúncio histórico: os locais mais vulneráveis à mudança do clima receberão apoio internacional. O pedido de ajuda dos países insulares e menos desenvolvidos — que se articulam por meio do Climate Vulnerable Forum (CVF) — abrange a descarbonização completa de sua economia e o uso de 100% de fontes renováveis até 2050 em sua matriz energética. A ideia é unir forças para que o aumento da temperatura do planeta não ultrapasse 1,5°C, indo além da meta habitual de 2°C. O CVF, fundado em 2009, adotou a Declaração Manila-Paris e elaborou um mapa de atividades — Road Map of Activities — que permanece em vigor por três anos, com vistas a aumentar a cooperação e proteção dos países mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima. A iniciativa pretende levantar 20 bilhões de dólares até 2020, para financiar atividades que promovam a resiliência desses países.
Saiba mais sobre o Climate Vulnerable Forum
Alemanha, Noruega, Suécia e Suíça anunciaram um incentivo de US$ 500 milhões para a redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) em países em desenvolvimento. Esses países já contam com o apoio do Banco Mundial. A iniciativa se chama Transformative Carbon Asset Facility e financiará programas relacionados ao uso de energias renováveis, transporte, eficiência energética, gerenciamento de resíduos sólidos e cidades a partir de 2016. Espera-se que os objetivos sejam atingidos por meio do uso eficiente de mecanismos de mercado e da precificação do carbono.
Confira este artigo do Banco Mundial sobre o fundo
Novo acordo deve ser legalmente vinculante para ter efetividade, afirma Dilma Rousseff
Em seu discurso, a presidente Dilma prestou homenagem às famílias francesas pelos atentados em Paris. Sobre a questão do clima, afirmou que os impactos das alterações na temperatura global já vêm sendo sentidos pelos brasileiros — como as secas prolongadas no Nordeste e as frequentes inundações no Sul e no Sudeste. Além disso, classificou a tragédia ambiental na bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, como o maior desastre da história brasileira.
Segundo a presidente, o novo acordo climático deve ser legalmente vinculante para ser efetivo. “Não pode ser apenas uma simples soma das melhores intenções de todos”, disse ela. No mais, o documento deve levar em consideração os meios de implementação, financiamento, transferência de tecnologia e capacitação.
Dilma diz que o princípio das responsabilidades comuns dos países, porém diferenciadas, é primordial nas negociações e reforça a importância de realizar revisões das metas e compromissos de redução a cada cinco anos, assim como da própria proposta brasileira.
O Brasil promete zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e, com isso, neutralizar as emissões de supressão legal de vegetação. Ao longo da última década, as taxas de desmatamento caíram cerca de 80% e a adoção da estratégia REDD+ ajudará em grande medida o país a cumprir a meta do fim do desmatamento. O REDD+ é um sistema global que incentiva quem protege, recupera ou lida com as florestas de forma sustentável. Estima-se a restauração e o reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas e 15 milhões de hectares de pastagens degradadas nos próximos anos.
A agricultura de baixo carbono e a ampliação do uso das fontes renováveis de energia também são importantes medidas para a redução das emissões, além da erradicação da pobreza e da busca pelo trabalho decente, para alcançarmos a transformação completa de nossa economia.
A presidente ressalta a importância da participação dos governos locais, da sociedade civil, das empresas e da academia nesse processo e da contribuição dos povos indígenas e das comunidades rurais.
Por Flavia Resende, de Paris.