Empresas líderes de seus setores pedem ambição no compromisso brasileiro de redução de emissões, a ser anunciado pelo governo em setembro.
Um grupo de empresas líderes dos seus setores pediu ambição no compromisso brasileiro de redução de emissões de gases-estufa, que deve ser anunciado pelo governo em setembro. A iniciativa, batizada de Carta Aberta ao Brasil sobre Mudança de Clima – 2015, partiu do Fórum Clima, grupo de 12 grandes empresas formado em 2009 para influenciar a política brasileira de mudança do clima e a posição do país nas negociações globais.
O pacto foi renovado agora em versão mais incisiva. São nove compromissos assumidos pelas empresas – desde considerar a precificação do carbono no processo decisório de investimentos até a eliminação de produtos oriundos de desmatamento.
Entre as propostas ao governo para o acordo climático global a ser assinado em Paris, em dezembro, na COP-21, a conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, as empresas defendem a “inclusão de um limite de emissões globais de gases-estufa a longo prazo que permita zerar as emissões líquidas globais até 2050.”
Cobram a criação de um mecanismo multilateral de precificação de carbono que promova a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis e amplie os estímulos para dirigir a economia ao baixo carbono.
“É hora de transformar nossas vantagens comparativas em vantagens competitivas”, resumiu Wilson Ferreira, presidente da CPFL Energia, ontem, em São Paulo, durante evento do Fórum Clima organizado pelo Instituto Ethos e apoiado pelo Valor e pela GloboNews. “Se demorarmos muito, os outros nos alcançam.”
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que a Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) deverá ser apresentada “quando a primavera chegar”. Há seis ministérios envolvidos diretamente com a proposta – Meio Ambiente, Fazenda, Agricultura, Energia, Relações Exteriores e Planejamento.
“Estamos fazendo continhas”, disse Joaquim Levy, ministro da Fazenda. “O tema da mitigação das mudanças climáticas é cada vez mais importante. O Brasil tem posição privilegiada, mas, se não continuar melhorando, pode ficar para trás.”
A recessão econômica não é motivo para reduzir investimentos em sustentabilidade, dizem os empresários do Fórum Clima. “O Brasil está em período de reformas. Neste momento, pode escolher e ser protagonista. O país vai recuperar credibilidade agindo a favor da sustentabilidade”, disse Roberto Lima, presidente da Natura.
Ricardo Vescovi, presidente da Samarco Mineração, empresa que produz pelotas de minério de ferro, está substituindo o óleo pelo gás natural em seus fornos. O próximo passo, segundo ele, é a transição para a biomassa. “Por mais difícil que a conjuntura seja, a sustentabilidade está em toda a estratégia da empresa”, disse o executivo.
Marcelo Araujo, presidente do Grupo Libra, que atua na logística portuária, ressaltou que projetos de sustentabilidade fazem parte do modelo de gestão da empresa, com objetivos de longo prazo. “Não podemos ser afetados por conjunturas de curto prazo.”
Ao abordar o assunto pelo viés da geração energética, o presidente da CPFL, Wilson Ferreira, disse não ter dúvidas de que as fontes solar e eólica serão incorporadas à matriz brasileira, servindo de reserva de segurança, hoje feita pelas usinas térmicas. E ressaltou o barateamento no custo das renováveis: “Há dez anos, era dez vezes mais barato produzir energia a óleo combustível do que por parques eólicos”.
Guilherme Loureiro, presidente do Walmart, reforçou o compromisso de as empresas não comprarem produtos relacionados ao desmatamento.
Mudança do clima pode impulsionar inovação
José Édison Franco, presidente da Intercement, citou um projeto de inovação da companhia para desenvolver algas que se alimentam de CO2 e depois podem ser usadas como ração animal. “A produção de cimento responde por 5% das emissões de CO2 no mundo. Mas as empresas têm procurado amenizar esse impacto reduzindo o uso de matérias-primas nocivas ao ambiente e substituindo combustíveis fósseis no aquecimento dos fornos”, disse.
“A nossa mensagem é sair na frente”, disse Vescovi, da Samarco. “Esse grupo está aqui para dizer às empresas que tomem atitudes nessa direção, para serem mais eficientes na economia local e também na internacional.”
Levy disse que medidas de mitigação estarão entre os temas que o governo irá discutir com a chanceler alemã, Angela Merkel, durante sua visita ao Brasil, na semana que vem. O ministro disse ainda que esse debate é compatível com o crescimento econômico e que o Brasil pode ter um papel importante nesse cenário, utilizando cada vez mais energias renováveis, novas tecnologias e aproveitando melhor as florestas.
Por Daniela Chiaretti, Gustavo Brigatto, Camilla Veras Mota e Eduardo Laguna, do Valor Online