A frase é de Guilherme Leal, na exposição que fez durante a mais recente reunião do Fórum Clima. Outro convidado especial foi Tasso Azevedo.     

A mais recente reunião do Fórum Clima, em 21/5, contou com a participação de dois convidados especiais: o engenheiro florestal Tasso Azevedo, colaborador do Fórum Clima e curador do blog sobre mudanças climáticas do portal Planeta Sustentável, e Guilherme Leal, cofundador da Natura, que é sócio-fundador do Instituto Ethos e membro do seu Conselho Deliberativo. Leal é também um dos 14 líderes que participam do B Team, grupo internacional de empresários inovadores empenhados na construção de uma nova economia para o mundo.

Compareceram ao encontro representantes do Observatório do Clima, do Instituto Ethos, responsável pela secretaria executiva do Fórum Clima, e das empresas Alcoa, Carrefour, CBMM, CPFL Renováveis, CSN, Intercement, GPLeal, Natura, Odebrecht, Samarco e Walmart.

O diretor-presidente do Ethos, Jorge Abrahão, abriu a reunião afirmando que as empresas têm importante papel na transição mundial para uma economia de baixo carbono. “Grandes organizações têm se mobilizado, assumindo compromissos e impulsionando posicionamentos do governo brasileiro em relação à agenda do clima. O Fórum Clima é, portanto, um valioso espaço de discussão do setor empresarial”, disse ele.

O Fórum Clima atuou de maneira intensa em 2014, participando da construção da proposta brasileira para a próxima Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 21), que acontecerá em Paris, no final de 2015. Abrahão afirmou que o trabalho do grupo continuará forte neste ano e se concentrará na definição do novo acordo climático global, que será assinado na COP 21, e também na elaboração, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Plano Nacional de Adaptação (PNA). “Devemos ter um quê de ousadia para estabelecer nossas metas e precisamos explorar as potencialidades das empresas para estimular o posicionamento do Brasil na Conferência das Partes”, destacou.

Os grandes desafios da agenda do clima

A apresentação de Tasso Azevedo elucidou os pontos mais importantes sobre as mudanças climáticas. Segundo ele, um relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que um aumento de mais de 2 ºC da temperatura comprometeria, de maneira irreversível, o desenvolvimento sustentável, trazendo graves consequências para a economia dos países e alterando o próprio modo de viver da humanidade.

Para limitar o aumento da temperatura média global em até 2 ºC, é necessário reduzir as emissões de carbono em 40% a 70% até 2050. Ao longo da história, a atividade humana depositou, ao todo, mais de 500 gigatoneladas de carbono na atmosfera. Hoje, emitimos 50 gigatoneladas por ano. “Para diminuir nossas emissões, temos de fazer uma revolução energética, eliminar o desmatamento, aumentar a eficiência na agricultura, sobretudo nos trópicos, e tratar os resíduos sólidos”, disse Azevedo.

Ele ainda deu um exemplo dos esforços que os países vêm somando para frear as emissões de carbono: os dois que mais poluem no mundo, China e Estados Unidos, assinaram um acordo em novembro de 2014 estabelecendo a diminuição de suas emissões. Em 2015, os Estados Unidos desativarão 12 gigawatts produzidos por termoelétricas de carvão, equivalentes a quatro usinas do porte de Belo Monte. Essa produção passará a ser obtida por meio de energias alternativas, como a eólica e a solar. Na China, em razão da poluição local, foram descomissionadas mais de 1.000 termoelétricas de carvão nos últimos dois anos.

O lucro e o desenvolvimento sustentável

Guilherme Leal apresentou um pouco de sua trajetória como empresário e reafirmou seus compromissos com o desenvolvimento sustentável. “Acredito que não exista sociedade feliz, com boa qualidade de vida, sem ações efetivas de cidadania, por parte tanto da população quanto das empresas e do Estado. O setor empresarial tem, por si só, condições especialmente relevantes para promover o desenvolvimento sustentável e fazer avançar a agenda das mudanças climáticas”, afirmou ele. Leal considera a transição gradativa para uma economia de baixo carbono uma medida “inteligente” e “necessária”, já que as mudanças ocasionadas pelo aumento de mais de 2 ºC na temperatura poderiam minar as condições para o desenvolvimento econômico. Segundo ele, para agir, é essencial que o empresariado e a sociedade como um todo saiam da armadilha do curto prazo e tracem suas metas tendo em vista apenas o longo prazo.

Leal ainda enfatizou a importância de considerar a utilização de recursos naturais na contabilização do lucro: “Os bens naturais são usados sem que se remunere, sem que sejam computados como custo. Quanto custa poluir, emitir carbono? Essa cadeia toda não fica sob a responsabilidade de ninguém. Então, uma transformação se faz necessária. Na minha carreira, sempre tentei conciliar o social e o ambiental para ter lucro. É possível, sim, ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, promover e participar ativamente do desenvolvimento sustentável”.

O B Team

Na reunião, Guilherme Leal contou que foi convidado por um grupo de empresários para ir à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Cnuds), mais conhecida como Rio+20. Foi lá que o B Team saiu do papel, materializando-se em um time de líderes de grandes organizações mundiais que trabalham pelo “plano B” dos negócios, cujo pilar é a associação entre people, planet and profit (“pessoas, planeta e lucro”), nas palavras de Leal. O primeiro passo do grupo foi definir dez desafios:

  1. Liderar pensando apenas no longo prazo;
  2. Garantir condições de trabalho dignas e igualitárias;
  3. Valorizar a diversidade;
  4. Criar comunidades prósperas
  5. Ampliar e aprimorar a contabilidade socioambiental;
  6. Redefinir sistemas de bônus, levando em consideração o longo prazo;
  7. Reformular incentivos e subsídios fiscais;
  8. Impactar positivamente o meio ambiente;
  9. Promover a transparência;
  10. Estimular a cooperação e a troca de tecnologias.

Para perseguir o desafio, os líderes assumiram esses compromissos sob três abordagens de ação:

  1. Adotar iniciativas em suas próprias empresas, liderando pelo exemplo – “o mais forte é a ação, e não o discurso”, segundo Leal;
  2. Alavancar o movimento, expandindo essa nova cultura empresarial a outras empresas;
  3. Usar a voz e agir.

No início deste ano, em Davos, na Suíça, todos os líderes do B Team se comprometeram a zerar, em suas empresas, as emissões líquidas de carbono até 2050. “Tínhamos de assumir uma meta ousada, para podermos dar passos maiores. Liderança é assumir responsabilidades. E nós estamos assumindo. Precisamos criar consciência e vocalizar nossa posição, porque queremos criar soluções para o problema, e não ser parte dele”, afirmou Leal.

Por Talitha de Lima Paratela, do Instituto Ethos