Dados divulgados pela Nasa no último sábado (12) confirmam que fevereiro foi o mês mais quente da história desde que a humanidade iniciou os registros globais de temperatura, em 1880. A média do mês foi 1,35°C mais alta do que o período entre 1951 e 1980, batendo de longe o recorde anterior, os 1,14°C de janeiro de 2016. O trimestre dezembro-fevereiro também foi considerado o mais quente da série, com 1,2°C.
O período de referência utilizado pela Nasa é 0,3°C mais quente que o período pré-industrial. Portanto, é provável que o globo tenha, pelo menos neste mês, ultrapassado o limite de 1,5°C de aquecimento (em relação aos tempos que precedem a Revolução Industrial) que prometemos tentar evitar com o Acordo de Paris. Em seu blog na revista Slate, o meteorologista americano Eric Holthaus, que havia antecipado o teor dos dados da Nasa na semana passada, ressalta que, no hemisfério Norte, a temperatura passou até mesmo 2°C. No Ártico, que liderou a tendência de calor global do mês, a temperatura foi 4°C mais alta do que a média de fevereiro.
A temperatura global em um único mês não informa muita coisa sobre as tendências anuais, que é o que realmente importa para aferir as mudanças do clima. Embora o limite de 1,5°C tenha sido ultrapassado em um mês, isso não quer dizer que essa será a média de 2016 (apesar de haver previsões de que este ano terá mais calor do 2015, o mais quente da história) ou que o aquecimento da Terra seja uma marcha inexorável de um ano mais quente que o outro (embora o biênio 2014-2015 passe exatamente essa impressão).
Mas o pico de calor no mês passado, em pleno inverno no hemisfério norte, deixou de queixo caído até os cientistas que fazem os registros da temperatura global. O diretor do Centro Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, Gavin Schmidt, soltou um único comentário a respeito disso em sua conta no Twitter: “Uau”. E completou: “Normalmente eu não comento sobre meses individuais [nos quais a variabilidade meteorológica, de curto prazo, é muito maior que a climática, o que pode distorcer a percepção], mas o mês passado foi especial”.
O El Niño, monstro que ainda esquentará o Pacífico em 2016, é visto como cúmplice do recorde, mas de maneira alguma o único culpado. Como lembra o também meteorologista Jeff Masters em seu blog, fevereiro de 2016 deixou no chinelo fevereiro de 1998, que também sofreu o efeito de um El Niño “potencializado” e até então detinha o recorde de mais quente, com 0,88°C (uma diferença de impressionantes 0,47°C em comparação ao que aconteceu agora).
“Estamos acelerando a uma velocidade assustadora rumo ao limite acordado globalmente de 2°C de aquecimento em relação à era pré-industrial”, escreveu Masters.