No seu local de trabalho, ao observar os colegas de sua área de trabalho, o que você vê? Quantos negros, quantas mulheres, quantas pessoas com deficiência, quantos idosos? A resposta mais provável é de que não há um público tão diverso quanto deveria ter. É isso que o “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil”, com lançamento previsto para o mês que vem, nos mostrará. A diversidade aumentou nos últimos anos, mas foi pouco. As mudanças relacionadas à desigualdade se associam diretamente com heranças de uma sociedade que restringia o exercício político das mulheres e dos negros e, dessa forma, exigem quebras de padrões históricos. Portanto, o processo de inclusão é lento.

O “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil” se baseia em entrevistas com 332.066 funcionários das maiores companhias do país. A maioria delas integra o setor industrial, tem sede no sudeste brasileiro e receitas de até R$ 500 milhões. Os números revelam um ‘tímido’ aumento da diversidade nos últimos cinco anos: apenas 13,6% mulheres são executivas (ante 86,4% homens). O cenário é ainda mais discrepante ao considerarmos o recorte racial: 4,7% negros são diretores e CEOs. E, para agravar a situação, boa parte das empresas não apresenta políticas afirmativas — o que amplifica ainda mais os desafios a serem superados. “As coisas não mudaram muito em relação a 2001. O que estamos tentando fazer é começar um processo conectivo, em que possamos compartilhar experiências e desenvolver medidas. O momento é crítico e temos de implementar políticas públicas para enfrentar as disparidades de gênero e raça no Brasil”, diz Judith Morrison, do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Segundo ela, em tempos de crise nenhuma companhia pode bancar ‘gastos adicionais’, mas há outros caminhos para promover a riqueza étnica e de gênero no ambiente corporativo, como o estímulo ao diálogo e a construção de uma cultura da diversidade.

Na opinião de Caio Magri, do Ethos, “as políticas públicas é que farão mudanças significativas no aumento da igualdade no Brasil”. Daniel Teixeira, do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), vê grande “importância de trabalhar o gênero e a faixa etária com a intersecção racial. De 2002 a 2012, o homicídio de jovens negros aumentou 32,3%, enquanto o de brancos diminuiu 32,4%”.

O governo instituiu políticas e programas de cotas nas companhias estatais e nas universidades públicas. Para dar continuidade a esse processo, a parceria com o setor privado é fundamental, já que, à medida que os jovens se formam, estão aptos para desenvolverem suas habilidades profissionais e impulsionarem sua carreira.

Estudo mapeia práticas de diversidade dos fornecedores da Prefeitura de São Paulo

O “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil” foi realizado pelo Instituto Ethos, em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas), o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a ONU Mulheres e a SMPIR (Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo), e teve cooperação do BID.

Engajamento, ações coletivas e práticas afirmativas
Os dados do “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil” foram apresentados na reunião de abril do Grupo de Trabalho Empresas e Direitos Humanos do Instituto Ethos. As empresas que participam da iniciativa buscam aprimorar e disseminar práticas que contribuam para garantir os direitos humanos e promover o trabalho decente.

No mês passado, o Conselho Britânico selecionou o Instituto Ethos, o IHRB (Institute for Human Rights and Business) e o CEERT por seu projeto de promoção da equidade racial e de gênero no mercado de trabalho.

Ethos é aprovado em edital internacional de direitos humanos

Com a aprovação no edital, o Ethos confeccionará o “Guia Temático dos Indicadores Ethos para Equidade Racial”, a reformulará o Banco de Dados de Boas Práticas, apoiará as atividades nas Conferências Ethos 360° e, em especial, criará o Fórum Empresarial sobre Equidade de Gênero e Raça, inédito no Brasil.

 

Foto: Diversificar/Wix