Marlucio Borges_FiespMarlucio Borges, diretor adjunto do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, fala da publicação e das tendências apontadas por ela.

Durante a Semana do Meio Ambiente promovida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foi lançada a edição do Guia de Produção e Consumo Sustentáveis – Tendências e Oportunidades para o Setor de Negóciosuma parceria da Fiesp com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

A publicação pretende mostrar às empresas a necessidade de adotar um modelo de desenvolvimento com menor impacto ambiental, a fim de preservar a oferta de recursos naturais e os serviços ecossistêmicos, essenciais à manutenção da vida no planeta.

Em entrevista ao Boletim Sustentabilidade Fiesp, Marlucio Borges, diretor adjunto do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp (DMA-Fiesp), fala sobre o guia e as tendências apontadas por ele.

Boletim Sustentabilidade Fiesp: A primeira grande tendência é a produção e consumo em uma lógica circular, na qual os materiais são constantemente reciclados e reutilizados. Qual o benefício para o empresário que aderir a este modelo de produção?
Marlucio Borges: A lógica de produção e consumo sustentáveis (PCS), na verdade, vai além da perspectiva de constante reciclagem/reutilização dos materiais. Pressupõe uma relação de dependência e de influência entre as dimensões de produção e consumo. Em outras palavras, uma dimensão influencia e é influenciada pela outra, o que impacta de modo mais amplo o modelo de negócio das empresas. Assim, a ótica de PCS aporta ao empresário um entendimento mais robusto do papel da empresa no negócio e, portanto, permite identificar estratégias e práticas que garantam melhor desempenho, competitividade e posicionamento da empresa no mercado. Além disso, a abordagem de PCS está se concretizando solidamente como elemento de referência ao atendimento de outras políticas e instrumentos, que vão da Política Nacional de Mudança do Clima e da Política Nacional de Resíduos Sólidos a protocolos globais como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – a Agenda ONU pós-2015 –, sendo que o ODS 12 trata especificamente de padrões de consumo e produção sustentáveis.

BSF: Sustentabilidade nas compras públicas também é um novo caminho e o governo brasileiro criou um programa que dá preferência a produtos e serviços com menor impacto socioambiental. Como essa mudança pode impactar as micro e pequenas indústrias?
MB: O governo federal é um grande comprador, respondendo por um percentual de compras no Brasil que pode chegar a 15% do PIB nacional, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que, naturalmente, representa um potencial muito significativo de mercado.

As compras públicas sustentáveis (CPS) se consolidam, portanto, como um movimento do governo no sentido de estimular de modo sistematizado a valorização de negócios sustentáveis. Todavia, a grande questão no mundo todo é o modo de se implementar esse processo de forma que ele reverbere positiva e equanimemente em todas as categorias de empresas e setores da sociedade. A gradualidade na adoção de princípios e critérios para CPS é, sem dúvida, uma das condições para permitir que as micro e pequenas empresas possam se aparelhar e se apropriar das vantagens econômicas e socioambientais dessa iniciativa. Mesmo contando com uma maior flexibilidade perante as mudanças quando comparadas às grandes empresas, as micro e pequenas enfrentam dificuldades e limitações crônicas cujo endereçamento também é condição para acessarem um fornecimento mais exigente previsto nas CPS.

BSF: Com a nova Resolução nº 4327, do Banco Central, as instituições financeiras passaram a fazer mais exigências para liberar financiamentos às empresas. Como essa resolução atinge o segmento industrial e como o empresário pode se ajustar para obter benefícios por meio dessa resolução?
MB: A Resolução nº 4327 representa a consolidação de um movimento que tem como marco importante os Princípios do Equador e que trata não só da incorporação de regras de responsabilidade socioambiental nas atividades financeiras, mas também da própria corresponsabilidade dos agentes financeiros nas operações de concessão de crédito.

Vale registrar que esse movimento de incorporação já vem acontecendo na indústria há muito tempo e tem sido um papel nosso, no DMA-Fiesp demonstrar ao empresariado como esse processo, à luz do entendimento e adoção de posturas sustentáveis, pode representar um ganho de valor para o negócio. No caso da Resolução 4327, apenas como exemplo e de modo muito sucinto, uma das abordagens da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) dos agentes financeiros se refere à gestão do risco socioambiental na qual procedimentos preventivos se apresentam como um dos principais caminhos de atendimento.

Nessa linha, há quase duas décadas o DMA-Fiesp não só fomenta a adoção de práticas preventivas, como a Produção Mais Limpa (P+L), mas também prepara o empresariado por intermédio da disseminação de conceitos, capacitação e formação de parcerias estratégicas. Assim é que, durante a Semana de Meio Ambiente 2015 da Fiesp tivemos a satisfação de lançar o Guia de Produção e Consumo Sustentáveis – Tendências e Oportunidades para o Setor de Negócios, uma parceria da Fiesp com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que tem seu foco em pequenas e médias empresas e conta entre seus objetivos fortalecer o posicionamento da indústria e do empresariado, facilitando  não somente o ajuste para o acesso a benefícios de uma resolução como a 4327, mas principalmente que tais empresas se desenvolvam e gerem desenvolvimento.

BSF: Rastrear o ciclo de vida dos produtos é outra grande tendência mundial e, em algum momento, as micro e pequenas empresas receberão demandas de seus clientes relacionadas às questões de sustentabilidade. Como essas empresas podem incorporar esse processo e ser mais competitivas?
MB: Como tendência mundial penso numa abordagem mais sistêmica, ampla e fundamentada sobre as dimensões de produção e consumo em todas as suas vertentes, o que nos leva a pensar o ciclo de vida, e não simplesmente rastreá-lo. De modo sucinto, é possível assumir que, para as micro e pequenas empresas, um caminho inicial e necessário é buscar conhecimento sobre o seu próprio negócio e sobre o mercado para poder responder a perguntas simples, mas fundamentais (que valem também para as grandes), tais como: “Onde estou?” “Onde quero chegar?” e “Como chegar lá?”. O Guia de Produção e Consumo Sustentáveis, já considerando o pensamento do ciclo de vida, dá algumas pistas para essas perguntas.

BSF: A inovação para a sustentabilidade também terá cada vez mais relevância na competividade das empresas, pois está diretamente relacionada à melhoria de eficiência e produtividade. Como esse tipo de estratégia pode ajudar as micro e pequenas indústrias a ganharem mais mercado?
MB: Primeiro, é preciso entender o que significa inovação e como ela pode realmente transformar um negócio. No caso de micro e pequenas empresas, tal entendimento se faz ainda mais essencial, porque tem a ver com a capacidade de aderência e de assimilação desse fundamental agente de mudança. Uma das maneiras de se definir inovação é entendendo-a como um veículo que permite a transformação do conhecimento em valor.

Sob esse aspecto e de maneira geral, é preciso conceber estratégias simples que potencializem o conhecimento muitas vezes “escondido” nas empresas de modo que se transformem em valor. Vemos, por exemplo, conhecimentos do chão-de-fábrica que, quando devidamente considerados e trazidos à tona, levaram a modificações práticas que geraram grande valor para as empresas. Isso é inovação.

Pensando em pequenas empresas, um grande desafio, sem dúvida, é efetivar esses caminhos de inovação. Sem querer ser repetitivo, mas já fazendo um convite à leitura, há também no Guia de Produção e Consumo Sustentáveis – Tendências e Oportunidades para o Setor de Negócios um pouco dessa discussão e sugestão de encaminhamentos.

Por Karen Pegorari Silveira, no “Boletim Sustentabilidade Fiesp”