Desde a década de 90, John Elkington e muitos outros especialistas lançaram luz à sustentabilidade. Aliás, posso fazer menção de uma vasta gama de profissionais que dedicaram sua vida, ou bons anos dela, ao tema, trazendo a discussão socioambiental à tona e contribuindo para tornar o mundo um lugar melhor. Além de John Elkington, que postulou o tripé da sustentabilidade (ambiental, social e econômico), recomendo a leitura do livro “Canibais de Garfo e Faca” e cito Michael Porter, com sua teoria de valor compartilhado, Muhamad Yunus, o banqueiro dos pobres, Lester Brown e Frijot Capra. No Brasil, Dal Marcondes, Ricardo Voltolini, André Trigueiro, Fábio Barbosa e Ladislau Dowbor são grandes nomes.

Os profissionais são muitos e qualquer tentativa de listar alguns deles seria inútil. Dei destaque a esses especialistas para agradecer a aqueles que tanto têm contribuído e solidificado a causa no Brasil e no mundo. No entanto, a reflexão que este texto busca trazer, de alguma forma, lança um questionamento um pouco mais perturbador. Estariam as empresas realmente investindo em sustentabilidade de forma consistente? E, mais, estaria a sociedade realmente mais informada e crítica a ponto de realizar uma pressão efetiva e eficaz?

Em tempos de instabilidade política e econômica, é impossível não se fazer essa pergunta. Sim, claro, muitas companhias vêm realizando um trabalho primoroso e transformador. E aqui registro também minha admiração por elas. Apesar disso, é notório que neste momento desafiador várias encontraram como solução o desmantelamento da área de sustentabilidade, a redução de investimentos, o congelamento de projetos e cortes de profissionais.

Parece que, apesar dos pretensiosos avanços socioambientais, quando se colocam na balança os pesos e as medidas para uma tomada de decisão, a sustentabilidade sai perdendo. No jargão popular, parece que a preocupação com a preservação ambiental e inclusão social como componentes complementares ao crescimento econômico são mero blá-blá-blá.

Calma, não quero que surja uma onda de desânimo, mas sim uma autoanálise individual e coletiva. Até que ponto estamos priorizando e colocando no centro da estratégia empresarial o elemento sustentabilidade? E como os profissionais da área podem e devem contribuir a fim de que os gestores a percebam como vetor estratégico fundamental para a perenidade de qualquer negócio, da sociedade e da vida no planeta?

Enquanto sujeitos, a questão também nos assola. Até onde estamos dispostos a priorizar decisões mais sustentáveis? Não somente na oratória, e sim no cotidiano e na prática, para que tenhamos um discurso e uma atitude coerentes, caminhando juntos.

No contexto em que estamos vivendo, temos de tomar uma decisão: ou deixar a sustentabilidade se tornar um discurso vazio, flácido e sem sentido ou arregaçar as mangas com coragem e seriedade, trazendo à tona o sentido e a ação que a temática requer, assegurando que será pauta nas agendas e na vida, e transformando a realidade. É o momento de escolher se queremos honrar e perpetuar o legado que tantos têm construído para nós e para as gerações futuras.

 

Por Liliane Rocha, da Gestão Kairós.

 

Ilustração: Koffski93/Devianart