Na manhã da última terça-feira (22), Bruxelas, capital belga, foi o novo alvo dos atentados terroristas sofridos pela Europa recentemente. Duas bombas explodiram, uma no metrô e outra no aeroporto, deixando mais de 30 vítimas e cerca de 200 pessoas feridas. O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade do ataque.

Em tempos de crise migratória, os atos terroristas de grupos fundamentalistas que não representam grande parte da população islâmica fomentam e potencializam os discursos de ódio contra os recém-chegados, e causa um maior endurecimento das burocracias para a entrada no país e a obtenção de cidadania, o que vulnerabiliza ainda mais os processos de imigração.

Os sírios no Brasil
O Brasil tem lidado com a intensa imigração dos refugiados melhor do que muitos países europeus. Segundo informações do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), 2.077 sírios tiveram reconhecimento como refugiados de 2011 a agosto de 2015. O número é maior do que o dos Estados Unidos, de vários países da Europa (como Grécia, Espanha, Itália e Portugal), do Oriente Médio e da África.

O governo federal adotou medidas para facilitar o visto brasileiro. Porém, além do Bolsa Família, que pode ser requerido pelos imigrantes, ainda não há qualquer programa ou política pública voltada especificamente para esses casos. Com o aumento da entrada de refugiados no país, é urgente implantar mecanismos que promovam a integração social e econômica dessas pessoas, sobretudo gerando empregos formais e permitindo o acesso à saúde e à educação, o que diminui sua vulnerabilidade e estimula seu potencial de movimentar a economia.

A imigração e o trabalho escravo andam de mãos dadas
O êxodo de zonas tomadas por guerras civis faz com que muitas pessoas tenham que reconstruir sua vida em um novo lugar. Tanto a situação da qual saíram quanto o contexto em que passam a viver, com um idioma para aprender e uma sociedade à qual precisam se adaptar constituem grandes fatores de vulnerabilidade. A necessidade de sobrevivência faz com que muitos caiam nas armadilhas do mercado informal, com exploração de mão de obra e condições de trabalho análogas à escravidão.

No caso dos imigrantes, a implementação de políticas e programas governamentais que os acolham humanitariamente, respeitando os direitos humanos e dando acesso aos serviços sociais básicos, como educação, saúde, moradia e assistência financeira, preveniria grande parte dos riscos de serem vítimas do trabalho forçado.

Em São Paulo, o uso de mão escrava boliviana na indústria têxtil, por exemplo, é muito recorrente. Em 2015, 1.010 pessoas foram resgatadas de condições degradantes de trabalho, segundo um relatório do Ministério do Trabalho e Emprego.

As empresas podem alavancar a inclusão social
Por meio políticas corporativas de contratação e capacitação de refugiados, a vulnerabilidade diminui. O fato de o setor privado ser uma grande força que move a esfera econômica faz com que seja um ator importante no acolhimento da população recém-chegada e em sua inclusão na sociedade.

Para o combate ao trabalho forçado, é preciso também fortalecer a governança, dar mais consistência às práticas empresariais e olhar para as operações de fornecedores e terceiros.

O monitoramento da cadeia de valor, de modo a minimizar riscos de trabalho escravo, é fundamental. Além disso, há grandes empresas que estimulam negócios com fornecedores que contratam imigrantes formalmente, funcionando como indutores. Assinar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo é um outro caminho. Para mais informações, acessar o site do InPACTO.

Ouça a nossa coluna na CBN. Nosso diretor-presidente, Jorge Abrahão, fala todas as sextas-feiras, às 15:00, sobre os temas mais quentes da sustentabilidade.

 

Foto: Agence France-Presse