Kailash Satyarthi, Nobel da Paz 2014, crê que a consistência da legislação brasileira pode acabar com a exploração de crianças no país.
Na última quarta-feira (27), um dos mais importantes ativistas da atualidade, Kailash Satyarthi, ganhador do prêmio Nobel da Paz de 2014, participou de um evento promovido por organizações da sociedade civil e órgãos de governo empenhados no enfrentamento ao trabalho escravo: Instituto Ethos, InPACTO, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Organização do Internacional do Trabalho (OIT) e Tribunal Superior do Trabalho (TST), com apoio da FecomercioSP. Em um auditório lotado, Satyarthi relatou ao público seu empenho na luta em defesa dos direitos humanos, contra o trabalho infantil e o trabalho escravo, e anunciou que em breve vai lançar uma campanha mundial que tem tudo para ser a maior mobilização dos direitos humanos realizada no planeta: A Hundred Million for a Hundred Million (em português, “Cem milhões por cem milhões”). A iniciativa, inspirada na Marcha Global contra o Trabalho Infantil, pretende mobilizar 100 milhões de pessoas para tirarem 100 milhões de crianças do trabalho infantil. “É uma campanha grande e ambiciosa, mas que tenho certeza de que podemos fazer”, comentou.
O ativista indiano contou de uma experiência que viveu há dois anos, na Costa do Marfim. Em suas andanças pelo país, encontrou um grupo de jovens cujos braços e pernas estavam marcados por ferimentos e cicatrizes. Um dos garotos lhe contou o que havia acontecido: “É resultado do meu trabalho na fazenda de plantação de cacau”. Ao perguntar ao menino se ele gostava de chocolate, o jovem respondeu: “o que é chocolate?”
O cacau, principal ingrediente do chocolate, um dos produtos mais vendidos no mundo, era fruto da exploração de mão de obra infantil. “É uma indústria que movimenta bilhões de dólares no mundo. Não nos envergonha ouvir isso?”, indagou ele. “O que seria maior do que proibir uma criança de brincar? Que crime seria maior do que proibir a liberdade? Eu acredito fortemente que todos problemas têm solução. Nós devemos ser ‘compassivamente’ inteligentes, e não apenas inteligentes. Com compaixão, você consegue resolver qualquer problema no mundo”.
Satyarthi crê na economia não como um fim, mas como um meio. “As empresas não são máquinas de fazer dinheiro. Elas têm um papel social muito forte a cumprir, maior do que a obtenção do lucro. O lucro é apenas um dos objetivos que elas deveriam ter”, afirmou. Ele ressaltou a importância do trabalho das organizações da sociedade civil, que representam importantes atores na construção de políticas públicas. “Política não é só ter poder, é oferecer um meio para que o país possa evoluir e permitir o desenvolvimento social”.
Na avaliação do ativista, o Brasil tem todos os ingredientes para transformar o trabalho infantil em coisa do passado. “Vocês têm muitas leis que muitos países não têm. E os últimos 10, 15 anos mostraram que políticas públicas como o Bolsa Família podem dar retorno. Vocês têm uma base de proteção social e outras atividades desenvolvidas em um nível que eu nunca tinha visto no mundo. A Índia sonha com isso, definitivamente”.
Créditos: InPACTO
Foto: Clovis Fabiano