O Grupo de Trabalho (GT) de Integridade do Instituto Ethos realizou mais uma reunião (16/09) em sua jornada para construir uma agenda interseccionada e transversal do conceito de integridade socioambiental. O encontro, que contou com a participação de empresas associadas e parceiros como CGU, IBGC e Globo, marcou a terceira etapa desse processo de construção no ano. O objetivo do Instituto Ethos é trazer clareza a esses conceitos, construir com as empresas associadas os impactos desejados no ambiente de negócios, na confiança, na competitividade justa, na redução das desigualdades e no fortalecimento das instituições e da democracia.
Governança e cultura de integridade
A discussão sobre o desafio da integridade e governança foi aberta por Marilza Benevides, representando o IBGC. Ela destacou a inserção da integridade no rol de princípios da governança corporativa na sexta edição do Código de Melhores Práticas do IBGC, lançado em 2023. A integridade é definida como a coerência entre discurso e ação.
Marilza Benevides pontuou que se um programa de integridade estiver dissociado da governança corporativa, ele tende a ser apenas um conjunto de controles e ferramentas, focado na conformidade, e não na mudança da cultura organizacional. O IBGC considera quatro direcionadores muito relevantes para o avanço da integridade: o propósito e a cultura, a liderança ética inspiradora, a autonomia e recursos, e a inovação e tecnologia.
A palestrante alertou sobre os pontos mais difíceis de enxergar, que estão na “zona cinzenta”, como a clareza sobre conceitos de princípios e valores, a necessidade de competências e habilidades pessoais esperadas de um líder, e a vigilância sobre a cultura moldada diariamente nas organizações. A liderança ética precisa dar o exemplo na conduta diária e tomar decisões éticas equilibradas e sustentáveis.
Desafios do Compliance na Indústria de Mídia
Em seguida, Carolina Junqueira, Diretora de Compliance e Riscos da Globo, e Daniela Souza, Coordenadora de Compliance da Globo, apresentaram o caso da empresa na construção da cultura de compliance. Carolina Junqueira explicou que, por também ser responsável pela vertical de governança no projeto ESG da Globo, a troca de informações é valiosa.
O perfil de risco de compliance na Globo é descrito como muito comportamental devido ao perfil diversificado das pessoas colaboradoras, que incluem criativos, cenógrafos, jornalistas, entre outros. O desafio central é encontrar uma linguagem que comunique os valores para esse público e estabelecer padrões inegociáveis.
A equipe de compliance da Globo busca ter uma atuação coerente, garantindo que os processos de apuração sejam justos, técnicos e isentos, resistindo ao “moralismo punitivo” e pressões externas. A diretora mencionou que a empresa trata e valoriza cada interação recebida pelo canal de ouvidoria como a ferramenta mais poderosa para criar a cultura de compliance. Desde que foi implementado, o canal de ouvidoria da Globo já recebeu 8.000 relatos.
A empresa adota um posicionamento que evita falar sobre casos de compliance para preservar a confidencialidade e privacidade. No entanto, ela aumenta a transparência através de campanhas educativas e institucionais. O compliance tem um papel transversal, dialogando com a gestão de risco, reputação e cultura. Neste ano, o programa de compliance da Globo completa 10 anos, e a empresa busca o selo Pró-Ética.
Novidades na agenda regulatória
Cristine, da Controladoria-Geral da União (CGU), compartilhou brevemente informações sobre o evento “Dia de Integridade Empresarial” realizado na semana anterior pela CGU. Ela destacou a importância de ouvir a sociedade civil e a iniciativa privada para enriquecer o trabalho da esfera pública.
No balanço de realizações apresentado no evento, a CGU informou que, até o mês de setembro, foram firmados 34 acordos de leniência com um ressarcimento total de aproximadamente R$ 18 bilhões aos cofres públicos. Além disso, 18 acordos permanecem em negociação, e 25 estão em fase de monitoramento. As multas aplicadas em processos administrativos de responsabilização (PARs) somam cerca de R$ 674 milhões no ano.
Sobre o Pró-Ética, Cristine confirmou que a edição está em andamento, com a inclusão de temas relacionados à responsabilidade socioambiental, defesa de direitos humanos e maior ênfase em governança corporativa. 265 empresas finalizaram as inscrições, preenchendo os formulários de perfil e conformidade.
Um dos principais anúncios foi a publicação da portaria normativa SE/CGU Nº 226, de 9 de setembro de 2025, que estabelece os procedimentos e a metodologia de avaliação do programa de integridade de que trata o Decreto Nº 12.304, de 9 de dezembro de 2024 da Nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021). Essa nova regulamentação se aplica a contratações de grande vulto (acima de R$ 251 milhões de reais). A CGU atuará como avaliadora dos programas de integridade no âmbito federal. O programa de integridade poderá ser usado como critério de desempate e como condição de reabilitação para empresas punidas.
A coordenadora do GT, Marcela Greggo (gestora de Projetos e Serviços do Instituto Ethos), informou que o Ethos estuda a possibilidade de realizar um encontro exclusivo sobre o assunto da integridade em licitações.