Jorge Abrahão, diretor-presidente do Ethos, destaca a importância de empresas com melhores práticas influenciarem políticas públicas

Realizou-se em Cáli, Colômbia, entre os dias 13 e 14 de novembro de 2014, o fórum “Como pode o setor privado liderar grandes transformações sociais”, organizado pela Asociasión Nacional de Empresarios (ANDI).

Em dois dias de palestras, estiveram presentes, entre outros,  o empreendedor social David Jones, o especialista em planejamento estratégico e transformação de negócios Marcelo Tedesco, o diretor executivo da Global Reporting Initiative (GRI) e membro do Conselho Internacional do Ethos, Ernst Ligteringen, o presidente da ANDI Bruce Mac Master, o assessor da Presidência da Fundación Avina e membro do Conselho Internacional do Ethos, Bernardo Toro, e o diretor-presidente do Ethos, Jorge Abrahão.

Eles ressaltaram as diferentes teorias que convivem, hoje, no mundo, a respeito de como as empresas podem ser socialmente responsáveis, cada um em sua área de conhecimento.

David Jones, como empreendedor social, tratou de defender a importância de ter a RSE como centro da estratégia de negócio, para que a empresa possa realmente alavancar mudanças relevantes. Marcelo Tedesco, que atualmente trabalha da Hitachi da Colômbia, entende que a empresa precisa entender os assuntos sociais como motor de negócios e não como temas periféricos. Assim sendo, a empresa necessita priorizá-los nas estratégias. Ernst Ligteringen comentou a respeito da importância dos relatórios integrados para que os executivos, principalmente os tomadores de decisões, possam ter uma visão holística do negócio, juntando informações financeiras e socioambientais num único documento.

Empresa precisa incorporar a ética do cuidado

BernardoToro, por sua vez, fez uma análise sobre o momento atual do mundo, com uma realidade que deverá ser cada vez mais pautada pelas mudanças climáticas e quais as características que terão as empresas sobreviventes. Para Toro, o setor precisa desenvolver um novo projeto ético que ele chama de “paradigma do cuidado”.

Cuidar é uma opção, de acordo com Toro, mas algo cada vez mais mandatório. Ou aprendemos a cuidar ou não sobreviveremos.  Por extensão, as empresas que não sabem cuidar dos recursos naturais, dos funcionários, dos clientes, das comunidades do entorno, do meio ambiente, não terão futuro. Não se trata apenas de prevenir novos danos, mas de regenerar o passivo anterior. Um dos valores deste paradigma é aprender a fazer transações ganha-ganha, o que implica, entre outras coisas, em:

– saber criar valor econômico e ético ao mesmo tempo;

– produzir e consumir bens úteis: que contribuem para a dignidade humana:

– aumentar a qualidade e a duração dos bens e diminuir sua obsolescência, para racionalizar a energia;

– aumentar a transparência do Estado, das empresas e das organizações da sociedade civil;

– fomentar o consumo consciente;

RSE e políticas públicas

Se o país e as empresas querem avançar de forma consistente na aplicação de estratégias de sustentabilidade com o setor privado e os entornos onde esse setor opera, então é fundamental apoiar a aprovação de políticas públicas que regulem a maneira pela qual as empresas devem atuar nesses entornos. Essa foi a conclusão deixada por Jorge Abrahão ao final de sua palestra no fórum da Andi, em 13 de novembro, na cidade de Cáli, na Colômbia.

Abrahão assinalou que, à medida que as companhias apresentem boas práticas nas áreas operacionais ou com as partes interessadas no negócio, os planos e programas devem se converter em insumo para a construção de um documento de política pública. “Essa ação é importante para que as empresas tenham registro das atividades e dos indicadores que devem cumprir”, explicou o diretor-presidente. “A combinação de prática empresarial com política pública é uma forma de dar velocidade e qualidade ao movimento da responsabilidade social empresarial”, assegurou ele.

Abrahão ainda afirmou que os países verdadeiramente comprometidos com as grandes transformações sociais precisam fazer a transição dos compromissos adotados voluntariamente pelas empresas para a forma de indicadores legalmente estabelecidos para cumprimento obrigatório por todas as empresas.

Além disso, o diretor-presidente chama a atenção para a necessidade de estes marcos regulatórios já indicarem um sistema tributário baseado na sustentabilidade, ou seja, de incentivo a atividades dessa natureza, por exemplo, uso de energias alternativas, e desincentivo a atividades não sustentáveis, como energias fósseis. Ele também assinalou que tais políticas devem ter uma visão de longo prazo, entre 10 e 20 anos, um período de tempo com o qual os executivos não estão acostumados a trabalhar, mas os investidores, sim.

Abrahão também destacou que os consumidores estão acompanhando de perto qual o comportamento das empresas em relação aos temas da sustentabilidade e tomando decisões de compra baseados nos juízos que formam a esse respeito. “Por isso, é preciso articular todos os setores da sociedade e as empresas não podem ficar sozinhas nesse trabalho”, finaliza.