Fórum Empresarial Nacional pela Equidade de Gênero e Raça promete sensibilizar empresas, de modo que adotem medidas afirmativas voltadas para grupos discriminados pelo mercado de trabalho.
Com o objetivo de sensibilizar e engajar o setor privado na construção do “Fórum Empresarial Nacional pela Equidade de Gênero e Raça”, uma iniciativa inédita no Brasil, o primeiro ciclo de debate sobre o tema na Conferência Ethos 360º contou com a presença de Caio Magri, diretor executivo do Instituto Ethos, que mediou a rodada de diálogo com a consultora da divisão de gênero e diversidade do BID, Renata Braga, o secretário de promoção da igualdade racial da Prefeitura de São Paulo, Mauricio Pestana, e a gerente sênior de Programa do Newton Fund, do Conselho Britânico, Diana Daste.
Durante sua introdução, Magri destacou a discrepância de oportunidades existente entre pessoas de gêneros opostos no mercado de trabalho: “A presença dos homens é duas vezes maior do que das mulheres. Esse é um dado bastante importante e impressionante. Por outro lado, nossa pesquisa descobriu que a escolaridade das mulheres é muito maior do que a dos homens. O que significa que a história da meritocracia, da formação acadêmica não funciona como uma justificativa para a exclusão das mulheres. Se você olhar em todas as diferentes instâncias de uma empresa que foi pesquisada no perfil, 52% das mulheres têm nível superior, enquanto homens têm 35%”.
“Se há alguma coisa que as empresas podem fazer é modificar suas políticas de contratação, de promoção, de inclusão, de retenção, pensando de uma forma mais estratégica para se ter diversidade, retenção de talentos e capacidade de geração de negócios de riquezas”, concluiu. Renata Braga ratificou o interesse do BID em acompanhar e fortalecer o projeto do Fórum. “Nós lançamos, em maio, a sexta edição do perfil das 500 maiores empresas no Brasil, e o Fórum nos parece uma oportunidade ímpar de dar continuidade a esse debate ensejado pela publicação”, disse, referindo-se ao “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, série histórica que existe desde 2001 e traça um retrato de como as organizações têm colaborado para a inclusão social.
Políticas importantes do ponto de vista de ações afirmativas foram apontadas por Mauricio Pestana, como a criação do Fórum São Paulo Diverso, uma iniciativa da secretaria de promoção da igualdade racial que atua na cidade de São Paulo na perspectiva da promoção da diversidade racial. “Essa iniciativa vem somar algumas iniciativas que a gente tem adotado há alguns anos. É importante lincar o porquê delas e em que ambiente elas acontecem. Quando você olha para a América Latina, especificamente o Brasil, você vê que essas desigualdades são maiores do que em qualquer local”, afirmou ao lembrar que o Brasil tem figurado entre os cinco países com maior desigualdade do mundo.
Já Diana Daste contou sobre a atuação do fundo no Brasil e o investimento da companhia para superar a disparidade socioeconômica nos territórios em que atua. “O Newton Fund é o fundo de cooperação bilateral do governo britânico. Ele opera em 15 países, sendo o Brasil um deles. É uma iniciativa que visa apoiar projetos que promovem o desenvolvimento social e econômico dos países parceiros por meio de pesquisa, ciência e tecnologia que gerem capacidades, conhecimento e tecnologias, não só em uma perspectiva científica, mas também social. São 735 mil de libras de financiamento que estamos visando para investimentos sociais até 2021”. Em parceria com o Instituto Ethos, a organização dele lançar até novembro deste ano o “Guia Temático para Promoção da Equidade Racial: Indicadores Ethos-Ceert”.
A outra mesa
Ana Letícia Salla, coordenadora de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, foi responsável pela segunda rodada de palestras do “Fórum Empresarial Nacional pela Equidade de Gênero e Raça” na Conferência Ethos 360º e destacou alguns pontos a serem discutidos entre os palestrantes acerca do tema: estimular a promoção da diversidade e da equidade racial e de gênero no mercado de trabalho para reverter o cenário atual de participação, especialmente de afrodescendentes mulheres; engajar, mobilizar e articular empresas, poder público e sociedade civil para juntos promoverem políticas e ações mais inclusivas com foco em gênero e raça; compartilhar e disseminar boas práticas e inovações na promoção e gestão da equidade de gênero e raça; influenciar políticas públicas em um esforço coletivo para superar a discriminação de gênero e raça no mercado de trabalho; e, por fim, disseminar práticas e políticas de enfrentamento de todas as formas de violência de gênero e raça no ambiente corporativo.
“O projeto se propõe a ser um catalisador desse processo de promoção da equidade de gênero e raça através de todas as ferramentas que a gente tem construído”, defendeu Ana Salla, ao passar a palavra para Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour, que falou sobre como o fórum pode ajudar as empresas a avançarem na agenda da diversidade. “Só por meio de discussão, diálogo é que vamos conseguir que haja o engajamento das empresas, e o engajamento só acontece quando existe o convencimento de que um problema está presente. Existe um tabu, um medo de se falar nesse assunto. E o fórum cumpre esse papel de colocar o assunto na pauta, de fazer com que a discussão aconteça. Não é suficiente somente a política pública, o ativismo das entidades representativas da sociedade civil. Se não tivermos esse tema dentro do modelo mental das empresas, a gente não vai conseguir fazer com que esse assunto caminhe”, declarou.
Já Cida Bento, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), abordou sobre os benefícios socioeconômicos que a diversidade traz para os negócios e direitos sociais. “Eu tenho defendido este espaço do fórum como um espaço de articulação política, como um espaço de incidência política, como um espaço de agregar valor a esse tema. Quantas lideranças hoje estão avançando nesse tema?”
Assessor sênior de Questões Globais do Institute for Human Rights and Business, Salil Tripathi contou como as empresas britânicas têm lidado com a questão da promoção da diversidade. “As iniciativas de gênero têm que ser observadas às vezes por baixo da estatística. Na Inglaterra, as pessoas acham que 53% das decisões de etnicidades são importantes, mas a maioria dos CEOs não valoriza a diferença étnica. Agora nós temos treinamento, ensinando as empresas sobre o fato de que discriminação existe e como nós podemos eliminá-la”, disse, ao lembrar que a Inglaterra é um país multiétnico.
Por Júlia Ramos, para o Instituto Ethos.
Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes