O Instituto Ethos realizou em 16 de julho, na I Semana do Clima da Amazônia, dois painéis de diálogo em Belém (PA). As discussões focaram na responsabilidade das empresas no desenvolvimento dos territórios e nos caminhos para uma nova governança empresarial. Os eventos, parte da programação autogerida da Semana do Clima, visaram aprofundar a compreensão sobre a sustentabilidade e integridade nas práticas corporativas. 

Painel: Integridade Socioambiental: Caminhos para uma Nova Governança Empresarial 

Realizado no Instituto Tecnológico Vale (ITV), teve como objetivo a reflexão sobre o conceito emergente de integridade socioambiental, que expande a visão tradicional de integridade para incluir aspectos de justiça ambiental, direitos humanos e impactos sociais e climáticos nas empresas e suas cadeias produtivas. Marcela Greggo, Coordenadora de projetos de Integridade, Transparência e Combate à Corrupção no Instituto Ethos, foi a moderadora. 

Participaram do painel: 

Na introdução, Caio, do Instituto Ethos, contextualizou o evento como um espaço para “diálogos improváveis” e aprofundamento do conceito de integridade corporativa, essencial para compromissos com a transição energética e a redução de impactos.  

Roberta Carneiro, do IBGC, enfatizou que a incorporação de questões sociais e ambientais na gestão de riscos de integridade é fundamental. Ela destacou que a atenção a esses riscos deixou de ser apenas um diferencial competitivo para se tornar uma condição essencial para a sobrevivência das organizações a médio e longo prazo. Para que isso ocorra, Roberta ressaltou a necessidade de as empresas combaterem o negacionismo através do conhecimento e considerarem a gestão de riscos a partir de uma lente transversal.  

Marcelo Pontes Vianna, da CGU, explicou a evolução da atuação do órgão para além da punição, focando na indução de integridade. A criação da Secretaria de Integridade Privada em 2023 expandiu o entendimento de “empresa íntegra” para além da ausência de corrupção, incluindo o impacto social e ambiental. A CGU orienta as empresas por meio de guias e recomendações, e reconhece boas práticas com o Programa Empresa Pró-Ética, que agora incorpora critérios socioambientais e exige evidências da prática. Marcelo também destacou o lançamento do Pacto Brasil, uma iniciativa que democratiza o acesso a conceitos de integridade, oferecendo um sistema de autoavaliação para empresas de todos os portes. O Brasil, segundo Marcelo, posiciona-se na vanguarda internacional nessas discussões, influenciando fóruns como a ONU e a OCDE. 

Pâmella De-Cnop, da Alcoa Brasil, apresentou a forma como a empresa aborda a integridade em sua cultura operacional. A Alcoa estabeleceu uma diretoria de sustentabilidade com o mesmo nível hierárquico do CEO, e aspectos socioambientais e de sustentabilidade estão incluídos nas metas de todos os executivos. Os riscos de direitos humanos e socioambientais recebem a mesma prioridade que os riscos operacionais, sendo levados à alta decisão da empresa. A Alcoa atua na Amazônia, no município de Juruti, onde mantém um relacionamento contínuo com comunidades tradicionais, e tem em seu programa Juruti Sustentável um exemplo de diálogo e cocriação com mais de 158 comunidades. A iniciativa gerou a criação do Instituto Juruti Sustentável (IJUS) e o banco comunitário Banjus para microcrédito. A Alcoa busca um olhar sistêmico, onde a operação se conecta ao desenvolvimento regional, utilizando, por exemplo, mudas e sementes das comunidades locais para reabilitação de áreas, gerando renda. A diretora ressaltou a importância de ouvir a comunidade para entender o desenvolvimento que ela deseja, respeitando suas origens e modos de vida.  

Painel: A Responsabilidade das Empresas no Desenvolvimento Sustentável no Território 

Realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), este painel teve como objetivo discutir como as empresas podem atuar de forma responsável, promovendo direitos, inclusão social e valor compartilhado, enquanto respeitam os modos de vida locais. A moderação da conversa esteve a cargo de Patricia Garrido, Líder de Projetos e Serviços do Instituto Ethos. 

O debate contou com a participação de: 

José Ivanildo Brilhante enfatizou que, para as populações extrativistas, a floresta é “nossa casa, nosso emprego, nosso negócio”. Ele destacou que a presença de grandes empreendimentos, embora possa trazer oportunidades, intensifica a pressão sobre as comunidades e seus modos de vida, podendo resultar em impactos negativos. A economia da floresta é plural e não se adapta facilmente à produção em larga escala, exigindo um tempo de uso socialmente consciente e sustentável. O principal desafio reside na compreensão dessa dinâmica e na necessidade de legislação diferenciada para o uso racional dos recursos, que muitas vezes opera de forma informal e invisível. 

Eugênio Pantoja, da Hydro, reconheceu que a mineração causa impacto, e a estratégia da empresa foca na redução desses efeitos, buscando ir além das obrigações legais, por meio de uma abordagem de natureza positiva e regeneração de ecossistemas. A Hydro mantém metas claras de descarbonização e investe em transição energética. Ele ressaltou a importância do diálogo e engajamento direto com as comunidades, mencionando a atuação com comunidades quilombolas e a implementação do programa de 10 anos “Corredor de Desenvolvimento Sustentável”, com uma equipe técnica qualificada para compreender a cosmovisão local e respeitar a diversidade sociocultural. 

Tainah Fagundes, da DaTribu e Assobio, abordou o fortalecimento das cadeias produtivas locais, com foco em mulheres, juventudes e populações amazônicas. Ela destacou a busca por relações horizontais e a valorização de tecnologias sociais ancestrais, ressaltando que a Amazônia não necessita de “descobertas”, mas de criação de mercado e demanda para seus produtos. Apontou para a necessidade de transcender a informalidade e combater a percepção preconceituosa de que os povos da floresta são “preguiçosos”. 

Carlos Demeterco, da GIZ, compartilhou aprendizados sobre a conexão entre as cadeias da sociobiodiversidade amazônica e os mercados, público e privado. Ele refutou a ideia de “preguiça” atribuída aos povos da floresta, evidenciando o árduo trabalho diário para o sustento. A GIZ, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o ICMBio, atuou na elaboração de diretrizes para relações comerciais mais justas entre empresas e comunidades, baseadas em corresponsabilidade, respeito, transparência e participação. Uma publicação sobre o tema está disponível para download. 

Reflexões Finais e caminhos para o futuro 

As discussões dos painéis convergiram para a urgência da ação frente à crise climática. A necessidade de elevar a régua da regulação foi apontada, taxando quem polui e fortalecendo políticas públicas. A integridade foi definida como indivisível e inegociável, não se limitando ao combate à corrupção, mas abrangendo a ética nas interações com a sociedade e o planeta.  

Foi ressaltada a importância da participação de todos os atores (governo, setor privado, sociedade civil e academia) para enfrentar os desafios complexos e garantir a perenidade dos negócios e a proteção dos territórios. A Semana do Clima da Amazônia, que teve em Belém sua primeira edição itinerante, busca fortalecer a região como ator estratégico nas discussões globais sobre mudanças climáticas e o futuro do planeta. 

Os debates serão continuados na Conferência Ethos 2025, a ser realizada em São Paulo nos dias 12 e 13 de agosto, com inscrições gratuitas.