Por: Analítica Comunicação
Que tipo de Inteligência Artificial (IA) queremos que opere no nosso futuro? Esta pergunta foi a tônica do encontro Conversa com Lideranças: Por uma Inteligência Artificial Ética, Responsável e Inclusiva – o papel das empresas, promovido pelo Instituto Ethos nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, na manhã de terça-feira, 7 de outubro.
“Estamos vivendo um tempo em que a IA não é mais uma promessa distante, mas uma realidade presente em decisões que afetam o trabalho, o consumo, a vida das pessoas e a própria democracia”, afirmou o diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, na abertura do evento. “Queremos uma IA que reproduza as desigualdades, ou uma que nos ajude a construir um futuro de justiça, diversidade e sustentabilidade? Para o Instituto Ethos, a resposta passa pela ética, pela responsabilidade e pela inclusão”, declarou, antes de convidar a conselheira do Instituto Ethos Benilda Brito, a sócia líder de Risk Transformation da PwC Brasil, Denise Pinheiro, o diretor de Tecnologia em Soluções de Mídias da Globo, Fábio Viviane Ferraz, e o diretor de Impacto Global da PERA Complexity BV, Valdemar de Oliveira Neto, o Maneto, para tomar parte do debate.
Para Maneto, a necessidade de pensar a introdução da IA nas empresas tem impacto nos modelos de negócios, na força de trabalho e na gestão de riscos. “São vários níveis de impacto, e a única maneira de entender as implicações éticas, políticas e sociais se dá por meio de mecanismos robustos de governança, o que exigirá uma cultura empresarial mais ágil, aberta e dialógica”, projetou.
Na mesma linha, Fábio Ferraz observou que a própria política de governança nas empresas tem passado por transformações marcadas pela descentralização. “Antes de pensar na governança é preciso pensar na cultura interna. No caso da IA, temos que implementar uma cultura que faça com que cada um possa se responsabilizar pelo uso que faz da ferramenta de inteligência artificial”, afirmou.
Educação e conscientização
Denise Pinheiro informou que, ante esses desafios, a PwC criou um comitê de transformação digital e IA, uma vez que o atual estágio do desenvolvimento de inteligência artificial permite a utilização da ferramenta em todos os processos e atividades.“Essa democratização também passa pela governança, pois requer um engajamento maior e uma necessidade de promover educação e conscientização para a cultura da inovação e as melhores práticas de utilização”, pontuou. Por isso, relatou, que o comitê foca na capacitação para o uso dessas ferramentas com responsabilidade.
Referência na luta antirracista, Benilda Brito defendeu que, se não quisermos que a IA reproduza e aprofunde as desigualdades históricas da sociedade, é preciso olhar para onde nascem as decisões e a alimentação de dados dessas ferramentas. “Se queremos um futuro menos desigual, devemos disputar o projeto agora com quem decide e com quem é impactado. O caminho é participação real, testes com recortes e coragem de corrigir quando necessário”, afirmou.
O diretor-presidente do Instituto Ethos ponderou que as empresas têm um papel central neste caminho. “Uma IA ética é aquela que gera valor compartilhado para as pessoas, para o planeta e para o próprio negócio”, defendeu Magri. “Não basta apenas adotar tecnologias de ponta, é preciso orientar a inovação pelos princípios da integridade, da diversidade e da sustentabilidade“.
Empregabilidade
Outro tópico abordado na conversa foi o impacto do advento da IA na empregabilidade. Fábio Ferraz afirmou que atividades que envolvem criação sempre dependerão do ser humano, sendo a inteligência artificial uma auxiliar. Pontuou que, no entanto, o impacto será mais forte em determinados setores. “É necessário que as empresas promovam a capacitação, para que seus profissionais estejam aptos a atualizar suas funções dentro da nova lógica de produtividade”, disse.
Benilda insistiu na importância de uma adequação das novas tecnologias a um compromisso com a inclusão. “IA é ferramenta, e não destino. Nenhuma tecnologia existe sem gente. Por trás de cada código, de cada dado ou decisão ainda estão os seres humanos”.
Para Maneto, três grandes ondas tecnológicas (da IA, da robótica inteligente e da computação quântica) provocarão mudanças determinantes no mercado de trabalho nas próximas décadas, gerando um índice de desemprego estrutural na faixa dos 50%, com incidência maior inicialmente nos níveis mais altos, como cargos técnicos, administrativos e superiores. “A gente ainda não consegue ter consciência da velocidade e da violência com que esse processo virá”, disse, prevendo que será necessário repensar o sistema tributário e os mecanismos de distribuição de renda. “Eu espero que esta reformulação esteja vinculada à emergência de uma economia do cuidado e a um pacto por padrões mínimos de qualidade de vida”.
Ao encerrar o encontro, Caio Magri avaliou que foi dado um passo importante na discussão do tema e na adoção de práticas inovadoras e responsáveis por parte das empresas. Ele informou que o Instituto Ethos promoverá uma mobilização junto as empresas para uma ação coletiva visando à aplicação de boas práticas no uso de IA e planeja elaborar um guia para apoiar essas ações. “Ainda deixamos em aberto um tema importantíssimo: a regulação e a criação de regras que definam os princípios e limites da utilização dessas tecnologias”, disse, afirmando que a Conferência Ethos no ano que vem pautará este assunto.