Empreendedores e ativistas discutem a situação dos jovens negros no Brasil, vítimas de violência, discriminação e exclusão de espaços de poder.

Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no Brasil. O número chocante divulgado em meados deste ano pela CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens aponta que a cada ano mais de 23 mil negros entre 15 e 29 anos morrem por causa da violência. O assunto foi tema do painel “Juventude negra: genocídio e luta por uma vida digna” durante a Conferência Ethos 360º.

“A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente deixou clara a transição que há da infância para a adolescência aos 12 anos. Porém, quando vemos notícias que tratam jovens ricos como adolescentes e jovens pobres como ‘menores’, percebemos que essa transição não se deu para todos”, argumenta Daniel Teixeira, coordenador de Projetos do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). Ele lembrou que o número de jovens negros mortos no Brasil chega a ser maior do que o de massacres ocorridos durante guerras como o que houve em Srebrenika em 1995, quando cerca de 8 mil bósnios muçulmanos foram executados pelas forças sérvias. “O que acontece no Brasil tem caráter de genocídio”, afirma ele.

Ativista da Articulação Política de Juventude Negra, Samoury Mugabe ressaltou que a sociedade brasileira sempre deixa os jovens negros à margem. “Para ter uma ideia disso, basta notar que os lugares mais perigosos para um jovem negro e pobre não estão na periferia e sim nas zonas nobres. Se ele for assassinado lá, ninguém quer saber o porquê. Se o policial diz que ele rouba ou mata, ninguém vai verificar”, diz Samoury.

Membro da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), Juliana Gonçalves pondera que a polícia não tem uma cartilha de como exterminar a juventude negra, mas diz que o racismo está expresso em outras formas, como quando suspeitos são associados com pessoas negras em peças de comunicação. “As mães dizem para seus filhos negros não andarem na rua de capuz porque eles podem ser abordados como suspeitos pela polícia. Não dá para negar que há um projeto para o Brasil pensado para embranquecer a população”, argumenta ela.

O contraponto para essa realidade são iniciativas que procuram empoderar e apresentar oportunidades para a juventude negra. Realizada há 15 anos e considerada a maior feira de cultura negra da América Latina, a Feira Preta é um exemplo de evento que estimula o empreendedorismo étnico na economia nacional. “Uma pesquisa recente do Sebrae dá conta de que os negros já representam mais de 50% no universo de empreendedores. E é importante notar que hoje a juventude negra empreende por oportunidade”, afirma Adriana Barbosa, empreendedora do Negócio Social Feira Preta.

 

Por Adriana Carvalho, para o Instituto Ethos.

 

Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes