Desafios e benefícios do incentivo ao modal a pé é tema de mesa oferecida pela Fundação Friedrich Naumann

Como as discussões sobre a caminhabilidade nas cidades se conectam com outras discussões como edificação, direito à cidade, segurança pública e democracia, extrapolando a mobilidade urbana? Este foi o mote da discussão da mesa “Acessibilidade e caminhabilidade: os diferentes aspectos da segurança de pedestres e ciclistas”, oferecida pela Fundação Friedrich Naumann, que aconteceu na Conferência Ethos 360° edição do Rio de Janeiro.Participaram da mesa, Felipe Saboya, do Instituto Ethos; Clarisse Linke, do ITDP; Washington Farjado, do Instituto do Patrimônio Mundial do Rio de Janeiro e Paula Santos, do WRI – Cidades Sustentáveis.

Por caminhabilidade ou andabilidade entende-se as facilidades ou dificuldades encontradas pelas pessoas para realizarem deslocamentos a pé. Este conceito está associado, em sua maioria, com a qualidade das calçadas, sua largura e os espaços verdes. Contudo, não são só estes aspectos envolvidos na caminhabilidade nas cidades. Como observou Clarisse Linke “Falar de caminhabilidade é falar do desenho urbano, é repensar o modelo de cidades modernas focadas no deslocamento com o carro. Para promover a caminhabilidade, é preciso observar e trabalhar diversos aspectos como a velocidade dos carros, o fluxo dos veículos, as edificações no caminho. Todos estes fatores interferem na forma como as pessoas caminham pela cidade e como elas se sentem. Por exemplo, se ela está transitando por uma rua toda murada, como a de um condomínio fechado, é provável que ela se sinta menos segura, o que faz com que os pedestres se afastem desta rota”. Para a palestrante, falar em caminhabilidade “é restaurar a lógica original das ruas, que não eram desenhadas para os carros, é repensar o espaço público como espaço de convivência. ”

Sobre a discussão da caminhabilidade e a sua relação com o espaço público nas cidades, não se trata apenas uma questão de mobilidade é também uma questão de ocupação do espaço público, de integração entre a população dos bairros e de direito à cidade. Washigton Farjado observou que “a discussão sobre a caminhabilidade ou andabilidade suscita novos caminhos quanto a participação e democracia. Estas questões e decisões precisam ser tomadas de forma mais democrática, mais participativa. Estas reflexões devem ser feitas a partir do espaço público, da usabilidade, da qualidade deste ambiente que é também de cidadania, das nossas práticas democráticas. ”

Como visto, os desafios da mobilidade urbana são diversos e atingem diferentes esferas de decisão sobre o setor público. Para entender estes desafios de diferentes cidades brasileiras, o WRI realizou uma pesquisa que foi apresentada por Paula Santos, na ocasião do evento.  O objetivo da pesquisa é entender quais os principais desafios para fomentar mobilidade ativa nas cidades e quais ações já tinham sido implementadas e estavam dando certo. Após o levantamento, o estudo propôs 20 ações para melhorar a mobilidade ativa nas cidades, das quais Paula destacou 3:

  1. Reduzir a velocidade dos veículos: mais segurança e menos trânsito;
  2. Criação de instrumentos para criação de fachadas ativas:  fachada de prédios transparentes aumentam a sensação de segurança;
  3. Tornar pública a gestão das principais calçadas: os cidadãos têm que participar da gestão dos caminhos por onde passam.

Ao final, os palestrantes apresentaram três grandes razões para as cidades investirem em mobilidade urbana, em especial na caminhabilidade:

  1. Saúde pública: diminuição da emissão de poluentes e incentivo a atividades físicas;
  2. Mudança climática: não emissão dos gases do efeito estufa;
  3. Segurança pública: mais pessoas nas ruas e nos espaços públicos possibilitam maior sensação de segurança.

Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos

Foto: Thais Berlinsky