Projeto Negócios Sustentáveis apresenta o resultado do trabalho feito em 2014: um modelo de negócio de micro e minigeração de energia solar.

Por Henrique Lian*

No último dia 9 de dezembro, o grupo de empresas ativadoras e os shapers do projeto Negócios Sustentáveis – Transformando Ideias em Projetos Inovadores reuniram-se na Casa do Saber, em São Paulo, para o quinto encontro do grupo. Um momento especial, quando se apresentou o resultado do trabalho realizado durante o ano: a elaboração de um modelo de negócio de micro e minigeração distribuída de energia solar.

Esse modelo foi discutido e finalizado na reunião do grupo ocorrida em agosto. Sua primeira apresentação pública se deu na Conferência Ethos 360º, em setembro. No mês seguinte, o Ethos participou do Fórum Lille de Economia Responsável, na França, e, entre outras atividades, mostrou aos participantes do evento o modelo desenvolvido pelo projeto. Nesse grande encontro, em que foram discutidas muitas propostas de negócios sociais e sustentáveis, ele foi considerado bastante arrojado e inovador, tanto pelo plano de negócios quanto pela metodologia de trabalho adotada.

O que é microgeração distribuída

Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a resolução 482, que estabeleceu as condições para a geração renovável de pequeno porte, permitindo, na prática, que os brasileiros deixem de ser apenas consumidores de eletricidade e passem a ser também produtores, com descontos na conta de luz.

Desde então, pelo menos 130 sistemas de micro ou minigeração de energia renovável vêm sendo ligados às distribuidoras, um número importante mas bem abaixo do potencial.

Você sabe o que é micro e minigeração de que fala a resolução da Aneel?

Trata-se de um sistema já adotado em muitos países, denominado, de modo geral, sistema de compensação de energia elétrica. Nele, um cliente de energia elétrica instala pequenos geradores (painéis solares, por exemplo) em sua unidade consumidora (que pode ser a residência, o escritório, a fazenda, um edifício comercial) e a energia gerada é injetada na rede da distribuidora que fornece luz para a localidade. Esses quilowatts são contabilizados e compensados na fatura do cliente.

Para ser considerada “microgeração”, a central geradora deve ter potência menor ou igual a 10 kW. Para ser “minigeração”, a potência gerada deve ser entre 100 kW e 1 MW.

O modelo do projeto Negócios Sustentáveis

Para a construção do business plan, o grupo testou, durante os Laboratórios de Design e Estúdios de Modelagem, uma série de modelos no Canvas (ferramenta que permite desenvolver e esboçar planos de novos negócios), definindo micro e minigeração distribuída de energia solar como o tema mais viável.

Para impulsionar esse segmento, o modelo elaborado pelo projeto Negócios Sustentáveis mostra o “caminho das pedras” para a instalação de um sistema de microgeração não residencial. Nesse caso, o objetivo é atender a demanda de empreendimentos de pequeno porte, como cooperativas e produtores de alimentos orgânicos.

Simulador

O interessado nesse modelo não precisará acessar várias planilhas para ter ideia do custo e do retorno do projeto de microgeração que deseja adotar. Uma série de variáveis – mencionadas abaixo – foram transformadas em fórmulas matemáticas e algoritmos, condensados num simulador amigável, cuja resposta a perguntas simples contribui para o usuário definir o sistema ideal para o empreendimento. Cada cálculo feito está amparado por uma planilha de apoio. Os números fixos foram estabelecidos por pesquisas nacionais e internacionais. O simulador também ajuda a discernir se é melhor comprar energia alternativa no mercado livre, em vez de investir num projeto.

Seu modelo operacional leva em conta o contexto jurídico para a microgeração, que abrange o ambiente de contratação de energia (existência de leilões, preço médio do quilowatt/hora), linhas de financiamento existentes, os impactos sociais e ambientais, os ganhos tangíveis e intangíveis, a viabilidade logística e a integração com a estratégia da empresa.

A modelagem financeira considera preços de ativos, movimentos de mercado, comportamento dos agentes, retorno de portfolios e, notadamente, riscos e incertezas.

O input de dados oferece ao usuário a possibilidade de selecionar o modelo de contratação (entre livre e cativo), o consumo médio, o IBTDA/alavancagem, a área de cobertura (telhado) e a região (impostos locais). Como outputs, aparecem o modelo operacional, considerando tecnologia e fornecedores (EPC), o melhor caminho de contratação (entre livre, regulado e PPAs), o breakeven/payback e VPL, as linhas de crédito, o custo de capital e o quanto se pode gerar e/ou vender para a rede.

A partir de fevereiro, essa ferramenta estará disponível para download no site do Instituto Ethos (www.ethos.org.br).

Os próximos passos do projeto serão: desenvolver o plano de ação para 2015 e estruturar um plano de advocacy para diálogo com o regulador. Há fatores que podem tornar a microgeração uma alavanca para o desenvolvimento industrial, uma vez que o Brasil não produz painéis solares e pode começar a fazê-lo de forma inovadora e competitiva.

As empresas ativadoras do projeto Negócios Sustentáveis são Alcoa, CPFL, Fibria, IBM, Natura, Santander, Vale e Walmart.

* Henrique Lian é diretor executivo de Comunicação e Relações Institucionais do Instituto Ethos.