Queima de capital natural e expansão econômica estão diretamente relacionados à história do Brasil. Os desafios para quebrar esse ciclo são enormes.

Sergio Leitão, diretor de Relacionamento com a sociedade do Instituto Escolhas, esteve presente no primeiro dia da Conferência Ethos 2016 e expôs a necessidade de uma mudança de pensamento em relação a sustentabilidade e desenvolvimento econômico. “Precisamos quebrar o ciclo vicioso de que é preciso poluir para ter um crescimento econômico e criar um ciclo virtuoso em que o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente caminhem lado a lado”.

A base para o crescimento econômico do Brasil foi a exploração desenfreada de recursos naturais. No período da industrialização e desenvolvimentismo (1945-1964) imperava a crença “para crescer tem que poluir”, afinal, isso já havia sido feito pelos EUA e outros países que agora figuravam entre os grandes líderes econômicos. O Brasil abriu suas portas para todo tipo de atividade poluidora em busca do crescimento econômico. O capital natural explorado na sua máxima capacidade virou costume, parte de um comportamento histórico agora questionado.

O país busca mudar essa cultura e assumiu um compromisso global de produzir mais com menos emissões e menos consumo de energia. Para alcançar essa meta, é preciso criar bases para que a sociedade se organize de maneira diferente de como tem se organizado ao longo dos anos. O Brasil vive hoje uma crise econômica, mas quando essa crise passar o que será feito para restaurar empregos e diminuir desigualdades será determinante para o futuro do país. Se for feito como nos anos anteriores, priorizar o crescimento econômico a todo custo, sem levar em conta recursos naturais, a transição para uma economia de baixo carbono não será possível. E que indústria terá o Brasil se perder seus recursos naturais? Não existe crescimento econômico na contramão da economia de baixo carbono, os benefícios a curto prazo não compensam os problemas de longo prazo.

O receio que impera em alguns estudiosos do assunto é que o Brasil esteja ficando para trás nas iniciativas para a transição para a economia de baixo carbono, é preciso que o país se posicione com metas claras e ações efetivas, acreditando que é possível mudar para uma economia de baixo carbono sem abrir mão do desenvolvimento econômico.

“Temos que entender que chegou ao fim a era do triunfalismo do petróleo, mas o que irá imperar agora? Agricultura? Startups? Esse desenho ainda precisa ser feito com a nitidez que nos permita ver o Brasil que teremos daqui 20 ou 30 anos”, conclui Sérgio Leitão.

 

Por Letícia Paiva, para o Instituto Ethos.

 

Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes