O engajamento dos fornecedores sobre emissões e estratégias de mudanças climáticas mostrou-se ainda incipiente, informa relatório do CDP.
A integração das mudanças no clima às estratégias de negócios é algo presente nas empresas, porém, ainda é necessário um avanço significativo para que as ações de mudanças climáticas deixem de ser entendidas como táticas e passem a ser tratadas como estratégicas pelas companhias em todo o Brasil. É o que mostra o sumário executivo da edição 2014 do Programa CDP Supply Chain no Brasil, Gestão das Mudanças Climáticas na Cadeia de Valor: Desafios e Conquistas, lançado pelo CDP (anteriormente Carbon Disclosure Project), organização internacional que atua junto a empresas, investidores e cidades de todo o mundo para prevenir as mudanças climáticas e proteger os recursos naturais.
De acordo com o relatório, poucas empresas possuem iniciativas ativas de redução de emissões. Por outro lado, os setores de bens de consumo, financeiro, TI, serviços de telecomunicações e de utilidades se destacaram ao longo do ano por apresentarem percentuais maiores de redução.
O documento foi elaborado pelo CDP em parceria com a Gestão Origami, também responsável por implementar a metodologia de scoring do CDP para avaliar as empresas participantes do Programa Supply Chain no Brasil. Para tanto, foram analisadas as respostas de 140 fornecedores brasileiros à solicitação de 66 empresas-membros do programa em 2014, as quais representam US$ 1,3 trilhão em poder aquisitivo e incluem organizações como Ford, Unilever, Walmart, Banco Bradesco, Braskem e Marfrig, entre outras.
No que diz respeito às metas de redução de emissões, 64% das grandes companhias afirmam não possuir metas ativas de redução de emissões. Já entre as pequenas e médias empresas, esse percentual sobe para 75%. No entanto, são os setores energético e de utilidades que se destacam pela maior propensão ao estabelecimento de metas de redução de emissões. O sumário identificou que o engajamento dos fornecedores sobre as emissões de gases de efeito estufa e estratégias de mudanças climáticas mostrou-se uma prática ainda incipiente, pois somente 13% das empresas de grande porte e 7% das de pequeno porte mostram algum tipo de envolvimento.
Os dados revelam ainda que a incerteza regulatória e a falta de medição e reporte das companhias tende a ser maior em empresas mais engajadas e com maior exposição às questões climáticas, como os setores já regulados pela legislação nacional. No entanto, para pequenas e médias empresas e setores que ainda não inseriram a gestão climática em seu negócio, falta a percepção de que o tema integra o negócio e pode ser aproveitado como uma ferramenta para atingir novos mercados e práticas mais sustentáveis.
Casos de sucesso
Em 2014, foram selecionadas três empresas – uma de grande porte, uma de médio porte e uma de pequeno porte – para a elaboração de um estudo de caso em parceria com o Insper, uma instituição de ensino superior e pesquisa. Esses fornecedores foram engajados no Programa Supply Chain por indicação de empresas-membros, com as quais formaram parcerias na cadeia de valor.
À medida que cresce a pressão por produtos e processos menos intensivos em carbono, a competitividade de uma companhia será determinada pela sua habilidade de medir, gerir, reportar e reduzir suas emissões de carbono, adaptando sua estratégia de negócio aos riscos das mudanças climáticas. Apesar de complexa, essa tarefa tem proporcionado às empresas e seus fornecedores ganhos de eficiência em processos, redução de custos e, consequentemente, um melhor desempenho econômico. É o que demonstram os casos do Grupo Libra Grupo (fornecedor da Braskem), da Mod Line Soluções Corporativas (fornecedora do Banco Bradesco) e da WEG (fornecedora da Marfrig).
Independentemente do porte da companhia, é possível integrar as mudanças climáticas à estratégia do negócio. Prova disso é o resultado final da avaliação da Mod Line Soluções Corporativas no Programa Supply Chain do CDP. A empresa, caracterizada como pequena ou média (SME), obteve score A– no que se refere ao critério de desempenho na metodologia do CDP, que avalia a integração das mudanças climáticas à estratégia de negócio e a redução significativa de emissões. Esta é a primeira vez que uma empresa obtém essa pontuação no Brasil. Das 3.396 empresas respondentes no mundo ao programa Supply Chain, apenas 121 alcançaram essa nota.
“Este é um exemplo concreto de que não importa o setor de atuação, o tamanho e a origem da companhia. Qualquer empresa pode se tornar protagonista na busca de melhorias em seus processos e operações e também em sua cadeia de valor, visando reduzir emissões e impactos no meio ambiente e na sociedade”, destaca Lauro Marins, gerente do Programa CDP Supply Chain Latin America.
Reconhecimento às boas práticas
O Programa Supply Chain é composto de um processo anual de aplicação de questionários, que resulta em informações dos fornecedores sobre mudanças climáticas, bem como estratégias de ação relacionadas com a água. Em 2014 foram convidadas 191 empresas que atuam no Brasil, sendo que 140 responderam ao questionário. O país é o terceiro maior em número de empresas convidadas/respondentes, atrás apenas dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Pela Redação da Envolverde/CDP