Prefeito de São Paulo anunciou a alteração de ciclofaixas para ciclorrotas, que não tem separação física entre veículos e bicicletas

No dia 20 de abril, o atual prefeito de São Paulo anunciou mudanças nas ciclofaixas da cidade de São Paulo. As principais são a retirada de algumas ciclofaixas na periferia da cidade e também a transformação de algumas ciclovias em ciclorrotas. Entenda AS diferenças entre ciclofaixa, ciclovia e ciclorrota na imagem abaixo:

O prefeito não mencionou quais seriam as faixas retiradas ou substituídas, mas disse que entre as que irão sofrer com modificações está a ciclofaixa da Rua da Consolação, importante rota de conexão para diversas partes da cidade de São Paulo. A mudança para as ciclorrotas faz com que veículos motorizados e bicicletas compartilhem a mesma via, o que pode interferir na segurança dos ciclistas. É válido lembrar que, segundo o Detran, os veículos motorizados devem estar a 1,5m de distância do ciclista por segurança. Com a alteração, surge outra preocupação: a questão do desestímulo a este modal vai na contramão das mudanças implantadas por outras cidades no Brasil e no mundo.

“Exemplos em outras localidades mostram: o que vem primeiro não é a bicicleta e sim a ciclovia. Ciclovia atrai bicicletas e pedestres e o estímulo ao transporte ativo só traz benefícios – diminuição da poluição do ar, mais interação de moradores com a cidade e mais bem-estar para todos. Retirar ou readequar rotas que hoje ainda são subutilizadas, principalmente em zonas de periferia, não favorece as ações propostas pela Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo”, explica Flavia Resende, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos.

Iniciativas de cidades brasileiras para incentivo de modais não motorizados têm sido implantadas, como é o caso de Fortaleza, no Ceará, que tem como objetivo se tornar a cidade mais ciclável do país e, para isso, tem investido na criação de vias para bicicletas, postos de bicicletas compartilhadas e políticas de integração entre os modais disponíveis.

O incentivo ao uso do transporte coletivo e a modais não motorizados, entre eles, a bicicleta, faz parte da Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo (Lei 14.9333/2009), focada na diminuição da emissão de gases do efeito estufa. Para fomentar este objetivo, a gestão Haddad implementou 400 km entre ciclofaixas e ciclovias e 420 km de faixas de ônibus. As medidas também visam atender os objetivos do Plano Diretor da cidade, em que um dos focos é melhorar a mobilidade em São Paulo, que está entre 15 cidades com mais trânsito no mundo. O investimento em transporte público e veículos não-motorizados são soluções recomendadas para as grandes cidades que, em sua maioria, sofrem com o problema no trânsito, como é o exemplo de Nova York que além de incentivar o uso de bicicletas com a criação de ciclofaixas e ciclovias, também diminuiu a velocidade das vias.

O prefeito João Dória foi criticado por cicloativistas tanto pelas mudanças, quanto pela falta de diálogo com a sociedade. “Isto é, no mínimo, preocupante e, para as políticas públicas de mobilidade urbana, ilegal, pois a Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587 de 2012) obriga as prefeituras a processos participativos para a gestão das políticas de mobilidade”, aponta, em nota, a Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade).

Outras mudanças na questão da mobilidade também já haviam sido questionadas, entre elas, o aumento da velocidade nas marginais, que vai na contramão das pesquisas e dos resultados já experimentados por outras grandes cidades no mundo e que também já demonstra resultados negativos. O número de multas caiu 57%, em compensação, o número de atendimentos realizados pelo SAMU nas marginais cresceu 700%.

A avaliação é de que as medidas anunciadas podem ser prejudiciais para as mudanças na mobilidade e na emissão dos gases do efeito estufa. “Deliberações a serem implementadas na cidade de São Paulo devem estimular o aumento das ciclovias e da segurança das mesmas”, conclui a coordenadora do Ethos.


Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos

Foto: Via Trolebus